História da Igreja Vol II
Igreja
HISTÓRIA DA IGREJA
Volume II
I - A EXTENSÃO DA REFORMA
A excomunhão de Lutero em nada
afetou-lhe o ímpeto de reformador; ela contribuiu, sim, para dar maior
dinamismo à sua pena e mais calor a seus sermões. Livros e mais livros foram
escritos, através dos quais, eram lançadas chamas do Evangelho sobre corações
sequiosos através da Alemanha e países vizinhos. Foi nesse clima de euforia que
a partir de 1520 os ensinos reformistas de Lutero dominaram rapidamente aquela
parte do mundo.
A maioria dos monges, antes
indiferentes ao que ocorria fora dos conventos, deixou seus claustros para
pregar as Boas Novas do Novo Testamento. Nesse tempo, não poucos sacerdotes
romanos tornaram-se luteranos, sendo o exemplo deles seguido por muitos dos
fiéis de suas paróquias. Também, não poucos bispos fizeram o mesmo. Muitos humanistas
famosos dedicaram sua cultura propagando e defendendo esta nova expressão do Cristianismo.
A Reforma, já fora dos limites
da Alemanha, estava produzindo considerável alteração no modo de vida do povo
em outras regiões da Europa. Deixou de ser um movimento de conotação
simplesmente anti-papal, para tornar-se num dos maiores avivamentos religiosos
da história da Igreja. Surgiram também, logo depois muitos outros movimentos
reformistas, paralelos, destacando-se precisamente na Suíça, França, Escócia e
Inglaterra, sobre os quais trataremos de forma detalhada a seguir.
II - ZUÍNGLIO E A REFORMA NA SUÍÇA
A Suíça do Século XVI era uma
confederação de treze pequenos Estados, chamados "cantões", formado
por um povo de espírito patriótico e amigo da democracia. Mas, como em outros
lugares da Europa, a Igreja tinha ali, sobre si, o monopólio
político dos governantes e as diretivas
religiosas do papa de Roma. Mas o povo não
estava satisfeito com o que acontecia, o que contribuiu para que a Suíça
tomasse novos rumos políticos e religiosos com a nova concepção da vida
resultante da Renascença.
Ulrico Zuínglio: Quando
Ulrico Zuínglio nasceu a 19 de janeiro de 1484, Martinho Lutero tinha apenas 52
dias de idade. Graças a influência do tio que era pároco em Wildhaus, vila onde
morava; Zuínglio conseguiu uma educação apurada, tendo chegado a estudar em
universidades famosas como as de Viena e de Basiléia. Teve como mestre, muitos
dos homens tidos como grandes expoentes do pensamento renascentista,
destacando-se entre eles o grande humanista, Tomás Wyttenbach, que lhe marcou a
vida por ensinar-lhe a Divina autoridade da Bíblia, a morte de Jesus Cristo
como o preço único do perdão e a inutilidade das indulgências. Não se tem
conhecimento de que Zuínglio tenha passado por uma experiência de conversão tão
dramática quanto a de Lutero. Sabemos, sim, que a sua atitude religiosa foi
sempre mais intelectual e radical que a de Lutero. Zuínglio tornou-se sacerdote
somente por haver outros clérigos na família.
Zuínglio e Suas Ideias
Evangélicas: Em Glarus, Zuínglio teve a sua primeira
paróquia. Foi aí que ele se aprofundou nos seus estudos das Escrituras à luz do
ensino reformista. Conta-se que quando o Novo Testamento grego de Erasmo veio à
luz em 1516, Zuínglio o tomou emprestado de um amigo, copiou à mão as epístolas
de Paulo e as lia constantemente. Residindo como sacerdote em Einsiedeln, lugar
onde iam muitos peregrinos, Zuínglio ficou profundamente triste e revoltado com
o espírito de idolatria, insensatez e superstições reinantes entre o povo
daquela cidade, alimentadas pela Igreja Romana. Comparando essas práticas
medievais com o ensino prático das Escrituras, ele inclinou-se gradualmente
para as verdades do Evangelho.
Em 1519, Zuínglio já era tido
por pregador notável, tendo pregado em Zurique, de onde sua fama se espalharia
por toda aquela região. Por esse tempo, foi acometido de grave enfermidade, que
em vez de fazê-lo esmorecer, aprofundou ainda mais a sua vida religiosa. Em
1522 publicou um livro através do qual, falava abertamente dos motivos do seu
afastamento da Igreja Romana.
Como toda grande causa tem
grandes inimigos, a causa de Zuínglio tinha seus, os quais não ficaram indiferentes
à grande ascensão do reformador. Por esse tempo, em virtude de distúrbios
provocados pelos inimigos de Zuínglio, foi convocado o Concilio de Zurique, que
se propunha pôr fim a controvérsia religiosa. Após demorado e caloroso debate,
Zuínglio fez uma declaração de fé de acordo com os princípios fundamentais da
Reforma: o sacerdócio universal de todos os Cristãos. A declaração de Zuínglio
enfatizava principalmente que:
1) Os homens são salvos por Deus por meio
da fé em Cristo;
2) Exaltou a autoridade da Bíblia;
3) Atacou a
autoridade do papa, a missa e o celibato do clero. No final do Concilio, a
causa de Zuínglio era declarada vitoriosa, e assim, a Suíça rompia
definitivamente contra a Igreja de Roma.
A Extensão da Influência de
Zuínglio: De Zurique, o quartel da reforma da Suíça, a influência de
Zuínglio se espalhou rapidamente por todo o país. Graças a essa influência, em
cada região da nação surgiram outros destacados líderes para o movimento. A
influência de Zuínglio também se estendeu pelo sul da Alemanha. Foi assim que
surgiram dois aspectos da Reforma, lado a lado: o de Zuínglio e o de Lutero.
Desacordo Entre Lutero e Zuínglio: Depois do histórico
protesto de Espira, em 1529 (daí vem a palavra protestante). Tornou-se evidente
que mais cedo ou mais tarde, os protestantes teriam de lutar em defesa da sua
fé. Partindo desse pensamento, grande esforço foi feito com o propósito de
juntar luteranos e zuinglianos de todo o interior da Alemanha e Suíça, com o
propósito de formarem uma liga defensiva, contra possíveis ataques da igreja
papal. Por essa razão fora marcada uma conferência entre os dois líderes,
Lutero e Zuínglio. Para a formação dessa Liga, necessário se fazia que houvesse
harmonia doutrinária entre ambos, o que não foi possível. Eles concordaram em
catorze dos quinze artigos que definiam os assuntos básicos da fé cristã, mas
diferiam na doutrina da Santa Ceia. Lutero continuava defendendo o princípio de
que "o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo" eram
recebidos pelos comungantes ao lado do pão e do vinho, enquanto que Zuínglio
defendia o ponto de vista de que o sacramento é um memorial da morte do Senhor
e que a sua presença é unicamente espiritual. Aqui teve início a primeira das
grandes divisões do protestantismo nos ramos "Luterano" e
"Reformado".
Embora não tivesse se
destacado tanto quanto Lutero, Zuínglio foi visto também como um servo fiel e
destemido, e um líder nobre e sábio que deu inspiração ao seu povo. Realizou um
trabalho permanente para a causa do cristianismo em seu país.
III - CALVINO E A REFORMA EM GENEBRA
A 10 de julho de 1509 em
Noyon, na Picardia, França, nasceu João Calvino, filho de Gerard Calvin e
Jeanne le Franc. Calvino tinha apenas três anos de idade quando sua mãe morreu.
Calvino teve a sua infância em dias em que a Igreja Romana e suas crendices
tinham forte influência sobre o povo. Naqueles dias o povo se dispunha a crer
em qualquer coisa absurda. A Igreja dizia possuir como relíquia, alguns cabelos
de João Batista, um dente do Senhor, um pedaço de maná do Velho Testamento,
algumas migalhas que sobraram da primeira multiplicação dos pães, e alguns
fragmentos da coroa de espinhos usada por Jesus. Diz-se que em Noyon não se
podia falar três palavras sem a interrupção de um sino.
Destinado ao sacerdócio,
Calvino foi enviado a Paris quando tinha apenas quatorze anos de idade, para
realizar os estudos preparatórios para a sua carreira eclesiástica. Cinco anos
depois, o pai decidiu que o filho estudasse Direito, o que fez em Orleans e em
Bourges. Falecendo o pai em 1531, Calvino resolveu seguir sua própria vocação:
enveredar pela cultura das letras. Assim foi a Paris a fim de estudar sob a
direção dos mais eminentes humanistas da época.
A Conversão de Calvino: Quando,
onde e como Calvino se tornou protestante, não se sabe ao certo. Sabe-se, no
entanto, que sua mudança resultou dos novos estudos e dos ensinos de Lutero.
Declarou-se protestante em 1533, e, ao fim daquele ano, acompanhado de outros
protestantes, teve de fugir de Paris, em virtude de forte e violenta
perseguição. Esteve por três anos em Basiléia onde escreveu o livro A
Instituição Cristã, pelo que foi honrado como um dos mais ilustres líderes
do Protestantismo. Esse livro era um tratado de teologia e declaração
sistemática da verdade cristã sustentada e defendida pelos protestantes e
destinado ao uso popular.
Calvino em Genebra: Genebra
tinha uma população de mais ou menos treze mil habitantes. Era socialmente
próspera, mas de baixo nível moral. Fazia pouco tempo que ali triunfara a
Reforma sob a liderança do famoso pregador de nome Guilherme Farel. A cidade
conquistara sua independência numa guerra contra seu bispo que era também um
senhor feudal. Foi assim que, por um edital de 27 de agosto de 1535, a religião
de Roma deixou de ser a religião de Genebra. A Reforma chegou a Genebra de mãos
dadas com a liberdade, liberdade da qual nenhum habitante da pequena cidade
estava disposto a abrir mão.
Não obstante o muito que já
tinha sido feito, Farel verificou que o que se tinha feito era apenas o início
da luta, e que a cidade necessitava urgentemente de uma obra de construção,
tanto no terreno moral como no religioso, tarefa, a qual ele considerou-se
incapaz de realizar. Perplexo sobre o que fazer, foi informado de que Calvino
estava na sua cidade, naquela noite. 0 mais rápido que pôde, Farel foi ao
encontro de Calvino e convidou-o a ficar em Genebra. Segundo Guilherme Farel,
Calvino era o homem que a cidade precisava, mas para seu espanto, Calvino não
demonstrou nenhum interesse em aceitar o convite para ficar em Genebra. Calvino
alegou estar muito ocupado com seus estudos e pesquisas, de sorte que não era
possível aceitar semelhante convite. Foi aí que, como num último e desesperador
apelo, o velho pregador disse a Calvino: "Digo-te, em nome de Deus
Todo-poderoso, que estás apresentando os teus estudos como pretexto. Deus te
amaldiçoará se não nos ajudares a levar adiante o Seu trabalho, pois doutra
forma estarias buscando a tua própria honra em vez da de Cristo!" O
reformador cedeu e ficou.
Diante do enfático apelo de
Farel, dias depois Calvino mesmo confessou: "Senti... como se Deus tivesse
estendido a sua mão do céu em minha direção para me prender... Fiquei tão
aterrorizado que interrompi a viagem que havia encetado... Guilherme Farel me reteve
em Genebra."
Decepções e Vitórias: Iniciadas
as suas atividades, em pouco tempo o trabalho de Calvino resultou em desastre.
Muita gente não estava com o coração predisposto à Reforma e a oposição dessa
gente resultou na expulsão de Calvino e de Farel. Saindo de Genebra, Calvino
esteve por três anos em Estrasburgo, pastoreando uma igreja protestante de
franceses exilados pelas perseguições. Enquanto isso as coisas em Genebra iam
de mal a pior. Nessa época, o povo que já conhecia a capacidade de Calvino
convidou-o a voltar à Genebra, apelo que ele atendeu, não sem relutância.
Benefícios da Obra de Calvino:
Por
sua obra em Genebra, Calvino alcançou três benefícios para o Protestantismo em
geral.
1) A vida moral da cidade foi um exemplo do que a fé transformada podia
realizar, e daí o poder de sua propaganda.
2) Genebra foi transformada na
cidade de refúgio para os perseguidos por causa da Reforma. Para esta cidade
livre, veio gente dos mais diferentes pontos da Europa, como seja: França,
Holanda, Alemanha, Escócia e Inglaterra.
3) Foi também um lugar de preparação
para os líderes do Protestantismo. Na sua Academia e no ambiente da cidade,
foram preparados ministros devotados, instruídos, que se espalharam como
missionários da Reforma, pelos países onde esta ainda não havia entrado. Muitos
dos refugiados voltaram aos seus países de origem, fortalecidos por sua estada
em Genebra e por seu contato com Calvino. Um deles foi João Knox.
IV - INFLUÊNCIAS REFORMISTAS NA FRANÇA
Embora Calvino estivesse
ausente da França há vinte e sete anos, era o líder ausente da Reforma na
França. Seus livros, principalmente A Instituição Cristã, e demais
ideias suas eram espalhadas como relâmpago por todo o país, as quais eram
aceitas e propagadas por humanistas franceses, os quais eram estudiosos das
Escrituras. Mas quando os livros de Lutero começaram a circular na França, foi
grande a perseguição levantada contra todos quantos defendiam os pontos de
vista de origem reformista. Em 1538 o rei Francisco I, decidiu mover forte e incessante campanha contra o
ensino reformado. Foi no ardor das perseguições que Calvino tornou-se o líder
mais eficaz do movimento protestante no país, dirigindo-o através de cartas e
por meio de jovens pregadores enviados de sua escola em Genebra. Não obstante o
sangue derramado e muitos mortos, a Reforma espalhou-se por quase toda a
França. Mas, só em 1559 foi organizada uma igreja protestante nacional.
Os Huguenotes: O
rápido crescimento da influência da Reforma na França, contribuiu para que
dentro de pouco tempo grande parte da aristocracia francesa fosse conquistada
pela Reforma. Estes grandes nobres, alguns príncipes de sangue real, não se
submetiam facilmente à perseguição, e começaram a falar de uma revolta armada.
Sob a liderança desses nobres, o movimento protestante tornou-se não somente um
movimento que visava a expansão das verdades do Evangelho, mas igualmente uma
luta contra o governo com o fim de alcançar a liberdade religiosa. Por essa
atitude os protestantes franceses ganharam o nome de "huguenotes".
"Huguenotes" foi a
princípio um apelido dado aos protestantes pelos católicos romanos. Sua origem
foi a seguinte: Os protestantes de Tours costumavam reunir-se à noite no portão
do palácio do Rei Hugo. O povo do lugar cria que o espírito do rei Hugo
perambulava durante a noite. Um monge dissera num sermão que os protestantes
deveriam ser chamados de huguenotes, que significa parentes de Hugo, porque se
pareciam com ele por andarem somente à noite.
A guerra rebentou em 1562,
sendo os huguenotes comandados pelo almirante Coligny e o príncipe Condé. Ambos
lutavam contra a tirania da rainha regente, Catarina de Médicis. Essa guerra
foi a primeira das oito "Guerras Religiosas" que durante mais de
trinta penosos anos, quase arruinaram a França. 0 partido católico-romano
estava decidido a lançar mão de todas as crueldades, como de fato o fez. Esse
partido era dirigido pelos jesuítas e pelo rei Filipe II, da Espanha.
A Noite de São Bartolomeu: 0
espírito do partido católico-romano manifestou-se no horrível massacre de São
Bartolomeu, em 1572. Num certo período de paz, muitos dos huguenotes dentre os
mais nobres da França reuniram-se em Paris para as cerimônias de casamento de
um dos seus líderes, Henrique de Navarra. Num ataque levado a efeito durante a
noite, por ordem de Catarina de Médicis, milhares de huguenotes, inclusive o
Almirante Coligny e muitos outros líderes, foram mortos. Rapidamente cerca de
setenta mil protestantes foram mortos em toda a França. 0 papa de Roma enviou
congratulações à Catarina e ambos se regozijaram pelo que fizeram aos
protestantes.
0 Edito de Nantes: Apesar
deste terrível golpe, os protestantes se reabilitaram e continuaram a luta até
1598 quando a guerra terminou com o célebre
Edito de Nantes, que concedeu ao Protestantismo um pouco mais de tolerância.
V - A REFORMA NOS PAÍSES BAIXOS
Os países baixos foram aqueles
territórios herdados por Carlos V, onde ele exerceu toda espécie de hostilidade
contra a influência da Reforma Protestante.
Quando as ideias luteranas
começaram a se difundir, Carlos V estabeleceu a Inquisição, que logo demonstrou
sua eficácia, condenando à fogueira em 1523 os primeiros mártires da fé
reformada. Apesar de mais de trinta anos de perseguição sob o comando de Carlos
V, o Protestantismo sobreviveu. A influência de João Calvino tornou-se evidente
através da obra dos missionários reformados, vindos da França e de Genebra. Em
1555, Carlos V foi sucedido por seu filho Filipe II na Espanha e nos Países
Baixos. Filipe II foi mais carola e cruel que seu pai. De tal sorte governou,
que em poucos anos muitos povos das províncias estavam dispostos à revolta
contra a tirania espanhola que estava esmagando a liberdade, levando todas as
riquezas dessas províncias para o reino espanhol e matando o povo por causa da
sua fé. Foi assim que a causa protestante identificou-se com a causa da
liberdade.
Guilherme de Orange: 0 líder
desse partido patriótico contra a tirania de Filipe II, era Guilherme, também
conhecido pela alcunha de Taciturno, príncipe de Orange, da Alemanha. Foi um
dos mais nobres amigos dos Países Baixos. Descobrindo que Filipe II estava
convocando tropas para esmagar qualquer resistência ao governo, Guilherme
retirou-se para a Alemanha, a fim de preparar-se para a guerra. Nesse ínterim,
conheceu a verdade evangélica e aceitou-a, dedicando-se muito ao estudo da
Bíblia. Este fato e a lembrança dos mártires que vira nos Países Baixos,
tornaram-no um homem profundamente religioso. Daí em diante, sua carreira foi
dominada pela convicção de que ele próprio era um instrumento nas mãos de Deus
para salvar seu povo adotivo da miséria e tirânica opressão espanhola.
A Guerra Contra a Espanha: Em
1567, a Armada Espanhola chegou aos Países Baixos, dirigida por aquele monstro
de crueldade que foi o Duque de Alba. A carnificina por ele promovida veio
enfraquecer irreparavelmente a causa da Reforma no sul e leste do país. No ano
seguinte, Guilherme começou a guerra de libertação. No início da guerra ele
compreendeu que sua causa não triunfaria no sul dos Países Baixos onde a
população protestante havia sofrido parcial aniquilamento pelas forças
espanholas. Essas províncias do sul vieram a formar a moderna Bélgica, país
católico-romano.
Vitória da Holanda: Foi
com os protestantes do norte dos Países Baixos que Guilherme alcançou o seu
objetivo. O momento decisivo da guerra deu-se quando o terrível cerco de Leyden
foi quebrado pelo rompimento dos diques, o que permitiu a invasão do mar e dos
navios de batalha dos marinheiros holandeses que atacaram as muralhas e as
defesas inimigas. Mesmo depois disto houve encontros desesperados, mas
Guilherme mostrou-se invencível no desejo de edificar uma nação livre. Embora
tombasse em 1548 pelas mãos de um assassino, seu exemplo inspirou a seu povo
"a sustentar a boa causa com o auxílio de Deus, sem poupança de ouro ou de
sangue." Esta nobre causa teve sua vitória final em 1609. Assim nasceu a
poderosa nação protestante na Holanda.
Os Arminianos: Ainda
no Século XVII surgiu uma profunda diferença teológica entre os protestantes da
Holanda. Alguns teólogos holandeses sublinharam, nos termos mais extremos, a
ideia calvinista, a ideia de que Deus predestina alguns para a salvação e
outros para a perdição, dando mais ênfase a isto do que o próprio Calvino.
Surgiu um partido que rejeitou esta ideia e afirmava que Cristo morreu por
todos os que creem Nele. Este partido foi chamado "arminiano" por
causa de Armínio que foi um dos seus líderes. Para resolver esta disputa
convocou-se em 1618 o Sínodo de Dort, cuja decisão contrariou os arminianos.
Mas o ensino destes foi vitorioso na Holanda e se espalhou por toda a
Inglaterra, e depois, na América.
VI - A REFORMA NA ESCÓCIA
A Escócia do Século XVI era um
reino independente. Seu clero católico tinha sido peculiarmente indigno e
incompetente. Por isto não surpreendeu que os ensinos da Reforma fossem ali
avidamente aceitos a despeito da disposição da Igreja Romana e do governo de
perseguir os pregadores da causa protestante.
João Knox: 0
maior líder da causa reformista na Escócia foi João Knox. Da sua vida passada
apenas sabemos que nasceu em 1515. Tornou-se sacerdote, foi tutor dos filhos de
algumas famílias nobres, e, depois, companheiro de George Wishart, um dos
mártires protestantes. De sua ousadia como pregador do Cristianismo reformado,
resultou em 1546, ser preso por uma força francesa que fora enviada para
auxiliar o governo escocês. Por dezenove meses suportou a "vida de
morte" numa das galés de escravos, na França. Passou depois vários anos na
Inglaterra onde destacou-se como notável pregador. Ao rebentar a perseguição no
reinado da rainha Maria, fugiu para Genebra onde se ligou inteiramente a
Calvino.
Knox Volta à Escócia: Enquanto
Knox achava-se no exílio, a Reforma prosseguia de alguma forma na Escócia, sob
a liderança de certos nobres conhecidos como os "Senhores da
Congregação". Quando Knox regressou em 1559 para assumir a direção do
movimento, encontrou-os prontos a lutar pela liberdade da fé, contra a rainha
regente. Dispondo de tropas francesas para lutar, ela teria alcançado a vitória
caso Knox não solicitasse auxílio a Cecil, secretário de Estado da rainha
Isabel que viu quanto era necessário ter uma Escócia protestante ao lado de uma
Inglaterra protestante. Em 1560 uma armada e um exército inglês expulsaram os
franceses em meio ao maior regozijo do povo escocês.
A Reforma Vitoriosa: O
campo estava livre para que Knox e seus companheiros de ideal entrassem em
ação. João Knox pregava frequentemente com extraordinária eloquência,
fortalecendo a causa reformista com seus argumentos poderosos. Tinha uma
profunda paixão pelas almas. Conta-se que um seu amigo o viu orando certa
noite, sempre repetindo "Senhor, dá-me a Escócia, senão eu morro”. Não
demorou para organizar uma Igreja reformada sob sua direção (Igreja Reformada
Escocesa). Auxiliado por outros ministros escreveu a nobre "Confissão
Escocesa". 0 Parlamento adotou-a como o credo da Igreja nacional,
rejeitando ao mesmo tempo a autoridade do papa e proibindo a missa. Foi ele
também o principal autor do "Livro da Disciplina", que traçava
uma forma presbiteriana de governo para a Igreja, seguindo o mesmo plano da
Igreja Protestante Francesa. Em virtude dessas medidas, reuniu-se neste mesmo
ano, 1560, a primeira Assembleia Geral da Igreja da Escócia.
Knox e a Rainha Maria: As
conquistas alcançadas tinham de ser defendidas. Em 1561, Maria, rainha da
Escócia, veio da França para reinar em sua própria terra, decididamente
resolvida a restabelecer o Catolicismo Romano. E quase alcançou seu objetivo.
Fracassou, devido parcialmente à sua própria perversidade e desatinos, o que
despertou geral indignação contra ela e por outra parte, por causa da atitude
decidida de João Knox. Contra a rainha e os nobres que a apoiavam, Knox
sustentou a bandeira da causa protestante, com o auxílio sempre crescente da
parte do povo. Em 1567, após a abdicação da rainha, a Reforma foi reconhecida e
confirmada pelo rei.
A Luta Pelo Presbiterianismo: Depois
de alcançada a vitória do Protestantismo na Escócia, surgiu a luta pelo
presbiterianismo. 0 filho da rainha Maria, Tiago VI, que veio a ser depois
Tiago I da Inglaterra, tentou introduzir bispos na igreja escocesa. Ela viu que
um governo eclesiástico presbiteriano nutriria e desenvolveria o espírito de
liberdade entre o povo. Igualmente, alguns nobres que se aliaram ao rei,
julgaram que a introdução de bispos na igreja lhes daria uma oportunidade de
ficarem com as terras dos bispos medievais. Foi nessa época que levantou-se André
Melville, ousado líder presbiteriano dos escoceses em decidida luta contra o
rei. Por causa dos seus esforços a Igreja Escocesa alcançou uma forma de
governo presbiteriano completa e que ainda não tinha sido plenamente alcançada
desde que surgira a Reforma.
VII - A REFORMA NA INGLATERRA
Muito antes do rompimento de
Henrique VIII com o papa, várias forças contribuíram para o preparo do povo
inglês a fim de receber a Reforma. A maior dessas forças foi a organização dos
"Irmãos Lollardos" que conservou vivos os ensinamentos de Wycliffe.
Além disso, havia a propaganda das ideias reformistas pelos humanistas, tais
como Colet, a disseminação dos livros e ensinos de Lutero em alguns lugares e a
circulação extensiva, embora proibida, do Novo Testamento de Tyndale, publicado
em 1525.
Henrique VIII: É
injusto afirmar, como muitos fazem, que Henrique VIII se revoltou contra o papa
só porque desejava uma esposa. Nesse episódio estavam envolvidas graves
questões de caráter nacional. Os estadistas ingleses muito se preocupavam com o
fato de não haver um herdeiro do sexo masculino para a sucessão da coroa do país,
que nunca conhecera o governo de uma rainha. Havia também certa dúvida quanto à
legalidade do casamento de Henrique VIII com Catarina, segundo as leis da
Igreja. Desse modo houve alguma justificação para o seu pedido ao papa, de
anulação de casamento; antes, porém, de fazer o pedido, Henrique colocou-se
numa situação indesejável por sua súbita paixão por Ana Bolena que era indigna
de ser rainha do povo inglês.
Quando o papa, por motivos
políticos, não atendeu ao pedido, Henrique, que jamais permitiria que alguém
lhe dobrasse a vontade, resolveu livrar a Inglaterra do domínio papal.
Conseguiu do Arcebispo de Cantuária uma declaração de ilegalidade e consequente
anulação do seu casamento com Catarina, e da legalidade do seu casamento com
Ana Bolena.
Por tal ato foi excomungado
por decreto papal. A resposta de Henrique foi dada através de um ato do
Parlamento em 1534, pelo qual se declarava "Chefe Supremo da Igreja da
Inglaterra" e por uma proclamação do clero que a ele se submetera, de que
o papa não mais teria supremacia na Inglaterra. O papa que o excomungou também
não foi nenhum santo: teve muitos filhos ilegítimos, como o prova a história.
Resultados da Atitude de
Henrique VIII: Nada tinha sido feito até aqui no sentido de
uma reforma real no terreno religioso. Quando Henrique morreu em 1547, a Igreja
da Inglaterra ainda conservava seu credo e princípios doutrinários romanistas.
De um modo geral a situação da Igreja coincidia com os pontos de vista dos
ingleses. Jamais eles obedeceriam a um bispo italiano no que se refere aos
negócios eclesiásticos da Inglaterra, contudo, muita gente conservava as
antigas ideias religiosas. A força dessas ideias, porém, tinham sido
enfraquecidas por dois acontecimentos ocorrido no reinado de Henrique. Uma
delas foi a ordem real para que cada Igreja tivesse uma Bíblia completa, de
grande formato, na língua inglesa e que fosse colocada onde o povo pudesse ler
com facilidade. A Bíblia usada pelo povo era principalmente da tradução feita
por Tyndale. Desde então, essa tradução tem sido a base de todas as Bíblias de
língua inglesa que apareceram posteriormente. Outro ato hostil contra a
religião medieval foi o fechamento dos mosteiros e o confisco das suas
propriedades.
Eduardo VI: O
reinado seguinte viu a Igreja da Inglaterra tornar-se rapidamente protestante
pela influência dos nobres que governaram no período da minoridade do rei
Eduardo VI. Dentro de cinco anos foram publicados um Primeiro e um Segundo
"Livro Comum de Orações", modificando o culto da Igreja de acordo com
as ideias da Reforma. O Parlamento decretou leis que exigiam que todas as
pessoas assistissem ao culto reformado. Enquanto isto, os ensinos da Reforma se
divulgavam entre o povo.
Maria: Surgiu,
então, tremenda reação liderada pela Rainha Maria. Seu único objetivo era fazer
a Inglaterra voltar ao que tinha sido antes de Henrique VIII, isto é, fazer a
Igreja de então voltar ao domínio da Igreja Romana. Com este propósito, anulou
todos os atos dos reis, seus predecessores. Atacou cruelmente o Protestantismo,
principalmente seus líderes. Entre as vítimas destacam-se o arcebispo Cramer e
os bispos Ridley e Latimer. A Inglaterra tornou-se consideravelmente muito mais
protestante após a morte da rainha Maria, em virtude da sua cruel batalha para
tornar o país católico romano.
Isabel: A
sucessora da rainha Maria, Isabel, desde cedo demonstrou seu propósito de
seguir o Protestantismo, pelo que muito contribuiu para a formação de uma Igreja
nacional protestante. Foi organizado também um "Livro Comum de
Orações" ainda hoje adotado sem modificações substanciais. Com sua Igreja
protestante e seu rápido desenvolvimento político e econômico, a Inglaterra
tornou-se um dos principais baluartes da causa protestante na Europa, e,
depois, em outras partes do mundo.
VIII - OS ANABATISTAS
Além dos luteranos e
reformados, surgiu um terceiro movimento reformador conhecido como
"Anabatista". O ideal deles era organizar sociedades de Cristãos
verdadeiramente convertidos, em bases voluntárias. Essas sociedades seriam
santos agrupamentos, seguindo os ensinamentos do Novo Testamento e
particularmente o Sermão do Monte. Nelas seria reproduzido o modo de viver dos Cristãos
primitivos. Não lançariam mão da força; portanto não iriam à guerra nem
exerceriam cargos civis. Não ofereceriam resistência ao mal e suportariam com
forte ânimo tudo que lhes sobreviesse por causa das suas convicções. Tinham de
cultivar um estrito companheirismo entre si, dispensando muito cuidado no
suprimento das necessidades dos irmãos necessitados.
Doutrina Quanto à Igreja: A
doutrina fundamental dos anabatistas era uma concepção particular a respeito da
Igreja. Esta, sustentava eles, é uma comunidade de pessoas regeneradas. Ninguém
mais tinha a ver com mesma. Decorria daí a crença deles, de que o batismo, o
rito de admissão à Igreja, só deveria ser ministrado aos adultos, desde que,
somente estes poderiam experimentar conversão. Os que se filiavam a essas
sociedades eram batizados, pois o batismo que já tivessem recebido na infância
era destituído de valor. Por causa dessa atitude foram chamados de
"anabatistas", isto é, que batizavam novamente.
Os Anabatistas e a Sociedade: Os
anabatistas surgiram especialmente nas regiões da Europa. Procederam
principalmente dos camponeses e artesãos que eram vítimas de injustiças; não
obstante, entre eles havia alguns líderes cultos.
Nos primeiros anos do seu
desenvolvimento havia entre os anabatistas, o pensamento de transtornar a ordem
então existente, estabelecendo-se no seu lugar uma sociedade fundamentada no
amor Cristão. Mas este radicalismo social logo passou, em parte por causa das
perseguições, e mesmo porque esse propósito não era característico da maioria
dos anabatistas. Em geral eram calmos, devotados e trabalhadores. A Igreja Romana,
naturalmente, perseguiu-os de um modo terrível. E até os luteranos e
zuinglianos os perseguiam por sua rejeição ao batismo infantil e oposição às Igrejas
oficiais.
Meno Simons: O mais
célebre líder dos anabatistas foi Meno Simons (1492-1556). Durante vinte e
cinco anos ele pastoreou as sociedades espalhadas pela Alemanha e Países
Baixos. Purificando-as das suas tendências para o fanatismo, resultantes,
naturalmente, dos seus sofrimentos. Conseguiu novos conversos pela pregação e
os unificou numa grande irmandade que tomou o seu nome: "Os
Menonitas".
Os Menonitas e os Modernos
Batistas: Em 1608, vários puritanos fugiram da Inglaterra, por causa
das perseguições, chegando à Holanda. Alguns deles, foram depois os
"Peregrinos" de Plymouth. Outros que vieram por causa da influência
dos menonitas, aceitaram os pontos de vista destes. Mais ou menos em 1611,
alguns desses últimos conversos fundaram em Londres a Primeira Igreja Batista
ou Anabatista da Inglaterra. Já antes disto, alguns batistas ingleses estavam
associados aos menonitas holandeses. Destes primeiros batistas ingleses
procederam os demais batistas que fundaram igrejas no mundo de língua inglesa.
A designação de menonitas, ainda hoje é adotada por algumas igrejas na Alemanha
e na América.
IX - A CONTRARREFORMA
Ao irromper a Reforma na
Europa, a Igreja Romana se achava em tal estado de decadência, e os papas da
época tão interessados na vida privada e tão desinteressados nas coisas
religiosas que, por espaço de vinte e cinco anos após a explosão do movimento
reformador, pouquíssimas foram as medidas para reprimi-lo. Na verdade eles não
criam que a Reforma sobrevivesse a seu líder, Martinho Lutero. Desde Leão X, os
papas imersos numa vida luxuosa e imoral, não viam na revolta religiosa da
Alemanha proporções maiores do que o delírio de um frade
"embriagado".
0 papa Paulo III
(1534-1549), apesar dos seus gostos e modo de viver, não era melhor do que
aqueles que vieram antes, porém, mais diplomata que eles, compreendeu quão
grave era a situação católica. Embora dotado de hábitos imorais, chegou a
nomear, em comissão, alguns prelados dos mais eminentes e capazes para
sugerirem planos visando o melhoramento da Igreja, comissão esta que
apresentou, em 1553, um bem elaborado relatório, cujas sugestões nunca foram
postas em prática.
Acordando, por fim, da sua
aparente indiferença, a reação católica começou em 1541, a empregar as mais
severas medidas para reprimir o Protestantismo. Os principais objetivos da
reação foram: expurgar a Igreja, começando com o clero manchado por abusos e
imoralidades; quebrar as forças de ação do Protestantismo; reconquistar o
terreno perdido; dar novo vigor às atividades missionárias. Os meios principais
empregados pela Igreja Católica contra o progresso do Protestantismo foram
três: a Sociedade de Jesus, o Concilio de Trento e a Inquisição. Sobre estes e
outros meios, trataremos ainda, nesta apostila.
X - OS JESUÍTAS
Para a batalha da
Contrarreforma, a Igreja Romana dispunha de recursos poderosos. Um deles foi
uma Nova Ordem, extraordinariamente poderosa e operante: A Sociedade de Jesus.
Esta organização pode ser mais bem apreciada quando estudamos as experiências
religiosas do seu fundador, o espanhol, Inácio de Loyola, (1491-1556).
Inácio de Loyola: O
primeiro grande desejo de Loyola foi ser famoso como soldado, mas este ideal
apagou-se quando aos vinte e oito anos, recebeu grave ferimento que o aleijou
para o resto da vida. Sua ambição tomou outro rumo: queria tornar-se agora um
grande santo. Meditando muito, chegou à conclusão de que para se tornar um
santo, teria de se tornar um homem de Deus. Sentiu-se então possuído do desejo
de se aproximar de Deus e alcançar a paz Divina. O caminho era entrar num
convento, o que fez com toda a sinceridade da sua alma. Mas todos os seus
jejuns, penitências, orações e confissões não lhe proporcionaram a almejada
paz. De repente, lança-se com seus pecados, aos pés do Criador, confiando na
misericórdia Divina, e, assim, por sua confiança em Deus, alcançou a certeza de
perdão e paz para sua alma. Daí em diante sua vida seria posta a serviço de
Deus.
0 Seu Pensamento: Até aí,
tinha seguido as pegadas de Lutero. Loyola, porém, seguiu outra direção, pois
ainda era integralmente um homem da Idade Média e da religião medieval. Cria
sem um mínimo de dúvida, que a Igreja Romana fora divinamente ordenada para
representar os desígnios de Deus entre os homens. Para ele a verdadeira
religião de Deus consistia numa devoção absoluta e indiscutível aos interesses
dessa Igreja, trazer de volta os que a tinham abandonado, quebrar todas as
forças dos seus oponentes e aniquilar todo ensino contrário ao dessa mesma
igreja.
Organização da Sociedade de
Jesus: Por conselho dos superiores, Loyola estudou teologia por
seis anos na Universidade de Paris, antes de começar a trabalhar. Com profundo
conhecimento da natureza humana, escolheu como companheiros de ideal, nove
ajudantes que se tornariam homens de poderes extraordinários. A Sociedade de
Jesus foi formalmente organizada em 1540 com esses dez membros. Tanto sacerdotes
como leigos eram recebidos na Ordem.
Propósito e Organização: 0
propósito da Sociedade era promover o progresso eclesiástico e lutar contra os
inimigos da Igreja Católica Romana por todos os meios possíveis. Era trabalho
incessante, num espírito de lealdade ao papa, mas, lealdade inquestionável. A
organização da Sociedade era baseada num sistema de disciplina rígida e
absoluta, obediência contínua e perfeita. "Cada membro, era ligado por um
juramento aos seus superiores imediatos, como se ocupasse o lugar de Jesus
Cristo, até ao ponto de fazer o que ele, o membro, considerasse mesmo errado. "Assim
organizou-se uma grande máquina, sempre pronta a ser usada para qualquer finalidade
e em qualquer lugar onde fosse útil à Igreja Romana, ou cumprir as ordens do
papa.
Métodos de Combate: Os
jesuítas possuíam entre outros, três métodos principais de contra-atacar o
Protestantismo:
1) Nas igrejas que estabeleceram ou naquelas
que conseguiram controlar, colocavam hábeis pregadores e promoviam reuniões
atraentes.
2) Dispensavam também muita atenção à obra educacional.
3) Abriram
escolas primárias que logo se enchiam pois o ensino era gratuito e bom. Os
alunos eram, naturalmente, treinados a demonstrar devoção à Igreja Católica
Romana, e, através dos filhos, os jesuítas alcançavam também os pais.
Conseguiram educar numerosos jovens que mais
tarde ficaram conhecidos como defensores do romanismo. Outro método de operação
era de caráter político. Os jesuítas dedicaram-se a inspirar nos governos
católicos, devoção à Igreja e ódio ao Protestantismo. Como resultado dessa
política, levantaram-se tremendas perseguições aos protestantes em vários
países. A pressão jesuítica era constante e poderosa no ânimo dos governos.
Dentro de poucos anos os jesuítas se tornaram dominadores da Igreja Católica
Romana. 0 espírito deles era o da Contrarreforma e o seu ideal era esmagar os
dissidentes, principalmente o Protestantismo.
XI
- ELEMENTOS DE COMBATE À REFORMA
A Obra do Concilio de Trento: Um dos abomináveis e
desumanos instrumentos de combate à Reforma, foi o Concilio de Trento. Este
concilio geral reuniu-se em Trento, no Tirol, em 1545, e durou dezoito anos,
dividindo-se em três longas sessões. No final desse concilio a Igreja Romana
tinha formulado uma declaração completa da sua doutrina. Assim ela dispunha de
novas e poderosas armas em sua batalha, para reconquistar o que havia perdido.
Esse concilio fora convocado, todavia, para considerar os assuntos dos
concílios anteriores: a Reforma da igreja papal. Apesar da cúpula da Igreja
manobrar para evitar a concretização do desejo da maioria, todavia. o Concilio
conseguiu alguma coisa neste sentido. De um modo geral o Concilio de Trento
proporcionou meios à Igreja Romana de combater o Protestantismo.
A Inquisição e o Índex: Os
líderes da Contrarreforma defenderam com todas as forças a crença medieval, de
que era justo o uso da força contra a heresia. Mas a Igreja Romana tinha os
seus próprios meios de repressão. 0 que havia de Protestantismo na Espanha e na
Itália foi esmagado pela Inquisição. Ao lado da Inquisição operava a
Congregação do Index, que condenava os livros com os quais a Igreja não
concordava. Esta lista de livros condenados pela Igreja incluía todos os
escritos protestantes, e todas as versões da Bíblia, exceto a Vulgata. A
atividade da Congregação não se limitava a combater as crenças protestantes,
mas, igualmente, todo o pensamento que conduzisse o mundo ao progresso;
pesquisas e estudos de toda a natureza foram praticamente aniquilados na Itália
e na Espanha.
Reavivamento Religioso na
Igreja: Embora a Contrarreforma cuidasse principalmente dos meios
de repressão ao Protestantismo, incluiu também em suas atividades um despertamento
religioso na sua igreja. Tanto os clérigos como os leigos experimentaram, em
muitos lugares, um reavivamento da fé e zelo romanista que se manifestou numa
devoção aos interesses dessa Igreja e ao bem estar do próximo. Os assim
despertados eram inimigos do Protestantismo e lutavam para restaurar a Igreja à
custa do aniquilamento dos inimigos. Muitos desses perseguidores eram sinceros
no seu zelo que julgavam Cristão.
Conquistas da Contrarreforma: O
Catolicismo Romano atingiu o seu ponto mais baixo em 1560. 0 Protestantismo
tinha prevalecido em muitos países, e parecia ter em perspectiva muitas
conquistas. Em 1566, todavia, a Igreja Romana tomou a ofensiva, chefiada por
Pio V, que foi o papa de espírito combativo. Os métodos já aludidos o
capacitaram a atacar o Protestantismo como uma força que a Igreja medieval, no
início da Reforma, não teria usado. Teve também o poderoso auxílio de fortes
governos, especialmente do imperador alemão e dos soberanos da França e da
Espanha.
Reconquista da Igreja Romana: Iniciou-se
a reconquista. Em grandes regiões do império alemão, as quais, oficialmente,
ainda eram católicas por serem governadas por católicos, o Protestantismo era
forte. Muitos desses governadores tinham se mostrado tolerantes até então. De
repente foram possuídos de um ódio tremendo, imbuídos do espírito da
Contrarreforma. Pelo trabalho dos jesuítas e pela perseguição desses governos,
essas regiões se tornaram solidamente católicas. Tais regiões incluíam a
Áustria, Estíria, Caríntia, Bavária e grandes partes da região do Reno.
Aconteceu o mesmo na Polônia. Nos Países Baixos a Contrarreforma destruiu o
Protestantismo nas províncias do Sul. O maior desses empreendimentos de
reconquista da Igreja Romana, foi dirigido contra a Inglaterra. Era claro que
enquanto a Inglaterra conservasse o seu poder, o protestantismo não podia ser
aniquilado. Foi então que a Igreja Católica tentou dar o golpe de morte no seu
inimigo mais poderoso, enviando sob Filipe II, da Espanha, a Grande Armada
espanhola contra a Inglaterra. Mas os combates ingleses e uma terrível
tempestade, destruíram a Grande Armada, e a Inglaterra protestante foi salva.
XII - A GUERRA DOS TRINTA ANOS
1618 - 1648
Com o tratado de paz de Augsburgo,
estabeleceu-se por algum tempo a normalidade na Europa, que tão perturbada
havia sido pelas questões religiosas. Os contendores, ainda que, aparentemente
sossegados, preparavam-se para nova escaramuça. Uma das causas imediatas dessa
última e terrível guerra, foi a violência usada pelos católicos contra os
reformadores da Boêmia, queimando os seus templos e expulsando-os de sua terra.
Segundo o pacto de Augsburgo, os príncipes alemães tinham de escolher entre o
Catolicismo e o Protestantismo e fazer cada um a sua propaganda dentro dos
limites determinados e respeitar os direitos e as propriedades uns dos outros,
enfim, viver e trabalhar em união, não sendo permitido proselitismo. Fernando,
arquiduque da Estíria, e mais tarde imperador da Alemanha, inteiramente
dominado pelos jesuítas, proibiu nos seus domínios o culto protestante, baniu
seus pregadores e deu aos leigos o direito de escolher entre a conversão ao
Catolicismo ou o exílio. Essa medida tão desumana quão tirânica, despertou o
sentimento da nobreza alemã que se colocou ao lado dos protestantes.
Maximiliano, duque da Bavária, educado pelos jesuítas, se colocou ao lado dos
católicos.
O Começo das Hostilidades: Como
medida de precaução, as autoridades de Donauwörth,
cidade imperial luterana, expulsaram os católicos, deixando somente os
mosteiros com a condição de que os monges não fizessem nenhuma propaganda ou
perturbação fora dos muros. Excitados, porém, pelos vizinhos, estes em 1606,
violaram o convênio, maltratando os cidadãos Protestantes. Maximiliano, tomando
este ato como pretexto, entrou na cidade com as suas forças e tentou obrigar os
seus habitantes, na maioria luteranos, a se tornarem católicos. Enquanto isto
se dava, os príncipes alemães, revoltaram-se e formaram a União Evangélica (1609).
Contudo, Maximiliano com o apoio e ajuda direta do papa, facilmente derrotou os
Protestantes.
Continuação das Hostilidades: Ao
mesmo tempo que os católicos assim triunfavam na Alemanha, uma tentativa
infrutífera se fazia para extinguir os Protestantes na Boêmia. Fernando, que
com o apoio dos protestantes fora eleito rei da Boêmia, pôs logo em prática os
seus princípios jesuíticos, negando aos Protestantes o uso dos seus templos.
Não se conformando com este ato violento, os parlamentares Protestantes
reuniram-se em dieta, em Praga, na ausência do rei, penetraram no departamento
dos conselheiros e exigiram uma explicação dos seus atos. Como estes se
negassem a dar-lhes quaisquer explicações, foram atirados pelas janelas, fato
conhecido como: "A defenestração de Praga". Em seguida os Protestantes
tomaram conta da cidade, estabeleceram um governo provisório e assim teve
começo a prolongada luta entre católicos e Protestantes, que havia de dilacerar
toda a Europa central. Foi então que o grande Gustavo Adolfo, rei da Suécia,
salvou a causa Protestante. Com uma série de brilhantes vitórias, levantou o
Protestantismo do colapso. Embora depois da sua morte, em uma batalha, a guerra
se tornasse desfavorável ao Protestantismo, as vantagens que alcançou tiveram
caráter permanente. O Protestantismo ficou devendo sua sobrevivência, nesse
momento crítico, a Gustavo Adolfo.
A Paz de Vestefália: A paz
de Vestefália pôs fim à guerra em 1648. No entanto, o papa desacatou essa paz.
Numa bula declarou que a paz de Vestefália era "prejudicial à religião
católica" porque cedeu aos "hereges" a liberdade de culto.
Afirmou que os tratados que culminaram com a paz eram "perpetuamente
nulos, sem valia, de nenhum efeito, iníquos, injustos, condenáveis, reprovados,
frívolos, sem força e efeito", e asseverou que ninguém tinha obrigação de
cumpri-los. Tão pouca consideração tinha o papa pela paz e felicidade da Europa,
que estava pronto a continuar o holocausto, até que fossem extintos todos os
que não reconhecessem sua autoridade. Não obstante suas falhas, este acordo pôs
fim à agressão da Contrarreforma e favoreceu o progresso do Protestantismo. Foi
uma grande conquista no terreno da liberdade de consciência. Só a Reforma
conseguiria tal.
XIII - AS MISSÕES CATÓLICAS
Somente a Igreja Católica
Romana nesse período cuidou do trabalho missionário. As Igrejas Protestantes
nada fizeram digno de referência especial, para levar o Evangelho aos povos
pagãos. Uma das razões dessa atitude deve-se ao fato de que o Protestantismo
teve de lutar para sobreviver. Mas também deve-se reconhecer que as Igrejas Protestantes
não tinham ainda despertado quanto ao privilégio e dever de cuidar do trabalho
missionário, como fez depois. 0 Protestantismo só alcançou a sua grande visão
missionária no Século XVIII.
Atividades da Igreja Romana: A
Igreja Católica por todo este período desenvolveu trabalho missionário ativo.
As novas terras descobertas no ocidente e no oriente, no fim dos Séculos XV e
XVI, tornaram-se sua seara. Os pioneiros da Igreja Romana apressaram-se a
entrar nessas regiões, principalmente os franciscanos e dominicanos. Os
governos dos países que realizavam essas descobertas, julgavam que a extensão
do Cristianismo era uma parte do seu dever com relação às novas terras. Esta
foi a razão por que, frades e sacerdotes muitas vezes tomaram parte nas viagens
de exploração e sempre estavam com os primeiros colonizadores.
As Missões Jesuítas: Os
maiores missionários católicos foram os jesuítas. O trabalho missionário
ajustava-se exatamente ao seu grande escopo de estender a igreja papal por todo
o mundo, e eles se atiravam a essa missão com heroísmo e extraordinário zelo.
Um dos primeiros companheiros de Inácio de Loyola, da Sociedade de Jesus, foi o
espanhol Francisco Xavier. No ano em que a Sociedade foi fundada, ele e dois
outros jesuítas foram praticamente os primeiros missionários medievais. Sob sua
direção, o trabalho cresceu de modo a necessitar que os jesuítas da Europa
enviassem novos reforços. Da índia, Xavier foi ao Japão. Ali estabeleceu o
Romanismo em 1549, e, em dois anos de trabalho, ele e seus companheiros lançaram
os fundamentos de uma igreja romana japonesa que cresceu rapidamente. Ansioso
por levar a religião às novas terras, Xavier partiu para a China, onde não
chegou, por ter morrido em 1552, numa ilha próxima à costa chinesa.
Os Jesuítas na China: A obra
que Xavier não pôde realizar na China, realizou-a outro jesuíta; de nome Mateo
Rocci, que para lá se dirigiu em 1582. Conseguiu ganhar as boas graças do
imperador para o estabelecimento do Catolicismo ali, em virtude dos seus
grandes conhecimentos de astronomia e geografia. Nessa parte da Ásia, o
trabalho muito prosperou de sorte que, várias centenas de missionários jesuítas
foram enviados para ali, a fim de suprirem as necessidades da causa.
Os Jesuítas na América: Nas
possessões francesas da América, no Brasil e no Paraguai a obra missionária dos
jesuítas também foi encetada com grande vigor. Em quase todos os países onde os
jesuítas e outras ordens trabalharam, a Igreja Romana cresceu rapidamente. Mas
este crescimento, como muitos historiadores católicos admitem, não foi
substancial, o que vem provar que os métodos adotados não eram certos e
apropriados. Não obstante, o zelo e o heroísmo de muitos desses homens, são um
legado para sua Igreja.
XIV - A IGREJA NA EUROPA
1648 - 1800
A história da Igreja na
Europa, durante o período de 1648 a 1800, foi marcada por altos e baixos,
dignas de análise de nossa parte, se é que queremos compreender os
acontecimentos que se sucederam após esse período.
A França, que através de suas
autoridades ofereceu tremenda oposição ao Protestantismo, matando a muitos
deles e forçando outros ao exílio, estava quase arruinada em todos os aspectos
da vida nacional. Nessa fase da história deflagara-se a Revolução Francesa, que
procuraria contornar a situação estabelecendo a calma e ordem nacional, dando
liberdade de culto aos poucos protestantes ainda existentes no país. A Igreja
da França jamais se recuperaria, atingindo a pujança que possuía antes.
0 Protestantismo na Alemanha,
por sua vez vê-se envolvido por frequentes e vazios debates teológicos entre os
seguidores dos ensinos de Lutero e os seguidores do ensino de Calvino. Nessa
época a diferença entre luteranos e reformistas acentuou-se. Assim, surge o
"Pietismo", com a finalidade de agregar em torno do seu ensino, os
insatisfeitos com os rumos tomados pelos luteranos e reformados. Os pietistas
pregavam e viviam um Cristianismo fresco, novo e cheio de vida. Esse movimento
viria a se constituir a base de grandes movimentos como o dos Irmãos Morávios.
Como se não bastasse as
grandes aflições sofridas pela Igreja, por culpa dos seus maus líderes, no fim
do Século XVII, teve início a chamada "era da razão". 0 mentor do
homem em todos os assuntos da vida seria "a razão", "a
mente". 0 Cristianismo e suas doutrinas sofreram grandes apuros, por não
poderem ser aquilatados pela razão e raciocínio de homens naturais. Por fim, você
estudará sobre a situação da Igreja oriental, a partir da tomada de
Constantinopla pelos turcos, e as consequências que a capitulação daquela
grande metrópole trouxe sobre o Cristianismo naquela região do mundo.
XV - A FRANÇA E A IGREJA CATOLICO-ROMANA
O Século XVIII foi para a
França uma era de grande desenvolvimento, quando a nação prosperou tão
rapidamente que veio a alcançar o primeiro lugar entre as nações europeias. Essa
atividade teve o seu ponto alto ao longo do brilhante reinado de Luiz XIV, que
se estendeu de 1661 a 1715.
Galicanismo: A
Igreja Católica Romana na França serviu-se desse fortalecimento da vida
nacional, demonstrando sua energia religiosa na pregação, nas obras
filantrópicas e no trabalho missionário. Este crescimento e fortalecimento da
vida religiosa nacional, deu origem ao movimento conhecido como
"Galicanismo". O movimento, representava uma tentativa de conciliar a
qualidade de bom católico com a de bom francês. Os galicanos eram devotos e
profundamente ligados à Igreja Católica Romana, mas acreditavam igualmente que
o papa não tinha o direito de interferir na política nacional da França. Nesta
esfera só admitiam a autoridade do rei. Para aqueles que abraçavam o
galicanismo, a autoridade papal era inferior até aos próprios concílios gerais
da Igreja.
Ultramontanismo: Em
oposição ao Galicanismo, levantou-se outro partido chamado
"Ultramontano". Ultramontano é quem, em negócios da Igreja e do
Estado, obedece ao papa antes que a qualquer autoridade. Por essa época, na
França, o partido "Ultramontano" era formado principalmente pelos
jesuítas, sempre fiéis ao papa.
Dissolução da Sociedade dos
Jesuítas: Durante a última parte do Século XVII e durante todo o
Século XVIII, os jesuítas sofreram forte oposição de grandes vultos da Igreja
Católica na França. Estes homens opunham-se e protestavam com energia, contra
as ideias falsas e dolosas, a respeito da moral de certos princípios, ideias
realmente perigosas que os jesuítas espalhavam através do confessionário. Ainda
se opunham aos jesuítas por causa da obediência cega e indiscutível que
prestavam ao papa, em detrimento dos interesses patrióticos. Enquanto isto os
jesuítas foram perdendo mais e mais a sua popularidade.
Quando Portugal, em 1759,
expulsou os jesuítas, a opinião pública francesa exigiu que se fizesse o mesmo
na França, o que foi feito em 1764. Este foi o começo do fim dos jesuítas. Logo
após a Espanha também os expulsava. Em todos os casos, a razão da expulsão era
a mesma: os jesuítas eram desleais e perigosos aos governos. Finalmente, o papa
Clemente XIV sob pressão dos reis dos países que haviam sofrido sob a
influência dos jesuítas, dissolveu essa Ordem.
Perseguição aos Huguenotes: A era
áurea de Luiz XIV, teve um lado negro nos terríveis sofrimentos infligidos aos Protestantes
franceses. Pelo Edito de Nantes, em 1598, os Huguenotes alcançaram completa
liberdade de consciência; liberdade para exercer o culto público em muitos
lugares, plenos direitos civis e o governo de um grande número de cidades.
Entre 1598 e 1659, não
obstante o governo tirar dos Huguenotes o controle sobre as cidades, isto não
lhes perturbou a liberdade religiosa. Nesta época, o Protestantismo cresceu,
tomou corpo e chegou a assumir a posição de influência em grandes decisões
nacionais. As igrejas tinham um ministério sólido e bem preparado. Entre os
membros das igrejas havia muitos líderes de projeção, destacados comerciantes e
industriais e muitos dos melhores artífices e trabalhadores vários.
Mas o clero católico romano,
hipócrita e fanático, não podia tolerar este Protestantismo tão próspero. E,
foi sobre a pressão desse clero que o governo começou um ataque maciço ao
Protestantismo na França, em 1659. As primeiras medidas tomadas contra os
protestantes foram: a suspensão total dos direitos civis e a perseguição em
grande escala, para obrigá-los a professar o Catolicismo Romano. Em 1681, Luiz
XIV levou a efeito, com muita pertinácia, um esforço selvagem para esmagar o
Protestantismo, campanha que culminou com a revogação do Edito de Nantes,
quatro anos depois. Os Protestantes estavam desamparados pelas leis, e não
podia nem emigrar.
0 Resultado Para a França: 0
resultado de tudo isto foi uma perda irreparável para a França. Milhares dos
seus mais excelentes cidadãos foram levados à morte, e outros a quase
insuportáveis torturas. Nesse período, cerca de quatrocentos mil huguenotes
fugiram deixando a França. A saída deles resultou num grande desastre econômico
e moral para a nação. Pior ainda foi para a nação francesa a perda moral, perda
que jamais foi recuperada. Depois de 1685 o
Protestantismo na França, embora vergonhosamente perseguido, levou uma vida de
heroísmo por quase oitenta anos. Foi quando cessou a perseguição, mas a
liberdade religiosa não veio antes de 1789, concedida pelo primeiro dos governos
da Revolução Francesa.
A Igreja Católica e a
Revolução Francesa: Quando a Revolução Francesa rebentou em 1789, a
Assembleia que representava o povo, demonstrou amargo desagrado e hostilidade
para com a Igreja Católica Romana. A perseguição contra os Protestantes tornou
o povo desgostoso e fê-lo sentir horror por uma instituição, cujos líderes
foram os causadores de tais barbaridades. Muitos patriotas franceses
consideravam a Igreja Católica Romana como inimiga do espírito de lealdade
nacional, porque o seu clero colocava a autoridade do papa acima da autoridade
do governo.
Como Agiu o Governo: A
primeira legislatura da Revolução, a Assembleia Nacional (1789-1790),
1)
confiscou as propriedades da Igreja Romana e vendeu boa parte delas para
enfrentar as necessidades nacionais;
2) estabeleceu completa liberdade
religiosa;
3) aboliu as Ordens monásticas e reorganizou completamente a Igreja
Católica, deixando-a nominalmente sujeita ao papa. Finalmente, não só a Igreja
papal, mas o próprio Cristianismo foi objeto de ódio público. Isto foi devido,
em parte, ao desenvolvimento da incredulidade, e, de outro lado pelo fato de
muitos julgarem a Igreja Romana e o Cristianismo como coisas idênticas.
Em
1793, foi abolido o culto Cristão, negando formalmente a existência de Deus, e
estabelecendo o culto da deusa Razão. O domingo ou o Dia do Senhor, foi
substituído por um dia em cada dez, para descanso e diversões. Todavia o povo
se opôs a tudo isto. Em 1795, o culto Cristão foi restabelecido pelo governo.
Todas as agremiações religiosas tiveram permissão de exercer formas de culto.
Este acordo foi quebrado por Napoleão que possuía suas próprias ideias acerca
das relações entre a Igreja e o Estado.
XVI - 0 PROTESTANTISMO NA ALEMANHA
A história do Protestantismo
alemão nos anos seguintes à Reforma, é desalentadora. Teve início uma era
triste, de frequentes e inúteis disputas teológicas. Além disso, havia entre
luteranos e os teólogos reformadores, discussões doutrinárias que alargavam
cada vez mais as brechas entre estes dois grupos do Protestantismo.
Ortodoxia Luterana: Um dos
resultados destas disputas teológicas, foi a elaboração, pelos luteranos, em
1577, de um longo credo chamado "A Fórmula da Concórdia". Ela
condenava o Calvinismo, especialmente a doutrina da predestinação, perpetuando
assim a separação dos grupos luteranos e reformado. "A Fórmula da
Concórdia" veio a ser considerada pelos luteranos uma expressão completa
da verdade Cristã. Foi esta a razão por que os ministros luteranos dedicaram
suas vidas à exposição e defesa desse credo, em vez de procurarem fortalecer a
vida espiritual do povo, induzindo-o ao serviço Cristão. Pouca ênfase era dada
à necessidade de se procurar viver um Cristianismo vitalizado, rico de
experiências e de frutos. As Igrejas eram frias, cheias de formalidades e
inativas. Nessa época surgiu um movimento de vigor e poder espiritual,
conhecido pelo nome de "Pietismo". Seu primeiro líder foi Filipe Jacó
Spener, que bem moço viu o grande declínio religioso pelo qual passava seu país.
0 Pietismo: Como
pastor em Frankfurt no período de 1666 a 1686, Spener muito se esforçou para
que seu povo alcançasse um Cristianismo ardente, sincero, e purificasse a sua
vida em todos os aspectos. Pregava sermões de caráter prático, fervorosos e
simples. Insistia na verdade da regeneração, aquela mudança produzida no
coração do homem de fé, pelo Espírito de Deus. Spener reavivou a doutrina
básica da Reforma, o sacerdócio universal dos crentes.
Além do que alcançou na vida
religiosa da Alemanha, o Pietismo inspirou em outras terras, forte impulso pelo
poder espiritual, o que produziu grandes resultados. A Irmandade Morávia foi,
em parte, um resultado desse movimento.
Os Moravianos: O
fundador da irmandade moraviana foi o Conde Nicolau von Zinzendorf (1700-1760),
nobre austríaco que foi profundamente influenciado pelo Pietismo. Quando moço
pensou reunir numa comunidade um, grande número de pessoas verdadeiramente
religiosas, que se tornassem uma fonte espiritual para as Igrejas e comunidades
religiosas vizinhas. Quando tinha apenas vinte e um anos de idade, comprou um
território na Saxônia, com o intuito de levar a termo o seu plano. Em pouco
tempo foi essa região habitada de um modo providencial. Certos membros da
irmandade da Boêmia, corpo religioso resultante da obra de João Huss, tendo
sido perseguidos e expulsos dos seus lares na Morávia, conseguiram permissão de
Zinzendorf para se estabelecerem no território a ele pertencente . Assim
começou a formação dessa comunidade que tomou o nome de "Herrnhut",
isto é, "Abrigo do Senhor".
Missões Moravianas: As
atividades missionárias, que tornaram famosos os moravianos, começaram em 1731.
Dois deles foram enviados a São Tomé, nas índias Ocidentais, e dois outros
foram para a Groenlândia, onde o herói norueguês Hans Egede já tinha plantado o
Evangelho. Seguiu a estes uma verdadeira torrente de missionários, de sorte que
durante a vida de Nicolas Zinzendorf havia muitos dos seus irmãos trabalhando
na Europa, Ásia, África, Américas do Norte e do Sul. Em qualquer lugar onde se
encontrassem, demonstravam a mesma coragem, consagração e amor a todos os
homens.
XVII - 0 PROTESTANTISMO NA INGLATERRA
Conseguindo maioria no Grande
Parlamento, os Puritanos, afinal, alcançaram poder para tornar a Igreja da
Inglaterra como desejavam. Com este propósito, o Parlamento convocou a
Assembleia de Westminster (1643-1643), composta dos principais teólogos
puritanos.
A Assembleia de Westminster: À
assembleia de Westminster coube a responsabilidade de apresentar ao parlamento,
os planos para uma reforma definitiva da igreja nacional. Ao mesmo tempo o
parlamento, no propósito de alcançar o auxílio da Escócia na guerra contra o
rei Carlos, aceitou a "Liga Solene" e o "Pacto". Este era
uma ampliação do primeiro "Pacto Escocês", e obrigava os que o
aceitavam, a defender a Igreja escocesa como tinha sido estabelecida ao tempo
da Reforma, como também tornar em conformidade com ela, as igrejas da
Inglaterra e da Irlanda.
Os Trabalhos da Assembleia: A
assembleia escreveu e submeteu à apreciação do parlamento, uma constituição
completa para a Igreja da Inglaterra. Além de um esquema para o governo
eclesiástico, foi apresentada a Comissão de Fé, considerada como credo para uso
da Igreja, e dos catecismos, o "Maior" e o "Menor".
0 projeto da assembleia para o
governo da Igreja foi aprovado pelo parlamento, que ratificou assim o sistema
de governo presbiteriano. Mas ele nunca foi aceito de modo geral. Não foi fácil
a aplicação dessa forma de governo à Igreja em razão da confusão reinante no
pais, provocada pela guerra entre o parlamento e o rei Carlos.
A Comunidade Dirige os
Negócios Eclesiásticos: À execução do rei em 1649, seguiu-se o
estabelecimento do governo da comunidade, sendo Olivério Cromwell seu Senhor
Protetor. Não obstante as muitas incertezas dominantes no período desse curto
governo, havia certa liberdade religiosa, defendida por Cromwell. Não se
permitia liberdade ao Romanismo ou ao sistema episcopal, a velha forma da
Igreja Inglesa, pois ambos eram considerados politicamente perigosos. Além
disto havia igrejas de várias denominações, destacadamente presbiterianas,
congregacionais, batistas etc.
"Os Amigos" Foi
nesta época que apareceu a "Sociedade dos Amigos", ou dos
"Quakers". Por muitos anos a Inglaterra foi perturbada pelas disputas
religiosas, principalmente as que se relacionavam com a forma de governo
eclesiástico. Tudo isto aborrecia muito os ingleses que resolveram seguir os
ensinos de George Fox. Este ensinava que a Igreja deveria ser guiada e
instruída diretamente pelo Espírito Santo e que não deveria haver qualquer
sistema fixo de governo, ou um ministério especialmente indicado, ou formas
regulares de culto. George Fox foi um dos mais poderosos líderes religiosos do
seu tempo e fervoroso evangelista que alcançou grande número de conversos.
0 Governo nas Mãos dos
Puritanos: Os Puritanos, com o apoio do governo, tiveram a
oportunidade de realizar o que desejavam, que era, fortalecer a religião e o
caráter moral do povo. Foram aprovadas leis que exigiam um alto padrão moral do
povo. A severidade das decisões puritanas foram manifestas nas mais diferentes
áreas da vida nacional. Fecharam-se os teatros, foram proibidos esportes
brutais e alguns divertimentos tidos por inocentes e de gosto popular, tais
como o festejo do Natal. Não obstante a sua esplêndida prova de caráter, havia
nos puritanos certa tirania e estreiteza de visão, que contribuiu para tornar
seu governo bastante impopular entre o povo inglês.
Como a impopularidade do governo
dos puritanos aumentasse dia a dia, seguiu-se uma tremenda reação do povo
contra tudo que eles tentaram introduzir e realizar. Por essa época
restaurou-se a monarquia (1660), com a elevação de Carlos II ao trono. Logo o
novo governo restaurou a Igreja nacional à forma que tinha antes da vitória dos
puritanos. Os bispos voltaram às suas paróquias e o "Livro de Oração
Comum" voltou a ser o manual de culto.
A Grande Expulsão e
Perseguição: Por se oporem a isto, cerca de dois mil
ministros presbiterianos, congregacionais e batistas foram expulsos de suas
igrejas. Seguiram-se várias tentativas de proscrição dos dissidentes. Atos
oficiais proibiam assistência às reuniões que não fossem da Igreja oficial. Por
uma falta dessa natureza foi preso, por doze anos, o célebre Cristão e
escritor, artesão João Bunyan, que na prisão de Bedford escreveu "0
Peregrino".
Depravação Social: Terrível
onda de imoralidade atingiu a aristocracia inglesa e afetou grandemente outras
camadas da sociedade, em decorrência da oposição do parlamento ao Puritanismo.
Depois da severidade da regra puritana, a situação tomou extremo oposto. O
exemplo de um rei corrupto contribuiu para o agravamento dessa tendência. 0 Puritanismo
parecia ter sido aniquilado. Mas tal não aconteceu.
A Revolução: Os
acontecimentos dessa época mostraram, todavia, que a maioria do povo preferia
que a Igreja nacional permanecesse como no tempo da Reforma, em vez de seguir o
sistema introduzido pelos puritanos. Isto não significava que o Protestantismo
inglês fosse assim duvidoso, e a prova se viu quando Tiago II, sucessor de
Carlos II, tentou transformar a Igreja nacional em Católica Romana. O povo
lutou com obstinada coragem, lançando mão de todos os recursos disponíveis para
que tal coisa não acontecesse. Apelarem para Guilherme, Príncipe de Orange e
Chefe do Estado da Holanda, cuja esposa, Maria, era filha do rei, para que
viesse com um exército, defender a liberdade da Inglaterra e do Protestantismo.
O país levantou-se para apoiá-lo. 0 rei Tiago II fugiu para a França, enquanto
Guilherme e esposa tornaram-se soberanos da Inglaterra.
Essa revolução (1689) decidiu
a favor da Inglaterra várias questões de mais alta importância, entre as quais
destacaram-se as seguintes: 1) que o poder pertencesse ao povo; 2) que a
Inglaterra continuasse protestante; 3) que houvesse liberdade de culto.
Declínio Religioso: A vida
religiosa da Inglaterra, por quase cinquenta anos depois da revolução,
apresenta um quadro de tristeza, indiferentismo e de generalizada estagnação. A
maioria do clero era constituída de homens de pouco fervor. Os deveres dos
bispos e dos ministros, foram em grande parte negligenciados, em razão do
mundanismo e egoísmo em que viviam. Muito pouco se fazia para suprir as
necessidades religiosas do povo, razão que levou muitos a perderem o contato
com a Igreja e se desinteressarem pelas suas atividades. Os não-conformistas,
porém, eram mais vigorosos na sua vida religiosa do que a Igreja da Inglaterra
e eram eles que haveriam de influir no futuro religioso dessa nação.
XVIII - O REAVIVAMENTO DE WESLEY NO SÉCULO XVIII
Em meio às incertezas quanto
ao futuro da Igreja na Inglaterra, Deus levantou João Wesley, através do qual
haveria de sacudir aquela nação, e trazer ao mundo o impulso religioso mais
forte já ocorrido depois da Reforma.
João Wesley nasceu em 1703, em
Lincolnshire, paróquia do seu pai, um dos ministros mais zelosos que havia na
Inglaterra. Teve como mãe uma mulher de vida santa e de altas virtudes cristãs.
Já adulto, foi estudar em Oxford, onde se destacou como homem de letras. Entrou
para o ministério e serviu por alguns anos na paróquia do seu pai. Voltando
depois a Oxford como professor de grego, tornou-se líder de um grupo de estudantes
que eram extraordinariamente escrupulosos e metódicos em suas observâncias
religiosas e deveres escolares. Por isso foram conhecidos como metodistas ou do Clube Santo. Entre eles estavam o irmão de João Wesley, Carlos, e um
estudante pobre de Gloucester chamado George Whitefield.
A Conversão de Wesley: A
convite do general Oglethorpe, Wesley foi à Geórgia, como um dos ministros da
sua nova colônia na América. Foi uma estada breve e de pouco êxito. Contudo,
foi aí que Wesley conheceu alguns missionários morávios, nos quais descobriu
uma alegria e confiança Cristãs fora do comum e que ele próprio imaginava
jamais ter experimentado. Começou, então, a sentir uma profunda mudança
religiosa em sua vida. Voltou depois à Inglaterra, onde continuou sob a
influência dos morávios. Este contato culminou na sua "conversão" que
ocorreu em 1738, durante um movimento religioso em Londres. Sobre essa
experiência, ele mesmo confessou anos depois: "Senti que confiei em
Cristo, em Cristo somente, para minha salvação e alcancei grande segurança e a
certeza da purificação dos meus pecados, dos meus próprios pecados, e livrei-me
da lei do pecado e da morte."
No ano seguinte ao da sua
conversão, Wesley realizou o primeiro trabalho que o firmou como o líder de um
grande avivamento. Em março de 1739, pregou ao ar-livre a um grupo de gente
humilde, perto de Bristol. A partir daí, e quase por cinquenta anos, Wesley
trabalhou infatigavelmente.
Carlos Wesley e George
Whitefield: Dois valorosos cooperadores no reavivamento de
Wesley, foram, seu irmão Carlos Wesley e George Whitefield. Carlos destacou-se
como eficiente pregador, mas sua principal contribuição para o reavivamento foi
dada através dos seus hinos - cerca de seis mil. Whitefield desenvolveu enorme
atividade como evangelista itinerante.
Oposição ao Avivamento: Não
obstante os irmãos Wesley e Whitefield serem ministros da Igreja da Inglaterra
(Anglicana), foram proibidos de pregar nas igrejas oficiais. O alvoroço às
vezes provocado pela pregação destes ministros, era desagradável para aquela
época caracterizada pela moderação e restrição em todas as coisas. Por essa
época foram excluídos das igrejas e sofreram amarga oposição dos clérigos da
igreja oficial.
Os Evangélicos: Não
era possível que tão grande avivamento deixasse de afetar a vida da Igreja Inglesa.
Surgiu um partido poderoso, denominado de "Evangélicos", composto de
clérigos e de leigos que foram influenciados pelo movimento vivificador. Tal
influência se fez sentir na religião pessoal, na pregação e em toda a obra
ministerial, como também no trabalho dos leigos.
A Pregação do Reavivamento: A
pregação do reavivamento não era, como disse Wesley, nada de novo. Era a
proclamação da livre graça de Deus em Cristo Jesus, e da salvação livre,
gratuita, pela fé no Salvador. Era o convite de Deus ao arrependimento e à fé.
Os hinos do reavivamento ensinavam e revelavam estas grandes verdades e o povo
as entendia e as aceitava. Entre esses hinos podem citar-se, "Jesus, Amado
Salvador", "Rocha Eterna", e muitíssimos outros. A velha
história e antiga mensagem do genuíno Evangelho que por muitos anos fora
conhecida na Inglaterra, apareceu agora anunciada com verdadeiro zelo e
verdadeira paixão.
XIX - OS RESULTADOS DO REAVIVAMENTO DE WESLEY
Organização da Igreja
Metodista: Um dos grandes resultados do reavivamento de
Wesley, foi a formação de uma nova Igreja - a Metodista. Na verdade Wesley não
desejava esse resultado. Tinha muito amor à Igreja da Inglaterra e desejava que
ela fosse alcançada pelos benefícios do seu trabalho. A organização da nova Igreja
foi coisa a que se viu forçado a aceitar e reconhecer. Por muitos anos o clero
anglicano o antipatizou e hostilizou, até que os "Evangélicos" se
tornaram bastante fortes e influentes. Até mesmo os não-conformistas, isto é,
as Igrejas Livres, não apoiavam nem auxiliavam o seu trabalho. Gradualmente ele
transformou suas sociedades com os respectivos pregadores em Igrejas, e, em
1784, a Igreja Wesleyana ou Metodista foi definitivamente organizada. Sete anos
depois, quando Wesley faleceu, a Igreja contava com setenta e sete mil membros.
Despertamento Espiritual: Outro
resultado ainda maior do reavivamento de Wesley, foi o soerguimento espiritual
que afetou profundamente o país, em toda a sua extensão. Milhares de pessoas
passaram de um Cristianismo teórico e morto, para o cristianismo vivo e prático.
Muitos deles pertenciam às classes trabalhadoras, e foi assim que uma poderosa
influência espiritual dominou esta parte da sociedade inglesa. A própria Igreja
da Inglaterra e as Igrejas Livres receberam novo alento, novo espírito em
grande proporção.
Obras Sociais: Esse
despertamento revelou-se de um modo maravilhoso no desenvolvimento das obras
sociais de caráter Cristão. O amor de Deus, sentido e experimentado com novo
poder que procedeu do reavivamento por toda a parte anunciado, impulsionava os
homens ao amor e ao serviço em favor dos seus semelhantes. Foi assim que a
moderna filantropia ou assistência social, recebeu seu primeiro e poderoso
impulso.
Nessa época surgiu o abençoado
movimento de ensino bíblico popular, denominado Escola
Dominical. A primeira escola foi iniciada em 1780 por Robert Raikes, um
jornalista Cristão, culto e rico, de Gloucester. Foi um dos primeiros passos na
educação da Inglaterra, como também o começo do movimento mundial das Escolas
Dominicais. A escola de Raikes era destinada a crianças pobres que cresciam na
ignorância, ministrando educação religiosa acompanhada de alfabetização e ética
em geral. Nessa época, ilustres Cristãos destacaram-se como líderes de
movimentos de interesses nacionais, tais como: reformas penitenciárias e contra
o trabalho dos menores. 0 interesse e cuidado do público a favor dos pobres
tornaram-se mais compreensivo e mais cheio de amor. Foram fundados hospitais e
outras casas de caridade.
0 Movimento Missionário
Moderno: 0 maior de todos os resultados do reavivamento de Wesley,
foi o moderno movimento missionário. Várias influências o estimularam,
particularmente as então recentes descobertas no Sul do Pacífico. Sem o impulso
para o serviço Cristão provocado pelo reavivamento religioso, jamais teria
surgido esse santo desejo para a obra missionária de além mar. Coube a
Guilherme Carey, sapateiro e pregador leigo Batista iniciar o movimento
missionário. A despeito da oposição e desdém, ele impressionou os seus ouvintes
com a visão que tinha, de ver o mundo pagão convertido a Cristo.
Em 1792, ele organizou a
"Sociedade Batista Para a Propagação do Evangelho Entre os pagãos". O
primeiro missionário por ela enviado foi o próprio Carey, destinado a realizar
um nobre trabalho na índia. O exemplo dos Batistas foi logo imitado. A
"Sociedade Missionária de Londres" foi organizada em 1795, formada
principalmente pelos Congregacionais, e a "Sociedade Eclesiástica
Missionária", em 1799, pelos "Evangélicos" da Inglaterra. Os Metodistas
também organizaram seu trabalho missionário. Tal entusiasmo missionário se
espalhou pela Escócia, América e pelo continente europeu.
XX - 0 PROTESTANTISMO NA ESCÓCIA E NA IRLANDA
A restauração de Carlos II ao
reino da Escócia, foi seguida de uma reação semelhante a que houve na
Inglaterra. Em 1661, o Parlamento Escocês restabeleceu os bispos na Igreja da
Escócia e declarou o rei como chefe da Igreja. Removeu também das suas paróquias
muitos ministros que foram substituídos por homens incompetentes. Contra tal
atitude houve protesto do povo, que em grande parte abandonou as Igrejas para
ouvir os ministros expulsos em suas próprias casas ou nas praças públicas. 0
governo então resolveu forçar o povo a assistir às reuniões nas Igrejas,
valendo-se de leis opressivas.
Os Pactuantes Perseguidos: Levantaram-se
os "Covenanters" ou Pactuantes, poderosos grupos de pessoas que
insistiam em permanecer fiéis à antiga forma presbiteriana e contrário às
interferências do governo nos negócios da Igreja. Contra essas pessoas moveu-se
atroz perseguição cujo resultado foi torná-la mais firme. Não tardou para que
essa oposição ao governo se transformasse em rebelião armada, que terminou na
batalha da Ponte Bothwell em 1679, onde os rebeldes foram derrotados. Depois
disto alguns Pactuantes prometeram ficar em paz. Outros, porém, conhecidos como
"Cameronianos", com seu chefe Ricardo Cameron, nem se submeteram, nem
reconheceram o governo, que lhes exigia o que eles próprios consideravam um
erro. No oeste da Escócia esta gente foi perseguida por toda a parte. Homens e
mulheres preferiram abandonar suas profissões e lares, a violar suas convicções
quanto ao que julgavam ser à vontade de Deus.
A Igreja Escocesa Volta a Ser
Presbiteriana: 0 fim dessa perseguição veio com a ascensão ao
poder, de Guilherme e Maria, em 1689. O presbiterianismo foi, então, restaurado
na Escócia para nunca mais ser perturbado. Alguns dos "cameronianos"
não aprovaram de todo esta restauração, em virtude de não se fazer referência
especial ao Contrato ou Acordo, que para eles era de tanta importância e
estima. Daí eles se recusaram a tomar parte na Igreja reorganizada da Escócia.
Deles procedeu a organização que tomou o nome de Igreja Reformada
Presbiteriana.
A Igreja Nacional que se
tornara presbiteriana em 1689, além de ser a igreja oficial da Escócia,
representava realmente as legítimas opiniões e sentimentos religiosos do povo.
A grande maioria era presbiteriana, e quase todos, exceto uns poucos, estavam
na Igreja nacional. A união dos Parlamentos da Inglaterra e da Escócia em 1707,
deixou este último país sem outro parlamento ou qualquer instituição política
que lhe fosse própria. A Igreja nacional tornou-se então a grande organização
do povo escocês.
O Declínio da Religião: A vida
religiosa da Escócia durante o Século XVIII foi assinalada por indiferença
generalizada e por uma inatividade semelhante à que existia na Inglaterra antes
do grande reavivamento. Não havia interesse nem entusiasmo no ministério.
Quando Wesley e Whitefield entraram no país, sofreram a mesma oposição que
experimentaram na Inglaterra.
O reavivamento geral na
Inglaterra não teve a mesma correspondência na Escócia, que esperou até o
Século XIX para experimentar a influência renovadora e vivificadora do Espírito
Santo. 0 entusiasmo pelo trabalho missionário afetou também a Escócia, e duas
sociedades missionárias foram organizadas em 1796. Mas no mesmo ano, a
Assembleia Geral da Igreja Escocesa aprovou o indigno ponto de vista de que
"espalhar o conhecimento do Evangelho entre os bárbaros das nações pagãs é
absurdo e inominável." Essa Igreja não cuidou das missões até o ano de
1824.
O Presbiterianismo na Irlanda:
Durante
a primeira metade do Século XVII, grandes extensões de terra no norte da
Irlanda, foram tomadas pelo governo inglês, em virtude dos seus proprietários
se terem rebelado. O povo irlandês que residia nessas regiões ficou desabrigado
e emigrou para o Sul. Suas propriedades foram ocupadas pelos novos colonos que
o governo fez vir da Escócia e da Inglaterra. Mais tarde, durante os
"Tempos de Trucidamento", outros povos escoceses fugiram para a
Irlanda. Foi assim que a província de "Ulster" veio a ser habitada
principalmente por gente escocesa, quase toda ela presbiteriana. Esta é a
origem do povo "escocês-irlandês". Durante o século seguinte foram
terrivelmente maltratados pelos proprietários das terras. Foram também
perseguidos pela Igreja oficial da Irlanda, que era episcopal, como a da
Inglaterra. Por isto, entre os anos de 1713 e 1775, muitos milhares de
escoceses-irlandeses emigraram para a América onde desempenharam notável papel
na formação do povo americano.
XXI - A IGREJA NO ORIENTE
Em 1453, caiu sobre a Igreja
do Oriente o maior desastre de sua história: a tomada de Constantinopla pelos
turcos. 0 Império do Oriente, por tanto tempo campeão do Cristianismo, caiu,
tinha agora um sultão sentado no trono do imperador. Santa Sofia, a magnífica
catedral construída por Justino, no Século VI, foi tornada uma mesquita
muçulmana, sinal visível da capitulação do Cristianismo sob as mãos do
Islamismo. Os Cristãos perderam todos os seus direitos ainda que pudessem
conservar o seu culto, tendo de viver em sujeição, sem nenhum amparo legal.
Contudo a organização da Igreja permaneceu inalterada. 0 patriarca de
Constantinopla teve os seus poderes aumentados sobre os patriarcas de
Antioquia, Jerusalém e Alexandria, tornando-se o chefe de todos os Cristãos do
império turco, exceto a Rússia. O patriarca era indicado pelo sultão e estava
inteiramente à mercê do seu poder. Assim, rapidamente perderam o seu poder,
pois perderam a influência perante o povo que os consideravam lacaios dos
sultões.
Declínio Intelectual da Igreja:
Com
a queda de Constantinopla muitos gregos cultos fugiram para a Europa ocidental
e ali tomaram parte do renascimento cultural. A emigração desses homens
altamente instruídos enfraqueceu seriamente a vida intelectual da Igreja
oriental. O clero passou a ser composto por homens ignorantes, e, a pregação
desapareceu dos púlpitos. Numa era quando a mentalidade dos homens do ocidente
se levantou pelo renascimento, aconteceu exatamente o contrário na Igreja
oriental. Assim a vitória turca foi, em todos os sentidos um golpe profundo e
mortal contra a Igreja oriental. Mesmo precariamente, essa Igreja continuou
existindo.
A Rússia e Sua Igreja: Logo
após a queda do Império Ocidental, levantou-se um novo império no Norte, a
Rússia. Desde a queda de Constantinopla, a igreja russa foi se tornando
independente. Nominalmente ainda era sujeita ao patriarcado de Constantinopla,
mas o bispo metropolitano de Moscou não foi mais escolhido pelo patriarca de
Constantinopla. Assim, em 1587, o bispo metropolitano de Moscou via-se elevado
à categoria de patriarca. Durante o século seguinte, a Igreja russa revelou uma
vida nova, especialmente ao tempo do famoso patriarca Nicônio. Este promoveu um extraordinário desenvolvimento na educação
e na vida moral do clero, como também, despertou interesse pela pregação. Na
doutrina, porém, não houve mudança; não se verificou qualquer progresso na
direção de uma forma mais pura de Cristianismo. Quando o Protestantismo
penetrou na Rússia, foi terrivelmente perseguido e expulso. Também, nem a
religião, nem o clero, nem o povo puderam libertar-se da superstição dominante.
Os Uniatas: Durante
o período da Contrarreforma, enquanto a Igreja Católica Romana lutava por
conquistar e reconquistar todos os povos, tentou também ganhar a Rússia. Foi
bem sucedida em algumas regiões do sudoeste do país à custa de certas atitudes
liberais. Tudo o que se pedia do povo que vinha da Igreja oriental para a
Romana, era submissão ao papa. Foi-lhes permitido conservar sua forma de culto
e costumes religiosos, e até mesmo permissão para os membros do clero se
casarem. Esses católicos eram chamados "uniatas".
O Governo da Igreja: No
início do Século XVIII, o czar Pedro, o Grande, deu à Igreja a forma de governo
que ela conservou até a revolução de 1917. Em substituição ao patriarca,
organizou o Santo Sínodo, que era um corpo de bispos e sacerdotes escolhidos
pelo czar. Essa igreja era teoricamente controlada pelo procurador que
representava a expressa vontade do czar. Assim a Igreja russa tornou-se completamente
sujeita ao governo que passou a ser o seu "guarda e protetor".
XXII - A IGREJA NA AMÉRICA DO NORTE
O Cristianismo na América
procedeu do Velho Mundo. Na América do Norte, para cuja colonização várias
raças contribuíram, ainda que um só tipo de Cristianismo tenha dominado no
começo colonial, o resultado tem sido a enorme variedade de modos de
expressá-lo, e uma necessária tolerância mútua, que muito contribuiu para o
surgimento de plena liberdade religiosa.
Ali, onde o contato entre
esses vários tipos de Igrejas tem sido constante, o princípio da independência
quanto ao controle do Estado, domina desde o movimento separatista nacional.
Ali é bem diferente o sistema de governo eclesiástico em relação às normas
europeias, o que permite à Igreja na América do norte possuir uma espécie de
governo com modelo propriamente americano.
Diversas Igrejas europeias,
cedo lançaram suas raízes no solo americano, com total êxito quanto às
dificuldades de transplantação. 0 Cristianismo americano pode ser visto como
parte integrante do desenvolvimento religioso da Cristandade europeia, e o
aparecimento cedo de seus aspectos "americanos", o revelam como um
movimento inovador da Igreja nos séculos seguintes. Ao tratar das Igrejas na
América do Norte, e especialmente nos Estados Unidos, por uma questão de
espaço, limitamo-nos a mencionar aquelas consideradas mais importantes,
portanto, dignas de maior atenção, indo desde a Igreja Católica Romana, aos
"Irmãos Unidos em Cristo".
XXIII - IGREJA CATÓLICO-ROMANA
Em virtude das primeiras
expedições ao Novo Mundo, com o fim de descobrir, conquistar e colonizar, terem
sido levadas a efeito por nações católico-romanas, como a Espanha, Portugal e
França, a primeira Igreja a se estabelecer no continente ocidental, tanto na
América do Sul como do Norte, foi a Igreja Católico-Romana.
A história desta Igreja na
América começou no ano de 1494, quando Colombo, em sua segunda viagem, tomou
consigo doze sacerdotes para trabalharem na conversão dos nativos nas terras
que possivelmente fossem descobertas. Onde quer que os espanhóis fossem, para
conquistar ou se estabelecerem, se faziam acompanhar dos seus clérigos, que
estabeleciam seu sistema religioso. As Igrejas romanas primitivas dos Estados
Unidos situavam-se em Santo Agostinho, na Flórida, e em Santa Fé, no Novo
México, fundadas mais ou menos em 1565 e 1600 respectivamente. O método usado
pelos espanhóis era o de escravizar os nativos, forçar-lhes à conversão e
obrigar-lhes a construir templos e mosteiros semelhantes aos existentes na
Espanha. Como resultado da ocupação dos espanhóis, os territórios da Flórida e
Califórnia, foram por séculos dominados pela Igreja Católica Romana.
Pouco depois do domínio
espanhol no Sul, veio a ocupação francesa no Norte, desde o Rio São Lourenço,
na "Nova França", o atual Canadá. Quebec foi fundada em 1608, e
Montreal em 1644; por algum tempo os imigrantes franceses eram poucos. Em 1663
a população francesa do Canadá contava com apenas duas mil e quinhentas pessoas,
mas não demorou para que o número de descendentes de franceses nascidos no
Canadá atingisse um índice maior do que o número daqueles que nasciam mesmo na
França, de maneira que em toda a região do Rio São Lourenço, desde os Grandes
Lagos até o Atlântico, era concreta a dominância de franceses católicos, na
maioria analfabetos e muito mais submissos aos seus sacerdotes que seus
patrícios católicos da França.
Grande esforço fora feito no Canadá para que os
índios se convertessem à fé católica. Dentre os que se deram a essa causa,
destacam-se os jesuítas. Seus métodos eram diferentes dos adotados pelos
missionários da América espanhola, pois buscavam ganhar a amizade dos índios
por sua amabilidade e abnegação. Na metade do Século XVIII todo o território do
grande Noroeste, além dos montes Alleghenys, estavam debaixo da influência
francesa, enquanto, o Sudoeste era dominado pela Espanha, e sobre todas as
possessões a Igreja Católica Romana era suprema. Só uma estreita porção da
terra na costa do Atlântico, onde estavam algumas colônias inglesas, era
protestante. Tudo indicava que os católicos iriam governar todo o Continente.
Porém, a conquista britânica do Canadá em 1759, e mais tarde a concessão de
Luisiana e Texas aos Estados Unidos, alterou o equilíbrio religioso na América
do Norte, tornando-a predominantemente protestante.
As colônias inglesas no
litoral do Atlântico eram protestantes, exceto os colonizadores de Maryland,
que eram católicos ingleses, cujo culto era proibido em seu próprio país. No
Novo Mundo eles conseguiam permissão constitucional para exercer sua fé e
celebrar seu culto. Contudo, só no ano de 1790 é que foi consagrado o primeiro
bispo católico dos Estados Unidos, para servir em Maryland. Por esse tempo a
população católica no país estava calculada em trinta mil.
Um grande período de imigração
à América do Norte procedente da Europa, começou pelo ano de 1845. A princípio
era na sua maioria católica, e procedia principalmente de condados católicos da
Irlanda, mais tarde do sul da Alemanha e da Itália. Do aumento natural por
nascimento, por imigração e por uma cuidadosa supervisão sacerdotal, a Igreja
Católico-Romana dos Estados Unidos tem atualmente (1980) nada menos de
cinquenta milhões de comungantes, contudo constituindo-se minoria em relação ao
número de adeptos de confissão evangélica.
XXIV - IGREJAS EPISCOPAL E CONGREGACIONAL
Protestante Episcopal: A
Igreja da Inglaterra foi a primeira Igreja protestante a se estabelecer na
América do Norte, e o seu primeiro serviço religioso foi celebrado na
Califórnia, no ano de 1579 por Francis Drake. Contudo, só em 1607, com a
fundação de Jamestown, Virgínia, essa Igreja assumia forma definitiva. A Igreja
da Inglaterra era a única reconhecida no período primitivo da Virgínia e outras
colônias do Sul. Quando Nova Iorque, que foi colonizada pelos holandeses,
tornou-se território em 1664, a Igreja da Inglaterra aí foi estabelecida como
igreja oficial da colônia, enquanto outras formas de culto eram permitidas.
A todo clérigo desta Igreja
era exigido um juramento de lealdade à coroa britânica, e, como resultado
natural, quase todos eles foram leais àquela, na guerra da independência. Nessa
época, perseguidos, muitos dos clérigos deixaram o país e no fim da guerra era
difícil achar quem quisesse ocupar as paróquias vazias, principalmente porque o
requisito na ordenação que exigia lealdade â Inglaterra, não podia ser
satisfeito. Porém, em 1784, o Rev. Samuel Seabury, de Connecticut, recebeu
consagração de bispos escoceses, que não exigiam o voto de lealdade à coroa
inglesa.
Nos Estados Unidos essa Igreja
tomou o nome oficial de Igreja Protestante Episcopal, perdendo toda e qualquer
ligação com a Igreja da Inglaterra. Essa Igreja reconhece três
ordens no seu ministério: bispos, sacerdotes e diáconos, e aceita quase todos
os trinta e nove artigos da Igreja Inglesa, modificando apenas para adaptá-los
ao modelo de governo eclesiástico americano. Sua autoridade legislativa
constitui-se de uma convenção geral que se reúne a cada três anos, e é formada
por uma câmara de bispos, e uma outra de delegados, clérigos e leigos eleitos
por convenção nas diferentes dioceses.
Congregacionais: Depois
da Virgínia sob a Igreja da Inglaterra, a segunda região colonizada foi a Nova
Inglaterra. Foi colonizada pelos "Peregrinos", que chegaram a
Plymouth, na Baía de Massachusetts em 1620. Eram "independentes" ou
"congregacionais", e formavam o elemento mais radical do movimento
puritano inglês, exilados da Inglaterra na Holanda, por causa de suas ideias, e
que agora buscavam um lugar nas terras do Novo Mundo. Antes de desembarcarem em
Plymouth se organizaram como uma verdadeira democracia, com um governador e
conselho eleitos por voto popular, ainda que debaixo da bandeira inglesa. A
princípio não se separaram da Igreja da Inglaterra, mas se consideravam
reformadores dentro do seio da igreja. Eles tinham uma forma de pensar e de
adorar a Deus completamente diferente da adotada pela Igreja da Inglaterra por
essa razão foram duramente perseguidos pelas autoridades da dita Igreja.
Tinham, como os
presbiterianos, um credo fundamentalmente calvinista, diferindo apenas na forma
de governo, pois eram congregacionais. Desde 1852 o sistema congregacional tem
alcançado um rápido desenvolvimento nos Estados Unidos. Em 1931 a Igreja
Congregacional e a Igreja Cristã Congregacional, tinham quase dois milhões e
quinhentos mil membros e mais de oito mil igrejas organizadas só nos Estados
Unidos.
XXV - IGREJA REFORMADA E BATISTA
Igreja Reformada: Nova
Iorque, ocupada pelos holandeses em 1613, não chegou a ter uma população de
colonos permanentes senão a partir de 1623. A princípio a colônia teve o nome
de "Novos Países Baixos", e "Nova Amsterdam". A primeira Igreja
aí organizada em 1628, recebeu o nome de Igreja Protestante Reformada
Holandesa, e durante a supremacia holandesa era a igreja oficial da colônia.
Igrejas desta denominação foram estabelecidas ao norte de Nova Jersey e em
ambas as margens do Rio Hudson até Albany. Em 1664 a colônia foi tomada pela
Inglaterra que lhe deu o nome de Nova Iorque como é conhecida até hoje. Desde
aí a Igreja da Inglaterra passou a ser a Igreja oficial. Assim, em 1867, a
palavra "holandesa" foi omitida de seu título, e passou a ser chamada
de Igreja Reformada da América.
As ditas Igrejas reformadas
têm um mesmo sistema de doutrina calvinista, e têm uma organização
governamental parecida com o presbiterianismo, porém, com diferentes nomes para
o seu corpo eclesiástico. A junta governante da igreja local é formada por um
consistório. Os consistórios juntos formam um conselho; os conselhos de um
distrito estão unidos em um sínodo particular, e estes em um sínodo geral.
Igreja Batista: Os Batistas
surgiram pouco depois do começo do século da Reforma, na Suíça, em 1623, e se
espalharam rapidamente ao norte da Alemanha e da Holanda. Na América do Norte,
chegaram com Roger Williams, um clérigo da Igreja da Inglaterra, que vindo à
Nova Inglaterra, foi expulso de Massachussetts porque se recusou aceitar regras
e opiniões congregacionalistas. Fundou a colônia de Rhode Island em 1644, de
onde os Batistas se espalharam por todas as partes do continente.
A Igreja Batista dos Estados
Unidos é congregacional em seu sistema. Cada Igreja é absolutamente
independente de toda a jurisdição exterior e fixa suas próprias normas para os
membros. Foram os Batistas da Inglaterra que formaram a primeira sociedade
missionária moderna em 1792, e enviaram Guilherme Carey como missionário à
Índia. A adoção das ideias Batistas por Adoniram Judson e Lutero Rice, que
foram enviados missionários ã Birmânia, motivou a organização da Convenção
Geral Missionária Batista em 1814, e desde esse tempo os Batistas estão na
vanguarda com um esforço missionário marcado pelo êxito.
XXVI - SOCIEDADE DOS AMIGOS E LUTERANOS
Sociedade dos Amigos: De
todos os movimentos que surgiram da grande Reforma, quem mais combateu as
formas de governo da Igreja foi sem dúvida a "Sociedade dos Amigos",
comumente chamada "Quakers". Esta sociedade, formada por seguidores
dos ensinos de George Fox, na Inglaterra, nunca tomou o nome de Igreja. Fox se
opunha às formas exteriores da Igreja, o ritual e sua organização. Ensinava que
o batismo e a comunhão deviam ser espirituais e não formais; que as sociedades Cristãs
não deviam ter sacerdotes nem ministros, mas que qualquer adorador devia falar
segundo fosse inspirado pelo Espírito Santo, que é a "luz interior" e
guia a todos os verdadeiros crentes; e que os homens e mulheres deviam ter os
mesmos privilégios. Seus seguidores, a princípio chamavam a si mesmos
"Filhos da Luz", porém, mais tarde, "Sociedade dos Amigos".
Os ensinos de George Fox foram
aceitos por multidões que não simpatizavam com o espírito dogmático e
intolerante manifestado nesse tempo pela Igreja da Inglaterra. Perseguidos,
buscavam refúgio na Nova Inglaterra, onde encontraram os puritanos não menos
dispostos que a Igreja da Inglaterra a persegui-los. Pelo menos quatro deles -
entre estes, uma mulher - foram executados em Boston.
"Os Amigos"
encontraram lugar seguro em Rhode Island, onde todas as formas de culto eram
permitidas. Daí formaram colônias em Nova Jersey, Maryland e Virginia. Em o
território da Pennsylvania foi doado a Guilherme Penn, um dos líderes dos
"Amigos", pelo Rei Carlos II. Filadélfia foi fundada em 1682.
A escravidão existia em todas
as colônias, menos entre "Os Amigos". Se interessavam profundamente e
se esforçavam pela cristianização e civilização dos índios americanos, ao visitar
os presos nos cárceres, e em outras atividades filantrópicas. Muitas formas de
trabalho que agora são importantes, foram iniciadas e sustentadas pelos
Quakers, muito antes que fossem consideradas por outros como uma obra legítima
da Igreja. Talvez em razão da falta de um sistema de governo estável, os
Quakers têm se dividido em diferentes ramos, na maioria das vezes por questões
de doutrina.
Luteranos: Em
1638, alguns luteranos suecos se estabeleceram perto do rio Delaware, e
erigiram a primeira Igreja Luterana da América do Norte, perto de Lewes. Porém,
a imigração sueca cessou até o século seguinte. Em 1710 uma colônia de
luteranos procedentes da Alemanha fixou-se em Nova Iorque e Pennsylvania, onde
também fundaram igrejas. Desde aí milhares de protestantes procedentes da
Alemanha e Suécia começaram a chegar, e em 1748 reunia-se o primeiro Sínodo
luterano em Filadélfia. Os luteranos na América, hoje,
acham-se organizados em pelo menos quinze ramos diferentes e independentes.
Como Lutero, aceitam a doutrina da justificação pela fé; creem na ordenança do
batismo e da Santa Ceia do Senhor, não só como um memorial, mas também como
meio de graça Divina. Estão organizados em sínodos que por sua vez formam um
sínodo geral, porém reservando muita autoridade para as Igrejas locais.
XXVII - IGREJAS PRESBITERIANA E METODISTA
Igreja Presbiteriana: As Igrejas
presbiterianas da América do Norte surgiram de duas fontes: a Igreja
Presbiteriana da Escócia, e o movimento puritano da Inglaterra.
Na Nova Inglaterra os
imigrantes presbiterianos, em sua maioria, se uniram às Igrejas
congregacionais, enquanto nas outras colônias organizaram igrejas com modelo
próprio. Uma das primeiras Igrejas presbiterianas na América foi formada em
Snow Hill, Maryland, em 1648. Em 1705, Francisco Makemie e outros ministros
presbiterianos, se reuniram em Filadélfia e uniram suas Igrejas num presbitério
e logo organizaram um sínodo.
Na definição doutrinária desta
Igreja evidenciou-se quão diferente entre si eram os elementos ingleses,
escoceses e irlandeses, que contribuíram para a sua formação em terras da
América. Por essa razão houve divisões no sínodo e presbitérios. Um desses
resultados foi a organização da Igreja Presbiteriana de Cumberland; em 1810, em
Temesse, de onde estendeu-se a outros Estados vizinhos até os mais distantes
Estados do Texas e Missouri. Em 1837, houve uma nova divisão por questões
doutrinárias entre os elementos conhecidos respectivamente como Antiga e Nova
Escola Presbiteriana. Só depois de quarenta anos de separação, quando as
diferenças haviam se dissipado, é que voltaram a se unir.
Há pelo menos dez diferentes
ramos de presbiterianismo nos Estados Unidos. Todos adotam a doutrina
calvinista. A Igreja local é governada por uma junta composta do pastor e
anciãos. As Igrejas estão unidas em presbitérios, e os presbitérios em sínodo.
Acima de todos está a Assembleia Geral, que se reúne cada ano; porém as
mudanças importantes no governo ou na doutrina, requerem a ratificação por uma
maioria constitucional dos presbíteros, a serem aprovadas pela Assembleia
Geral, para poderem chegar a serem leis.
Igreja Metodista: As Igrejas
metodistas existem na América deste 1766, quando os primeiros pregadores
wesleyanos ali chegaram. Constatando que a América era um campo promissor, em
1769, João Wesley enviou dois missionários, Ricardo Broadman e Thomas Pilmoor,
para inspecionar a obra. Mais sete pregadores foram enviados mais tarde à
América entre os quais se destacava Francisco Asbury.
A primeira conferência
metodista nas colônias foi celebrada em 1773, sob a presidência de Thomas
Rankin. A Igreja vinha experimentando desenvolvimento satisfatório sob a
liderança de denodados pregadores. Porém, ao irromper a guerra da
independência, todos, exceto Asbury, deixaram o país, até que a paz foi
restabelecida em 1783.
Como as Igrejas metodistas da
América estavam nominalmente ligadas à Igreja da Inglaterra, Wesley se empenhou
por convencer o bispo de Londres a que consagrasse um bispo para a América do
Norte. Vendo que seus esforços eram em vão, separou o Rev. Thomas Cook, um
clérigo da Igreja Inglesa, como "Superintendente" das Igrejas Metodistas
na América do Norte. Assim, numa conferência de ministros Metodistas em
Baltimore, em 1784, a Igreja Metodista Episcopal foi organizada.
XXVIII - IRMÃOS UNIDOS EM CRISTO
A Igreja dos Irmãos Unidos em
Cristo foi a primeira Igreja trazida do Velho Mundo para a América. Organizou-se na Pennsylvania
e Maryland, como resultado da pregação cheia de calor do Espírito, de dois
homens: Felipe Guilherme Otterbein, originalmente um ministro da Igreja
Reformada Alemã, e Martinho Boehn, um menonita.
Um 1767 Otterbein e Boehn se
viram pela primeira vez numa grande reunião perto de Lancaster, Pennsylvania,
quando o senhor Boehn pregou com extraordinário poder. No final do sermão, o
corpulento senhor Otterbein abraçou o pregador e exclamou: "Somos irmãos".
Desta saudação originou-se o nome oficial da Igreja, que teve sua instituição
formal como Igreja, no Condado de Fredrick, Maryland, em 1800. Nesse tempo
Otterbein e Boehn foram eleitos bispos e formaram um governo sobre a Igreja,
modelado pela democracia americana. Ainda que sua forma de governo seja
diferente da exercida pela Igreja Metodista, pregam a mesma teologia
armiriianá.
Depois de vários anos de
discussão, em 1889 essa Igreja sofreu uma divisão. Uma maioria favorecia uma
revisão da constituição da Igreja concernente aos que pertenciam a sociedades
secretas, como a maçonaria. Os "radicais" formaram uma nova igreja,
enquanto que, os "liberais" reagiram, tomando posse de todas as
propriedades da Igreja, exceto em Michigan e Oregon. Ambos os ramos da Igreja
mantinham o nome de "Irmãos Unidos".
A Igreja dos
"Irmãos" Diferente das outras Igrejas já mencionadas
nesta lição, a Igreja dos "irmãos" (um terceiro ramo da Igreja dos
Irmãos Unidos em Cristo) foi claramente norte-americana desde sua origem.
Começou sua história em 1804, depois de um grande despertamento religioso no
Tennessee e Fentucky, quando o Rev. Barton W. Stone, um ministro presbiteriano,
se desligou dessa denominação e organizou uma Igreja em Cane Ridge, Condado de
Bourbon, da qual a Bíblia seria a única regra de fé, e o seu único nome seria
Igreja Cristã. Poucos anos depois o Rev. Alexandre Campbell, um ministro presbiteriano
da Irlanda, adotou o batismo por imersão, e formou uma Igreja e chamou a seus
seguidores de Discípulos de Cristo.
Tanto Stone como Campbell estabeleceram muitas Igrejas e em 1827 suas
congregações se uniram formando uma Igreja na qual ambos os nomes
"Discípulos" e "Cristãos" foram reconhecidos.
Aceitam tanto o Antigo como o
Novo Testamento, como única regra de fé e prática. Praticam o batismo por
imersão, e o ministram apenas aos adultos. São congregacionalistas na sua forma
de governo. Cada Igreja é independente, porém unidas como denominação para a
obra missionária nacional e estrangeira. Seu ministério é formado por anciãos
escolhidos pelas Igrejas, pastores, diáconos e evangelistas.
XXIX - ASSEMBLEIA DE DEUS
A Assembleia de Deus surgiu
como resultado de um movimento religioso que teve sua origem no princípio do
Século XX, e se espalhou em seguida, com rapidez por todo o mundo.
Em virtude de uma intensa sede
espiritual, no final do Século XIX, grupos de crentes de diferentes
denominações levaram a efeito sucessivas e demoradas reuniões de oração na
busca de um avivamento. Como resultado das atividades desses crentes, surgiram
avivamentos em diferentes lugares dos Estados Unidos e Europa. Caracterizava a
esses avivamentos um intenso fervor evangelístico e sede espiritual revelada em
muita oração. Dava-se também ênfase à operação dos dons espirituais, inclusive
cura Divina para o corpo, e o falar em outras línguas, como sinal da recepção
do batismo com o Espírito Santo. Predominava ainda um zelo missionário baseado
na profunda convicção relativa à iminente volta do Senhor Jesus Cristo.
A origem do Movimento
Pentecostal não se pode atribuir a determinada pessoa, pois existe evidências
de derramamentos simultâneos do Espírito Santo em diferentes lugares do globo.
Um ministro evangélico, chamado Daniel Awrey, recebeu o Batismo com o Espírito
Santo em janeiro de 1890, na cidade de Delawere, Estado de Ohio. Um grupo de
crentes pentecostais realizou uma convenção em 1897, na Nova Inglaterra. Mais
ou menos na mesma época ocorreu um avivamento no Estado da Carolina do Norte.
Em 1900 surgiu um avivamento pentecostal entre um grupo de crentes de
nacionalidade sueca na cidade de Moorhead, Estado de Minnesota.
Pequenos grupos de obreiros Cristãos,
procedentes de um avivamento na cidade de Topeka, Estado de Kansas, no ano de
1901, foram até Oklahoma e posteriormente ao Texas, levando a mensagem
pentecostal. Foi assim que surgiram muitas Igrejas, as quais mais tarde
formaram o Conselho Geral das Assembleias de Deus, nos Estados Unidos.
A mensagem pentecostal se
espalhou com tanta rapidez que recebeu o nome de "movimento". 0 termo
"Movimento Pentecostal" passou a designar a todos os grupos que
buscavam o batismo com o Espírito Santo, acompanhado do falar em línguas,
segundo a inspiração Divina. O movimento se espalhou de forma tão veloz, que
dentro de poucos anos já lançava suas bases em países como Canadá, Chile,
Brasil, Índia, Noruega e Ilhas Britânicas.
Em virtude do movimento
pentecostal ter sido formado originalmente por crentes vindos de diferentes
denominações, portanto, possuidores de diferentes pontos de vista, não demorou
aparecer as diferenças de interpretação doutrinária dentro do movimento. Por essa razão, e com o fim de se definir
doutrinas e forma de governo a serem adotados pelo movimento, realizou-se na
cidade de Hot Springs, Estado de Arkansas, entre 2 e 12 de abril de 1914, a
primeira convenção das Assembleias de Deus nos Estados Unidos. São passados
mais de setenta anos desde o lançamento de suas bases, contudo a Assembleia de
Deus nos Estados Unidos, continua se destacando como uma grande força do Cristianismo
naquela grande nação. Com um número de membros superior a um milhão e
quinhentos mil, a Assembleia de Deus nos Estados Unidos possui um grande
patrimônio, incluindo universidades, e institutos bíblicos, faculdades,
imóveis, editoras, programas de rádio e TV. Ela é reconhecida como uma das Igrejas
que mais crescem na América do Norte, e ainda tem uma operosa obra missionária
apoiada com o trabalho de 1300 missionários, espalhados em todos os
continentes.
XXX - A IGREJA NO BRASIL
O primeiro culto evangélico
celebrado no Brasil, realizou-se no dia 10 de março de 1557, na Ilha de
Villagaignon, no Rio de Janeiro, e foi dirigido pelo pastor Pierre Richier, um
dos três primeiros pastores a chegarem ao nosso continente, quando da vinda ao
Brasil de um grupo de crentes franceses, acossados pelas perseguições
religiosas na Europa. Mais tarde, em 1624, os crentes da frota holandesa, na
Bahia, iniciaram os cultos. Depois, em 14-02-1630, teve início uma série de
cultos no Recife durante a ocupação holandesa. Estes dois últimos casos estavam
ligados à Igreja Reformada Holandesa. Os primeiros cultos em caráter
definitivo, no território brasileiro, foram realizados pela Igreja anglicana do
Rio de Janeiro, desde 1810, para os membros da colônia britânica, constituída
de diplomatas, comerciantes e suas famílias.
No dia 19 de agosto de 1835
chegava ao Rio de Janeiro o Rev. Fontain E. Pits, que viera sondar a possibilidade
de estabelecer a Igreja Metodista em terras brasileiras. Contudo, esse fato foi
reservado ao Rev. R. Justin Spaulding, que deu início à organização de uma
congregação, com quatro membros da colônia americana residente no Rio.
Com um culto realizado a 27 de
julho de 1845 a Igreja Luterana dava início às suas atividades no Brasil. Em 19
de agosto de 1855, em Petrópolis, o Sr. Robert Kalley, fundou a Escola
Dominical, dando assim origem à Igreja Congregacional. No dia 12 de janeiro de
1862, no Rio de Janeiro, o Rev. Ashbel Green Simonton, fundou a Igreja
Presbiteriana. No ano de 1881 chegaram ao Brasil os primeiros missionários Batistas,
William Bagby e Z.C. Taylor. No ano seguinte, isto é, a 15 de outubro de 1882,
fundaram eles a Igreja Batista, em Salvador, na Bahia. Com o número de dezoito
irmãos provenientes da Igreja Batista de Belém, sob a liderança de Gunnar
Vingren e Daniel Berg, no dia 18 de junho de 1911, na cidade de Belém do Pará,
é fundada a Assembleia de Deus no Brasil.
XXXI - O EVANGELHO NA AMÉRICA DO SUL
O avanço do Protestantismo na
América Latina nada tem a ver com conquistas políticas, pois desde o princípio
os sistemas políticos dessa região do mundo, sempre se opuseram à expansão do
Evangelho. As tentativas feitas pelos huguenotes franceses, na década de 1550,
visando estabelecer-se no Brasil, longe das perseguições, foram repelidas pelas
autoridades portuguesas com o aval da Igreja Romana. Os holandeses, que haviam
controlado o nordeste brasileiro por mais de trinta anos, e nesse tempo
estabeleceram um expressivo trabalho evangélico, também foram expulsos em 1661.
Não obstante a oposição sofrida, pelos fins do Século XVIII, a causa
protestante ganhava asas. Foi nesse tempo que as sociedades missionárias
congregacionais e metodistas começaram a operar nessa área, e nas Guianas, no
começo do Século XIX, quando os ingleses e holandeses controlavam esta última
região.
Lutas Pela Liberdade Religiosa:
À
medida que os países dominados pela Espanha e Portugal ganhavam sua
independência, muitas leis discriminatórias foram revisadas, e na constituição
desses países a palavra proíbe começou a ser trocada por permite; "permite-se o exercício público de outras
religiões".
Mudadas as leis opressivas em
leis favoráveis, as Igrejas protestantes começaram a aumentar. Nas Guianas, que
nunca conheceram o domínio espanhol ou português, se achava o maior número de
protestantes. Os moravianos, que haviam chegado ali em 1738, formavam um total
de quase 9000 membros. Os Metodistas anunciavam contar com mais de 4000
membros. Em 1900, as Igrejas desses dois pequenos países constituíam quase 50%
dos membros das Igrejas evangélicas da América do Sul. À sombra da inquisição,
o clero romano com o aval de muitos governantes infligia perseguições extremas
aos evangélicos na América Latina, o que de certa forma aumentava o zelo dos
crentes e a expansão das Igrejas.
Depois de 1890, o Brasil
reconheceu a "absoluta igualdade" entre as diferentes Igrejas aqui
existentes. Isso permitia que centenas de Igrejas fossem estabelecidas de
imediato. Todavia, a igualdade diante da lei frequentemente era desrespeitada
pela Igreja Romana, que se contentava em levantar sucessivas ondas de perseguição
às Igrejas evangélicas do Brasil e de outros países latino-americanos.
É digno de nota que mesmo
depois de 1900, países da América Latina como o Chile, Colômbia, Venezuela,
Argentina, Peru, Uruguai, Paraguai, Equador e Bolívia, só com grande relutância
abriram as suas portas aos evangélicos, ao passo que as Igrejas evangélicas do
Brasil se multiplicavam de maneira surpreendente.
Chegam as Primeiras Bíblias: Coube
às Sociedades Bíblicas Americana e Britânica a honra de fazer entrar na América
Latina as primeiras Bíblias, no começo do Século XIX. A distribuição de Bíblias
foi feita lentamente, até que surgiram bravos colportores, homens capazes e
entusiastas que devotavam tempo integral no trabalho de venda e distribuição
das Escrituras. Não poucos deles foram alvo de ataques, perseguições e prisões
por parte de sacerdotes católicos. Alguns deles são lembrados hoje como
apóstolos da causa da liberdade religiosa em seu país. Entre os quais se
destacaram Penzotti, no Peru, e Tonelli, no Brasil. Não poucos desses homens
sofreram o martírio como preço da nobre causa que abraçaram.
James Thomson: Um dos
mais famosos colportores desse período de pioneirismo, foi James Thomson, cuja
coragem e amor Cristão o levou a percorrer toda a extensão da costa ocidental da
América do Sul e atravessar a América Central, o México e a área do Caribe,
levando uma Bíblia debaixo do braço. Thomson destacou-se não só como um
colportor e educador Cristão, mas também como um ardoroso evangelista. Suas
cartas enviadas à Inglaterra, sua pátria, revelam seu interesse e hipotecam
confiança no futuro das Igrejas evangélicas da América Latina.
Contam-se nos relatos que
muitas Igrejas foram estabelecidas mediante o testemunho exclusivo de algum
leitor da Bíblia, que compartilhava com outros da realidade de sua descoberta
da verdade divina lendo a Palavra de Deus. Muitos têm dito que o padrão era
claro e simples: primeiro aparecia uma Bíblia, depois um convertido, e a
seguir, uma igreja.
F. C. Glass, um dos
colportores pioneiros do Brasil, asseverou: "Em dezenas de lugares onde
vendi os primeiros exemplares das Escrituras que o povo via pela primeira vez,
existem fortes Igrejas atualmente... Na maioria dos casos, quase
invariavelmente, primeiramente aparecia a Bíblia e depois o pregador, excetuando
aqueles casos em que o colportor era também o evangelista; noutros casos, a
Bíblia e o pregador surgiam ao mesmo tempo. Não me lembro de uma única
instância em que a Bíblia tenha surgido em segundo lugar. Falando por
experiência pessoal, portanto, devo dizer que se alguém quiser abrir uma nova
área, a primeira coisa a ser feita é enviar alguém munido de uma Bíblia".
XXXII - IMPLANTAÇÃO DE IGREJAS NO PRINCÍPIO
Dentre os primeiros fundadores
de igrejas na América Latina, destaca-se o médico presbiteriano escocês, Robert
Reid Kalley. Kalley tem sido chamado de "apóstolo da ilha da Madeirara',
porque estabeleceu muitas congregações evangélicas naquela ilha, e distribuiu
três mil cópias da Bíblia, preparando o caminho para a criação de um ministério
completo ali.
Expulso da ilha da Madeira por
perseguição religiosa, Kalley veio para o Brasil, onde começou um eficiente
trabalho missionário a partir de 1855. Não obstante perseguido também no
Brasil, seu ministério produziu frutos maduros desde os primeiros momentos.
Antes de retirar-se do Brasil, em 1876, Kalley havia implantado Igrejas no
Estado de Pernambuco, em Niterói, e no Rio de Janeiro. Foi Kalley quem a 19 de
agosto de 1855, na cidade de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, organizou a
primeira Escola Dominical no Brasil. O hinário intitulado Salmos e Hinos, que
continua em uso em muitas Igrejas de língua portuguesa; é uma espécie de
homenagem ao Dr. Kalley, pois mais de cinquenta hinos ali contidos foram
escritos por ele. Sobre Kalley, alguém escreveu: "0 apóstolo da ilha da
Madeira exerceu um apostolado de proporções mais vastas e em uma área muito
maior do que os limites de uma diocese em uma ilha. As delimitações de sua
província de testemunho Cristão e de serviço evangélico não estavam
determinadas pela geografia, mas obrigatoriamente coincidiram com aquelas áreas
esparsas e longínquas onde o português era o idioma falado. Quão grande é a
dívida a um homem pelo povo que partilha de uma língua comum".
A Liberdade é Estabelecida: No
começo do Século XX, a liberdade de culto era estabelecida. Tornou-se possível
o desenvolvimento desembaraçado das Igrejas. Os primeiros dezesseis anos do
Século XIX marcaram um novo tipo de crescimento para as jovens igrejas
evangélicas da América Latina. Foram anos de transferências de missionários
estrangeiros para o interior do continente, enquanto que, os trabalhos fundados
eram passados às lideranças de valorosos obreiros nacionais.
Primórdios Pentecostais: As Igrejas
pentecostais de maior expressão da América Latina, tiveram um começo comum: os
avivamentos que varreram regiões da América do Norte e da Europa.
A Assembleia de Deus, que
forma hoje a maior denominação evangélica da América Latina, atribui as suas origens
ao monumental reavivamento da rua Azuza, em 1906, na cidade de Los Angeles, da
Califórnia. Gaxiola Lopes, escreve a história pentecostal do México, dizendo
que essa Igreja tem suas origens também no reavivamento da rua Azuza.
A Congregação Cristã no Brasil
também deve seus primórdios ao avivamento da rua Azuza. Segundo a história
dessa Igreja, foi em Chicago que Luis Francescon recebeu a experiência
pentecostal do batismo com o Espírito Santo, e então ele e um companheiro
partiram para o Brasil em 1909. 0 resultado dessa viagem foi o estabelecimento
da Congregação Cristã no Brasil, destinada a tornar-se a segunda maior Igreja
evangélica do Brasil. Na Argentina, a Assembleia de Deus começou mais ou menos
no mesmo tempo, e embora muito menor que a Assembleia de Deus no Brasil, é hoje
uma das maiores denominações pentecostais naquele país.
As notícias do avivamento
ocorrido na rua Azuza, em 1906, sem demora atingiram diferentes regiões do
mundo, estendendo-se até a Índia. 0 pastor Willis C. Hoover, ministro da Igreja
Metodista que trabalhava no Chile, recebeu uma carta de um conhecido seu que
trabalhava na India, através da qual explicava os efeitos da experiência
pentecostal na vida de muitos conhecidos seus num posto missionário na India.
Por essa razão, Hoover assistiu um culto numa Igreja em Chicago, onde teve a
experiência do batismo com o Espírito Santo. Através dele as chamas do fogo do
Espírito Santo foram lançadas nos campos do Chile.
Outros exemplos revelam
começos semelhantes entre Igrejas pentecostais da América Latina, o que
resultou numa nova dimensão da expansão da Igreja. Estas igrejas têm se
antecipado ao tempo e ao progresso, de sorte que hoje, onde chega o progresso
através de estradas, escolas e comunicações, ai há sempre uma Igreja pentecostal
saudando-os bem-vindos.
XXXIII - PRIMÓRDIOS DA IGREJA EVANGÉLICA NO
BRASIL
Já muito cedo na história do
Brasil, temos notícia de pessoas evangélicas aqui. Pelo ano de 1530, por
exemplo, vivia em São Vicente, Estado de São Paulo, um escrivão chamado
Heliodoro Hessus, filho de Eobano Hessus, amigo de Martinho Lutero. Mais
conhecido ainda, tornou-se o nome de Hans Staden, um luterano amigo de Hessen
que, pelo ano de 1550, viveu por algum tempo no Brasil. Tais notícias foram
confirmadas pelo padre José de Anchieta que relata ter encontrado em São
Vicente defensores de ideias luteranas.
Chegada dos Huguenotes no Rio
de Janeiro: O vice-almirante francês Nicolau Durand de
Villegaignon, ouvindo falar das maravilhas das terras do Brasil,
recém-descobertas, com o apoio do almirante Gaspar de Coligny, conseguiu de
Henrique II, rei da França, dois navios equipados com víveres, e munido de
artilharia, partiu em rumo às terras que tanto ambicionava. Nessa expedição, Villegaignon não teve o
devido cuidado na seleção dos homens que o acompanharam, o que resultou numa
grande conspiração dos seus homens contra o vice-almirante. Debelada a
conspiração, 16 dos conspiradores foram executados.
Informado do parcial fracasso
da expedição chefiada pelo seu protegido, o próprio almirante Coligny,
arregimentou e chefiou a segunda expedição formada por 300 homens, e mais três
navios. Entre os tripulantes dos três navios, havia 14 Cristãos huguenotes de
renome, chefiados por Filipe de Gorguilarai. Havia também dois pastores cujos
nomes são: Pierre Richier e Guilhaume Chartier. Outros nomes de Cristãos que
integravam a comissão dos catorzes, são os seguintes: Pierre Bourdon, Mathieu
Varneuil, Jean du Bordel, André La-Fon, Nicolas Denis, Jean de Gardien, Martin
David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmau, Jacques Rosseau, e o historiador da
expedição, Jean de Leri.
Após quatro meses de viagem,
da França ao Brasil, a expedição chegou ao porto do Rio de Janeiro no dia 7 de
março de 1557. Villegaignon recebeu festivamente os Cristãos, pois estes
mereciam sua confiança e neles estava a esperança de êxito da conquista desta
parte da América.
0 Primeiro Culto Realizado no
Brasil: O desembarque dos huguenotes deu-se no dia 10 de março de
1557, e no mesmo dia realizou-se o primeiro culto em terras brasileiras.
Dirigiu o culto, o pastor Pierre Richier, que pregou baseado no versículo 4 do
Salmo 27. Na ocasião foi cantado o Salmo 5. Onze dias depois, ou seja, no dia
21 de março de 1557, domingo, organizou-se a primeira Igreja evangélica do
Brasil, oportunidade que foi aproveitada para celebração da Ceia do Senhor. O
vice-almirante Villegaigon foi o primeiro a participar da Ceia do Senhor,
entretanto, mais tarde traiu e perseguiu os Cristãos. Por sua ordem foram
executados Jean de Bourdel, Mathieu Vèrneiuil e Pierre Bourdon. Por esta ação,
os historiadores passaram a chamá-lo de "Caim da América". Também no
dia 20 de janeiro de 1567, quando eram lançados os fundamentos da cidade do Rio
de Janeiro, por ordem de Mem de Sá, com a assistência do Padre José de
Anchieta, foi executado Jacques le Balleür, Cristão chegado ao Brasil na
expedição chefiada por Villegaigon.
XXXIV - IGREJAS LUTERANA E METODISTA
Igreja Luterana: A
primeira Igreja Luterana chegou ao Brasil com os alemães, que emigraram para o
Sul do Brasil, por volta de 1800. Representando o tipo de Protestantismo
confessional, era um ramo excluído da Igreja oficial da Alemanha.
Nas Igrejas luteranas todos os
nascidos na Igreja são batizados na infância. Durante quase sessenta e cinco
anos, os cultos das Igrejas luteranas foram celebrados em alemão. Porém, nestes
últimos anos, passaram a ser efetuados também em português. Muitas Igrejas estão
abandonando completamente o idioma alemão nos seus cultos.
Extensão da Igreja Luterana no
Brasil: Os luteranos alemães dividem-se em três sínodos: o sínodo
do Rio Grande do Sul, que abrange a parte meridional de Santa Catarina e todo o
Estado do Rio Grande do Sul; o de Santa Catarina e Paraná, e o sínodo do Brasil
Central, que inclui o Rio de Janeiro, Petrópolis, Nova Friburgo, Belo
Horizonte, Teófilo Otoni, Juiz de Fora, São Paulo, Rio Claro, Santos e
Campinas.
Até 1945, a maioria dos
pastores provinha da Alemanha, porém, a partir desse ano o elemento brasileiro
da Igreja, tomou a iniciativa de ter um ministério nacional. Daí resultou o
estabelecimento, em 1946, de um seminário em São Leopoldo, no Rio Grande do
Sul, para preparar luteranos brasileiros para o pastorado das Igrejas.
Administração e Constituição
da Igreja Luterana: Os órgãos administrativos da Igreja Evangélica
de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), estão assim distribuídos:
a) Concilio
Eclesiástico;
b) Conselho Diretor;
c) o Presidente da Igreja, eleito pelo
Concilio Eclesiástico com mandato de oito anos.
A nova constituição da Igreja
Luterana, prevê quatro unidades eclesiásticas:
1) a Paróquia, composta de uma
ou mais comunidades;
2) o Distrito Paroquial, composto de determinado número de
Paróquias,
3) A Região Eclesiástica, sobre cujo número e delimitação decidirá o
Concilio Eclesiástico,
4) a Igreja.
Simultaneamente com a
centralização, a constituição da Igreja Luterana prevê uma descentralização. As
diferentes regiões onde se encontram as paróquias, são presididas por um pastor
superintendente, de tempo integral, que exerce as suas funções de guia
espiritual não só em virtude de sua eleição pelo Concilio Regional, mas
simultaneamente, em nome do Conselho Diretor da Igreja Evangélica de Confissão
Luterana do Brasil, devendo ser pessoa de confiança do mesmo.
Igreja Metodista: Os Metodistas
marcam o início de sua obra no Brasil, em 1835, quando o Rev. Foutain E. Pitts,
foi enviado à América do Sul em viagem missionária, e como observador, nas
principais cidades do continente.
Primeiros Esforços
Missionários Metodistas: Em março de 1836, o Rev. Justin Spaulding
foi designado como o primeiro missionário metodista ao Brasil. Seus esforços
iniciais na implantação de Igrejas foram encorajadores e de grande êxito. Assim
sendo, escreveu à sede de sua missão na América, pedindo reforço missionário.
Foi então que em 1837, o Rev. D.P. Kidder, que possuía um pouco de conhecimento
da nossa língua, veio ao Brasil, viajando por vários Estados como colportor,
visitando São Paulo, Bahia, Pernambuco e Pará. Em 1840, em razão do falecimento
de sua esposa, em companhia de um filho menor, Kidder teve de voltar para os
Estados Unidos. Justin ficou no Brasil até 1841, quando se esgotaram os fundos
missionários.
Extensão da Obra Metodista no
Brasil: Os Metodistas do Sul dos Estados Unidos, após sofrerem os
anos difíceis da Guerra Civil, conseguiram em 1874, comissionarem J. Newman na
qualidade de missionário episcopal metodista do Sul, para o Brasil. Em 1876 foi
enviado o Rev. J. J. Ranson, do Concilio de Tenessee, também como missionário
metodista ao Brasil. Trabalhou no Rio de Janeiro, São Paulo e Piracicaba, até
1886.
Em 1886, o Bispo Granbery, um
dos líderes do Metodismo na América, fez uma famosa visita ao Brasil. Nessa
época havia três casais de missionários trabalhando no Brasil. A missão já
contava então com sete igrejas organizadas, seis pregadores brasileiros, três
missionários (pregadores itinerantes), 219 membros comungantes, 164 alunos da
Escola Dominical e três prédios, onde funcionavam as Igrejas.
Em 1930, a Igreja Metodista do
Brasil foi organizada com sua própria constituição e estatutos, e com um plano
de cooperação entre a Igreja Metodista do Brasil e a Igreja Metodista dos
Estados Unidos.
A obra missionária Metodista
localizou-se nos maiores centros urbanos do Brasil, por exemplo: Rio de
Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Juiz de Fora, Piracicaba, Belo Horizonte,
Salvador, Recife e Brasília. Historicamente, a Igreja Metodista tem sido agente
de uma grande expansão, onde quer que se tenha organizado, contudo ela tem
sofrido limitações, pelo fato de ainda não ter adquirido uma visão nacional da
obra, se deixando levar muito pela influência missionária estrangeira do
princípio.
XXXV - IGREJAS BATISTA E PRESBITERIANA
Igreja Batista: O
primeiro pregador Batista a trabalhar no Brasil, foi um missionário
norte-americano que chegou ao Rio de Janeiro em 1859, mas que por problemas de
saúde se viu forçado a voltar à sua pátria em 1861.
O segundo esforço Batista em
terras brasileiras se deu entre colonos norte-americanos, que viviam em Santa
Bárbara, próximo a Campinas, Estado de São Paulo. Dentre esses colonos, um
grupo de Batistas fundou a 10 de setembro de 1871 a Igreja Batista de Santa
Bárbara. Uma segunda Igreja foi fundada em janeiro de 1879. Os ofícios do culto
eram celebrados em inglês, a língua dos colonos, limitando-o, portanto, aos
próprios colonos. Não demorou para que essas Igrejas deixassem de existir.
Primeiros Missionários
Batistas no Brasil: Embora a primitiva Igreja Batista de Santa
Bárbara não fosse uma Igreja missionária, ela manifestou ideal missionário, e
provou isto quando em carta escrita à Convenção Batista do Sul dos Estados
Unidos, apelava no sentido de que fossem enviados missionários ao Brasil. Foi
Assim que o primeiro casal de missionários, William Bagby e Ann Luther Bagby,
foi enviado a trabalhar no Brasil.
Chegando no Rio de Janeiro,
William e Ann seguiram de imediato para Santa Bárbara, onde com a ajuda do
ex-padre católico, Antônio Teixeira Albuquerque, agora convertido ao Evangelho,
adquiriram as primeiras noções de português, e bastante informação sobre a
gente e costumes do Brasil. Menos de um ano depois, chega a Santa Bárbara outro
casal missionário Batista, Zachary e Kate Taylor. Bagby e Taylor logo
empreenderam uma longa viagem pelo interior do Brasil, a procura de melhor
lugar onde fincar as primeiras estacas da obra Batista em nossa pátria.
Fundação da Primeira Igreja
Batista Brasileira: Após visitar diferentes regiões do Brasil, e
após demorado período de oração, Bagby e Taylor, decidiram-se pela cidade de
Salvador, capital da Bahia, onde com cinco membros fundadores, William e Ann
Bagby, Zachary e Kate Taylor, e Antônio Teixeira de Albuquerque, em 15 de
outubro de 1882 organizaram a Primeira Igreja Batista da Bahia, portanto, a
primeira Igreja Batista Brasileira.
Igreja Presbiteriana: Ashbel
Green Simonton, enviado pela Junta de Missões Estrangeiras da Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos da América do Norte, chegou ao Rio de Janeiro
em 12 de agosto de 1859. Na chegada, Simonton pregou nos barcos da baía, e fez
amigos entre colonos norte-americanos e ingleses do Rio de Janeiro. Oito meses
após sua chegada, a 12 de abril de 1860, organizou uma Escola Dominical com a
assistência de apenas cinco crianças. Em maio de 1861, Simonton deu início à
sua primeira série de sermões, e a 12 de janeiro de 1862 recebeu duas pessoas
por profissão de fé, como os primeiros membros da Igreja Presbiteriana em solo
brasileiro. Nesta data Simonton deu por fundada a Igreja Presbiteriana no
Brasil.
Qualidades de Simonton: O
diário do Rev. Simonton, que se encontra na Biblioteca da Comissão de Relações
Ecumênicas de Nova Iorque, o apresenta como um homem de qualidade afável,
portador de dons incomuns, de coração e espírito inflamado pelo zelo
evangélico, e de denodado amor pelos brasileiros. Após mais de dez anos de
frutífero ministério no Brasil, Simonton contraiu a febre amarela, vindo a
falecer aos trinta e quatro anos de idade.
Alexandre Blackford: Alexandre
Blackford, cunhado de Simonton, viera para ajudar na obra, chegando ao Brasil a
25 de abril de 1860. Cooperou com Simonton no Rio de Janeiro, de onde partiu
para o Estado de São Paulo para aí fundar igrejas. Deus abençoou o seu
trabalho. Blackford viu organizarem-se três Igrejas, antes de voltar para o Rio
de Janeiro, a fim de assumir o pastorado da Igreja Presbiteriana, após a morte
de Simonton. Outros missionários vieram ajudar, cooperando com o pequeno grupo
de fundadores de igrejas. Entre esses se destacaram, Schneider e Chamberlain.
Nesse período, fundaram-se igrejas no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia,
em Pernambuco e em Minas Gerais.
Dificuldades e Divisões: De
1883 a 1903 a Igreja Presbiteriana teve um período de dificuldades e divisão,
dificuldades assinaladas pela morte de valorosos missionários que serviam à
causa no Brasil. Foram eles: George Thompson, J.W.Dabney, Carrie Cunningham,
Pinkerton e James Dick, todos com menos de trinta e cinco anos de idade.
A primeira e principal divisão
sofrida pela Igreja Presbiteriana, deveu-se principalmente à campanha feita
pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira, para a remoção de missionários estrangeiros
dos Presbitérios e do Sínodo da Igreja, após 1888. Em 1889, a questão da
Maçonaria veio juntar-se à controvérsia. Iniciou-se o debate quando um leigo, o
Dr. Nicolau Soares do Coutro Esher, afirmou que os Cristãos tinham liberdade de
manter suas relações com a Maçonaria. O Rev. Eduardo Carlos Pereira assumiu
posição oposta. Daí resultou uma controvérsia cada vez mais crescente na nova
igreja, que culminou com a divisão no seio da Igreja Presbiteriana, formando-se
a Igreja Presbiteriana Independente.
XXXVI - A ASSEMBLEIA DE DEUS
Os historiadores que se ocupam
com o estudo do avivamento pentecostal do nosso século (XX), são unânimes em
mencionar Azuza Street, em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos, como o
centro irradiador de onde o despertamento pentecostal se espalhou por outras
cidades e nações.
Dentre as grandes cidades
americanas que foram visitadas pela influência do avivamento pentecostal, se
destaca a cidade de Chicago. Enquanto o avivamento conquistava terreno e dominava
a vida religiosa da cidade, fatos de alta importância estavam acontecendo
também nas cidades vizinhas, entre dois jovens, que ficaram intimamente ligados
à história da Assembleia de Deus no Brasil. São eles: Gunnar Vingren e Daniel
Berg.
Gunnar Vingren: Em
Menomiee, Michigan, morava um jovem pastor Batista, que se chamava Gunnar
Vingren, nascido em Ostra Husby, Ostergöthand, Suécia, em 8 de agosto de 1879.
Atraído pelos acontecimentos do avivamento em Chicago, Vingren foi a essa
cidade, a fim de certificar-se da verdade. Ante a demonstração do poder Divino
testemunhado, o jovem pastor creu e foi batizado com o Espírito Santo,
O Encontro Com Daniel Berg: Pouco
tempo depois, Gunnar Vingren participava de uma convenção de Igrejas Batistas,
em Chicago, onde conheceu outro jovem que se chamava Daniel Berg que também
fora batizado com o Espírito Santo. Daniel Berg nasceu na aldeia de Vargön, na
Suécia, onde viveu até a idade de dezessete anos. Os dois jovens trocaram
ideias e chegaram à feliz conclusão que Deus os guiava para a obra missionária;
restava saber onde.
Algum tempo depois, Daniel
Berg foi visitar Gunnar Vingren. Nessa ocasião, em uma reunião de oração na
casa de um irmão de nome Adolpho Ulldin, através de uma mensagem profética,
Deus falou ao coração de Gunnar Vingren e Daniel Berg, que partissem a pregar o
Evangelho em terras distantes. 0 lugar para onde deviam seguir foi mencionado
na profecia, como sendo o Pará. Eles não sabiam onde ficava essa região, mas
após consultarem mapas, verificaram que se tratava do Brasil.
Rumo ao Brasil: Gunnar
Vingren e Daniel Berg, despediram-se da Igreja e dos irmãos em Chicago, e com
uma pequena ajuda financeira e orações de irmãos e amigos, a bordo do navio
Clement, partiram a 5 de novembro de 1910, da cidade de Nova Iorque, para Belém
do Pará. Quatorze dias depois, isto é, a 19 de novembro do mesmo ano, os dois
missionários desembarcaram na cidade de Belém. Não possuíam eles, amigos ou
conhecidos nessa cidade. Não traziam endereço de alguém que os encaminhasse a
algum lugar. Vinham encomendados unicamente à graça de Deus, e tinham a
protegê-los o Deus de Abraão. Sentados num banco da atual Praça da República,
em Belém, fizeram a primeira oração em terras brasileiras.
Chegada ao Brasil: Por
insistência de alguns passageiros com os quais viajaram, Gunnar Vingren e
Daniel Berg hospedaram-se num modesto hotel, cuja diária completa era de oito
mil réis. Em uma das mesas do hotel o irmão Vingren encontrou uma revista que
tinha o endereço do pastor Metodista Justus Nelson. No outro dia procuraram
esse pastor, e graças à sua ajuda Vingren e Berg foram levados à Igreja Batista
de Belém, quando foram apresentados ao responsável pelo trabalho, evangelista
Raimundo Nobre. Logo os missionários passaram a residir numa das dependências
do templo daquela Igreja.
No mês de maio de 1911, mais
ou menos seis meses após a chegada de Vingren e Berg ao Brasil, falando um
português de nível regular, Vingren teve a sua primeira oportunidade de dirigir
um culto a pedido dos diáconos da Igreja Batista. Vingren leu alguns versículos
que tratavam da obra do Espírito Santo no crente, enquanto os diáconos abriam
suas Bíblias para conferir se o que Vingren lia estava correto. Aparentemente
eles ficaram contentes com o que Vingren dizia, de sorte que o convidaram a
continuar dirigindo os cultos das noites seguintes, durante uma semana. Pela
maneira extraordinária com que Deus operou, ao longo daquela semana, batizando
com o Espírito Santo e curando enfermos, Vingren foi advertido. Quanto a isto
escreve o próprio Gunnar Vingren: "Todos os demais que tinham vindo da Igreja
Batista creram então que isto era uma obra de Deus, todos menos dois, o
evangelista (Raimundo Nobre) e a mulher de um diácono... Na terça-feira
seguinte ele (Raimundo) convocou os membros da Igreja para um culto
extraordinário e não permitiu que o pastor falasse. Ele (o evangelista) somente
disse: "Todos os que estão de acordo com a nova seita, levantem-se".
Dezoito irmãos se levantaram e foram imediatamente cortados da comunhão da Igreja.
"Estes dezoito irmãos
saíram então da igreja Batista para nunca mais voltar. Isto aconteceu no dia 13
de junho de 1911", (Gunnar Vingren, Diário do Pioneiro, pág. 33).
Consumada a Exclusão: Consumada
a exclusão, o pequeno grupo de dezoito irmãos, convidou os missionários Gunnar
Vingren e Daniel Berg para dar-lhes a necessária orientação espiritual naqueles
momentos decisivos da vida. Foi assim que, juntos, no dia 18 de junho de 1911,
à Rua Siqueira Mendes, 67, na cidade de Belém, deu-se a fundação da Assembleia
de Deus no Brasil.
Repercutiram profundamente,
entre as várias denominações evangélicas, os acontecimentos que culminaram com
a fundação da Assembleia de Deus. Essas denominações se uniram para combater o
Movimento Pentecostal. Quem ler os livros "Gunnar Vingren, 0 Diário do
Pioneiro" e "Enviado Por Deus - Memórias de Daniel Berg", há de
conscientizar-se que duras e injustas foram as perseguições e injúrias sofridas
pela Assembleia de Deus no princípio. Perseguições injustas, mas nem sempre
inúteis.
Progresso no Interior do
Estado: Não obstante as perseguições e dificuldades sofridas, as
boas novas do Evangelho e o ardor pentecostal espalhavam-se pelo interior do
Estado do Pará com tanta rapidez, como se fossem conduzidos por asas de anjos
velozes. Fortes trabalhos surgiram da noite para o dia aqui e ali, numa
demonstração incontestável de que essa obra nascera do rio das intenções de
Deus. Enquanto Gunnar Vingren concentrava maior parte de seus esforços com a
obra em Belém, Daniel Berg, com infatigável labor, visitava o interior do
Estado distribuindo exemplares das Sagradas Escrituras e pregando o Evangelho
transformador.
Separados os Primeiros
Pastores: Antes do trabalho haver completado dois anos, a falta de
obreiros já era sentida em várias localidades onde se estabeleceram igrejas e
congregações. Foi assim que, por orientação Divina, o missionário Gunnar
Vingren separou no mês de fevereiro de 1913, Absalão Piano, como o primeiro
pastor da Assembleia de Deus no Brasil. 0 segundo foi Isidoro Filho, o terceiro
foi Crispiniano de Melo, o quarto foi Pedro Trajano, e o quinto foi Adriano
Nobre.
O Espírito Missionário da
Igreja: Haviam se passado apenas dois anos desde que a Assembleia
de Deus iniciara suas atividades, e já iniciava as suas atividades 173
missionária, enviando a 4 de abril de 1913, o pastor José Plácido da Costa como
missionário a Portugal. Era essa a primeira demonstração viva e prática do
espírito missionário ao estrangeiro, de uma Igreja que contava apenas dois anos
de organização.
A Chegada de Reforços: A
partir de 1914 outros missionários foram chegando a Belém. Nesse ano chegou o
missionário Otto Nelson. Em 1916 chegou Samuel Nystron. No dia 21 de março de
1921, chegou a Belém, vindo da América do Norte, o missionário Nels Nelson.
Muitos obreiros nacionais de indescritível valor, surgiram nessa época, os
quais fizeram da cidade de Belém o ponto catalizador de esforços para expansão
da Assembleia de Deus e do Movimento Pentecostal em todo o Brasil.
Expansão da Assembleia de Deus:
Quando
Gunnar Vingren deixou Belém, no mês de abril de 1924, de mudança para o Rio de
Janeiro, a Assembleia de Deus já era uma realidade presente nas principais
cidades do interior do Pará e em algumas capitais de Estados e Territórios
brasileiros. As possíveis datas e respectivos fundadores das Assembleias de
Deus em algumas capitais brasileiras, constam do livro: "História das
Assembleias de Deus no Brasil", compilada por Emílio Conde, e editados
pela CPAD – Casa Publicadora das Assembleias de Deus.
Pastor Jorge Albertacci
Volta Redonda – Rio de Janeiro
www.jorgealbertacci.com.br
www.prjorgealbertacci@yahoo.com.br
BIBLIOGRAFIA
CPAD – HORTON, Stanley M.
Teologia Sistemática, uma perspectiva Pentecostal.
CPAD – Dicionário Bíblico Wycliffe.
CANDEIA – Enciclopédia Bíblica e Filosofia R.N.Champlin Ph,D.
CPAD – Lições
Bíblicas EBD.
CPAD – Pr. Raimundo de Oliveira -
Seitas e Heresias.
EETAD – Escola de
Educação Teológica das Assembleias de Deus.
Robert C. Waton –
História da Igreja em Quadros.
CPAD – Os Pais da
Igreja – Hans Von Campenhausen.
CPAD – John Fox – O Livro dos Mártires.
CPAD – Eusébio de Cesareia – História Eclesiástica.
Vida Nova – Walter A. Elewell – Enciclopédia Histórico Teológica
da Igreja Cristã – Vol. III.