História da Igreja Vol II - Estudos Bíblicos

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Estudos Bíblicos
Pr. Jorge Albertacci
Levantai os vossos olhos para as terras que já estão brancas para a colheita. (João 4:35)
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História da Igreja Vol II

Igreja
HISTÓRIA DA IGREJA
Volume II
I - A EXTENSÃO DA REFORMA
A excomunhão de Lutero em nada afetou-lhe o ímpeto de reformador; ela contribuiu, sim, para dar maior dinamismo à sua pena e mais calor a seus sermões. Livros e mais livros foram escritos, através dos quais, eram lançadas chamas do Evangelho sobre corações sequiosos através da Alemanha e países vizinhos. Foi nesse clima de euforia que a partir de 1520 os ensinos reformistas de Lutero dominaram rapidamente aquela parte do mundo.

A maioria dos monges, antes indiferentes ao que ocorria fora dos conventos, deixou seus claustros para pregar as Boas Novas do Novo Testamento. Nesse tempo, não poucos sacerdotes romanos tornaram-se luteranos, sendo o exemplo deles seguido por muitos dos fiéis de suas paróquias. Também, não poucos bispos fizeram o mesmo. Muitos humanistas famosos dedicaram sua cultura propagando e defendendo esta nova expressão do Cristianismo.

A Reforma, já fora dos limites da Alemanha, estava produzindo considerável alteração no modo de vida do povo em outras regiões da Europa. Deixou de ser um movimento de conotação simplesmente anti-papal, para tornar-se num dos maiores avivamentos religiosos da história da Igreja. Surgiram também, logo depois muitos outros movimentos reformistas, paralelos, destacando-se precisamente na Suíça, França, Escócia e Inglaterra, sobre os quais trataremos de forma detalhada a seguir.

II - ZUÍNGLIO E A REFORMA NA SUÍÇA

A Suíça do Século XVI era uma confederação de treze pequenos Estados, chamados "cantões", formado por um povo de espírito patriótico e amigo da democracia. Mas, como em outros lugares da Europa, a Igreja tinha ali, sobre si, o monopólio político dos governantes e as diretivas religiosas do papa de Roma. Mas o povo não estava satisfeito com o que acontecia, o que contribuiu para que a Suíça tomasse novos rumos políticos e religiosos com a nova concepção da vida resultante da Renascença.

Ulrico Zuínglio: Quando Ulrico Zuínglio nasceu a 19 de janeiro de 1484, Martinho Lutero tinha apenas 52 dias de idade. Graças a influência do tio que era pároco em Wildhaus, vila onde morava; Zuínglio conseguiu uma educação apurada, tendo chegado a estudar em universidades famosas como as de Viena e de Basiléia. Teve como mestre, muitos dos homens tidos como grandes expoentes do pensamento renascentista, destacando-se entre eles o grande humanista, Tomás Wyttenbach, que lhe marcou a vida por ensinar-lhe a Divina autoridade da Bíblia, a morte de Jesus Cristo como o preço único do perdão e a inutilidade das indulgências. Não se tem conhecimento de que Zuínglio tenha passado por uma experiência de conversão tão dramática quanto a de Lutero. Sabemos, sim, que a sua atitude religiosa foi sempre mais intelectual e radical que a de Lutero. Zuínglio tornou-se sacerdote somente por haver outros clérigos na família.

Zuínglio e Suas Ideias Evangélicas: Em Glarus, Zuínglio teve a sua primeira paróquia. Foi aí que ele se aprofundou nos seus estudos das Escrituras à luz do ensino reformista. Conta-se que quando o Novo Testamento grego de Erasmo veio à luz em 1516, Zuínglio o tomou emprestado de um amigo, copiou à mão as epístolas de Paulo e as lia constantemente. Residindo como sacerdote em Einsiedeln, lugar onde iam muitos peregrinos, Zuínglio ficou profundamente triste e revoltado com o espírito de idolatria, insensatez e superstições reinantes entre o povo daquela cidade, alimentadas pela Igreja Romana. Comparando essas práticas medievais com o ensino prático das Escrituras, ele inclinou-se gradualmente para as verdades do Evangelho.

Em 1519, Zuínglio já era tido por pregador notável, tendo pregado em Zurique, de onde sua fama se espalharia por toda aquela região. Por esse tempo, foi acometido de grave enfermidade, que em vez de fazê-lo esmorecer, aprofundou ainda mais a sua vida religiosa. Em 1522 publicou um livro através do qual, falava abertamente dos motivos do seu afastamento da Igreja Romana.

Como toda grande causa tem grandes inimigos, a causa de Zuínglio tinha seus, os quais não ficaram indiferentes à grande ascensão do reformador. Por esse tempo, em virtude de distúrbios provocados pelos inimigos de Zuínglio, foi convocado o Concilio de Zurique, que se propunha pôr fim a controvérsia religiosa. Após demorado e caloroso debate, Zuínglio fez uma declaração de fé de acordo com os princípios fundamentais da Reforma: o sacerdócio universal de todos os Cristãos. A declaração de Zuínglio enfatizava principalmente que:

1) Os homens são salvos por Deus por meio da fé em Cristo;
2) Exaltou a autoridade da Bíblia;
3) Atacou a autoridade do papa, a missa e o celibato do clero. No final do Concilio, a causa de Zuínglio era declarada vitoriosa, e assim, a Suíça rompia definitivamente contra a Igreja de Roma.

A Extensão da Influência de Zuínglio: De Zurique, o quartel da reforma da Suíça, a influência de Zuínglio se espalhou rapidamente por todo o país. Graças a essa influência, em cada região da nação surgiram outros destacados líderes para o movimento. A influência de Zuínglio também se estendeu pelo sul da Alemanha. Foi assim que surgiram dois aspectos da Reforma, lado a lado: o de Zuínglio e o de Lutero.

Desacordo Entre Lutero e Zuínglio: Depois do histórico protesto de Espira, em 1529 (daí vem a palavra protestante). Tornou-se evidente que mais cedo ou mais tarde, os protestantes teriam de lutar em defesa da sua fé. Partindo desse pensamento, grande esforço foi feito com o propósito de juntar luteranos e zuinglianos de todo o interior da Alemanha e Suíça, com o propósito de formarem uma liga defensiva, contra possíveis ataques da igreja papal. Por essa razão fora marcada uma conferência entre os dois líderes, Lutero e Zuínglio. Para a formação dessa Liga, necessário se fazia que houvesse harmonia doutrinária entre ambos, o que não foi possível. Eles concordaram em catorze dos quinze artigos que definiam os assuntos básicos da fé cristã, mas diferiam na doutrina da Santa Ceia. Lutero continuava defendendo o princípio de que "o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo" eram recebidos pelos comungantes ao lado do pão e do vinho, enquanto que Zuínglio defendia o ponto de vista de que o sacramento é um memorial da morte do Senhor e que a sua presença é unicamente espiritual. Aqui teve início a primeira das grandes divisões do protestantismo nos ramos "Luterano" e "Reformado".
Embora não tivesse se destacado tanto quanto Lutero, Zuínglio foi visto também como um servo fiel e destemido, e um líder nobre e sábio que deu inspiração ao seu povo. Realizou um trabalho permanente para a causa do cristianismo em seu país.

III - CALVINO E A REFORMA EM GENEBRA

A 10 de julho de 1509 em Noyon, na Picardia, França, nasceu João Calvino, filho de Gerard Calvin e Jeanne le Franc. Calvino tinha apenas três anos de idade quando sua mãe morreu. Calvino teve a sua infância em dias em que a Igreja Romana e suas crendices tinham forte influência sobre o povo. Naqueles dias o povo se dispunha a crer em qualquer coisa absurda. A Igreja dizia possuir como relíquia, alguns cabelos de João Batista, um dente do Senhor, um pedaço de maná do Velho Testamento, algumas migalhas que sobraram da primeira multiplicação dos pães, e alguns fragmentos da coroa de espinhos usada por Jesus. Diz-se que em Noyon não se podia falar três palavras sem a interrupção de um sino.

Destinado ao sacerdócio, Calvino foi enviado a Paris quando tinha apenas quatorze anos de idade, para realizar os estudos preparatórios para a sua carreira eclesiástica. Cinco anos depois, o pai decidiu que o filho estudasse Direito, o que fez em Orleans e em Bourges. Falecendo o pai em 1531, Calvino resolveu seguir sua própria vocação: enveredar pela cultura das letras. Assim foi a Paris a fim de estudar sob a direção dos mais eminentes humanistas da época.

A Conversão de Calvino: Quando, onde e como Calvino se tornou protestante, não se sabe ao certo. Sabe-se, no entanto, que sua mudança resultou dos novos estudos e dos ensinos de Lutero. Declarou-se protestante em 1533, e, ao fim daquele ano, acompanhado de outros protestantes, teve de fugir de Paris, em virtude de forte e violenta perseguição. Esteve por três anos em Basiléia onde escreveu o livro A Instituição Cristã, pelo que foi honrado como um dos mais ilustres líderes do Protestantismo. Esse livro era um tratado de teologia e declaração sistemática da verdade cristã sustentada e defendida pelos protestantes e destinado ao uso popular.

Calvino em Genebra: Genebra tinha uma população de mais ou menos treze mil habitantes. Era socialmente próspera, mas de baixo nível moral. Fazia pouco tempo que ali triunfara a Reforma sob a liderança do famoso pregador de nome Guilherme Farel. A cidade conquistara sua independência numa guerra contra seu bispo que era também um senhor feudal. Foi assim que, por um edital de 27 de agosto de 1535, a religião de Roma deixou de ser a religião de Genebra. A Reforma chegou a Genebra de mãos dadas com a liberdade, liberdade da qual nenhum habitante da pequena cidade estava disposto a abrir mão.

Não obstante o muito que já tinha sido feito, Farel verificou que o que se tinha feito era apenas o início da luta, e que a cidade necessitava urgentemente de uma obra de construção, tanto no terreno moral como no religioso, tarefa, a qual ele considerou-se incapaz de realizar. Perplexo sobre o que fazer, foi informado de que Calvino estava na sua cidade, naquela noite. 0 mais rápido que pôde, Farel foi ao encontro de Calvino e convidou-o a ficar em Genebra. Segundo Guilherme Farel, Calvino era o homem que a cidade precisava, mas para seu espanto, Calvino não demonstrou nenhum interesse em aceitar o convite para ficar em Genebra. Calvino alegou estar muito ocupado com seus estudos e pesquisas, de sorte que não era possível aceitar semelhante convite. Foi aí que, como num último e desesperador apelo, o velho pregador disse a Calvino: "Digo-te, em nome de Deus Todo-poderoso, que estás apresentando os teus estudos como pretexto. Deus te amaldiçoará se não nos ajudares a levar adiante o Seu trabalho, pois doutra forma estarias buscando a tua própria honra em vez da de Cristo!" O reformador cedeu e ficou.

Diante do enfático apelo de Farel, dias depois Calvino mesmo confessou: "Senti... como se Deus tivesse estendido a sua mão do céu em minha direção para me prender... Fiquei tão aterrorizado que interrompi a viagem que havia encetado... Guilherme Farel me reteve em Genebra."

Decepções e Vitórias: Iniciadas as suas atividades, em pouco tempo o trabalho de Calvino resultou em desastre. Muita gente não estava com o coração predisposto à Reforma e a oposição dessa gente resultou na expulsão de Calvino e de Farel. Saindo de Genebra, Calvino esteve por três anos em Estrasburgo, pastoreando uma igreja protestante de franceses exilados pelas perseguições. Enquanto isso as coisas em Genebra iam de mal a pior. Nessa época, o povo que já conhecia a capacidade de Calvino convidou-o a voltar à Genebra, apelo que ele atendeu, não sem relutância.

Benefícios da Obra de Calvino: Por sua obra em Genebra, Calvino alcançou três benefícios para o Protestantismo em geral.

1) A vida moral da cidade foi um exemplo do que a fé transformada podia realizar, e daí o poder de sua propaganda.

2) Genebra foi transformada na cidade de refúgio para os perseguidos por causa da Reforma. Para esta cidade livre, veio gente dos mais diferentes pontos da Europa, como seja: França, Holanda, Alemanha, Escócia e Inglaterra.

3) Foi também um lugar de preparação para os líderes do Protestantismo. Na sua Aca­demia e no ambiente da cidade, foram preparados ministros devotados, instruídos, que se espalharam como missionários da Reforma, pelos países onde esta ainda não havia entrado. Muitos dos refugiados voltaram aos seus países de origem, fortalecidos por sua estada em Genebra e por seu contato com Calvino. Um deles foi João Knox.

IV - INFLUÊNCIAS REFORMISTAS NA FRANÇA

Embora Calvino estivesse ausente da França há vinte e sete anos, era o líder ausente da Reforma na França. Seus livros, principalmente A Instituição Cristã, e demais ideias suas eram espalhadas como relâmpago por todo o país, as quais eram aceitas e propagadas por humanistas franceses, os quais eram estudiosos das Escrituras. Mas quando os livros de Lutero começaram a circular na França, foi grande a perseguição levantada contra todos quantos defendiam os pontos de vista de origem reformista. Em 1538 o rei Francisco I, decidiu mover forte e incessante campanha contra o ensino reformado. Foi no ardor das perseguições que Calvino tornou-se o líder mais eficaz do movimento protestante no país, dirigindo-o através de cartas e por meio de jovens pregadores enviados de sua escola em Genebra. Não obstante o sangue derramado e muitos mortos, a Reforma espalhou-se por quase toda a França. Mas, só em 1559 foi organizada uma igreja protestante nacional.

Os Huguenotes: O rápido crescimento da influência da Reforma na França, contribuiu para que dentro de pouco tempo grande parte da aristocracia francesa fosse conquistada pela Reforma. Estes grandes nobres, alguns príncipes de sangue real, não se submetiam facilmente à perseguição, e começaram a falar de uma revolta armada. Sob a liderança desses nobres, o movimento protestante tornou-se não somente um movimento que visava a expansão das verdades do Evangelho, mas igualmente uma luta contra o governo com o fim de alcançar a liberdade religiosa. Por essa atitude os protestantes franceses ganharam o nome de "huguenotes".
"Huguenotes" foi a princípio um apelido dado aos protestantes pelos católicos romanos. Sua origem foi a seguinte: Os protestantes de Tours costumavam reunir-se à noite no portão do palácio do Rei Hugo. O povo do lugar cria que o espírito do rei Hugo perambulava durante a noite. Um monge dissera num sermão que os protestantes deveriam ser chamados de huguenotes, que significa parentes de Hugo, porque se pareciam com ele por andarem somente à noite.

A guerra rebentou em 1562, sendo os huguenotes comandados pelo almirante Coligny e o príncipe Condé. Ambos lutavam contra a tirania da rainha regente, Catarina de Médicis. Essa guerra foi a primeira das oito "Guerras Religiosas" que durante mais de trinta penosos anos, quase arruinaram a França. 0 partido católico-romano estava decidido a lançar mão de todas as crueldades, como de fato o fez. Esse partido era dirigido pelos jesuítas e pelo rei Filipe II, da Espanha.

A Noite de São Bartolomeu: 0 espírito do partido católico-romano manifestou-se no horrível massacre de São Bartolomeu, em 1572. Num certo período de paz, muitos dos huguenotes dentre os mais nobres da França reuniram-se em Paris para as cerimônias de casamento de um dos seus líderes, Henrique de Navarra. Num ataque levado a efeito durante a noite, por ordem de Catarina de Médicis, milhares de huguenotes, inclusive o Almirante Coligny e muitos outros líderes, foram mortos. Rapidamente cerca de setenta mil protestantes foram mortos em toda a França. 0 papa de Roma enviou congratulações à Catarina e ambos se regozijaram pelo que fizeram aos protestantes.

0 Edito de Nantes: Apesar deste terrível golpe, os protestantes se reabilitaram e continuaram a luta até 1598 quando a guerra terminou com o célebre Edito de Nantes, que concedeu ao Protestantismo um pouco mais de tolerância.

V - A REFORMA NOS PAÍSES BAIXOS

Os países baixos foram aqueles territórios herdados por Carlos V, onde ele exerceu toda espécie de hostilidade contra a influência da Reforma Protestante.

Quando as ideias luteranas começaram a se difundir, Carlos V estabeleceu a Inquisição, que logo demonstrou sua eficácia, condenando à fogueira em 1523 os primeiros mártires da fé reformada. Apesar de mais de trinta anos de perseguição sob o comando de Carlos V, o Protestantismo sobreviveu. A influência de João Calvino tornou-se evidente através da obra dos missionários reformados, vindos da França e de Genebra. Em 1555, Carlos V foi sucedido por seu filho Filipe II na Espanha e nos Países Baixos. Filipe II foi mais carola e cruel que seu pai. De tal sorte governou, que em poucos anos muitos povos das províncias estavam dispostos à revolta contra a tirania espanhola que estava esmagando a liberdade, levando todas as riquezas dessas províncias para o reino espanhol e matando o povo por causa da sua fé. Foi assim que a causa protestante identificou-se com a causa da liberdade.

Guilherme de Orange: 0 líder desse partido patriótico contra a tirania de Filipe II, era Guilherme, também conhecido pela alcunha de Taciturno, príncipe de Orange, da Alemanha. Foi um dos mais nobres amigos dos Países Baixos. Descobrindo que Filipe II estava convocando tropas para esmagar qualquer resistência ao governo, Guilherme retirou-se para a Alemanha, a fim de preparar-se para a guerra. Nesse ínterim, conheceu a verdade evangélica e aceitou-a, dedicando-se muito ao estudo da Bíblia. Este fato e a lembrança dos mártires que vira nos Países Baixos, tornaram-no um homem profundamente religioso. Daí em diante, sua carreira foi dominada pela convicção de que ele próprio era um instrumento nas mãos de Deus para salvar seu povo adotivo da miséria e tirânica opressão espanhola.

A Guerra Contra a Espanha: Em 1567, a Armada Espanhola chegou aos Países Baixos, dirigida por aquele monstro de crueldade que foi o Duque de Alba. A carnificina por ele promovida veio enfraquecer irreparavelmente a causa da Reforma no sul e leste do país. No ano seguinte, Gui­lherme começou a guerra de libertação. No início da guerra ele compreendeu que sua causa não triunfaria no sul dos Países Baixos onde a população protestante havia sofrido parcial aniquilamento pelas forças espanholas. Essas províncias do sul vieram a formar a moderna Bélgica, país católico-romano.

Vitória da Holanda: Foi com os protestantes do norte dos Países Baixos que Guilherme alcançou o seu objetivo. O momento decisivo da guerra deu-se quando o terrível cerco de Leyden foi quebrado pelo rompimento dos diques, o que permitiu a invasão do mar e dos navios de batalha dos marinheiros holandeses que atacaram as muralhas e as defesas inimigas. Mesmo depois disto houve encontros desesperados, mas Guilherme mostrou-se invencível no desejo de edificar uma nação livre. Embora tombasse em 1548 pelas mãos de um assassino, seu exemplo inspirou a seu povo "a sustentar a boa causa com o auxílio de Deus, sem poupança de ouro ou de sangue." Esta nobre causa teve sua vitória final em 1609. Assim nasceu a poderosa nação protestante na Holanda.

Os Arminianos: Ainda no Século XVII surgiu uma profunda diferença teológica entre os protestantes da Holanda. Alguns teólogos holandeses sublinharam, nos termos mais extremos, a ideia calvinista, a ideia de que Deus predestina alguns para a salvação e outros para a perdição, dando mais ênfase a isto do que o próprio Calvino. Surgiu um partido que rejeitou esta ideia e afirmava que Cristo morreu por todos os que creem Nele. Este partido foi chamado "arminiano" por causa de Armínio que foi um dos seus líderes. Para resolver esta disputa convocou-se em 1618 o Sínodo de Dort, cuja decisão contrariou os arminianos. Mas o ensino destes foi vitorioso na Holanda e se espalhou por toda a Inglaterra, e depois, na América.

VI - A REFORMA NA ESCÓCIA

A Escócia do Século XVI era um reino independente. Seu clero católico tinha sido peculiarmente indigno e incompetente. Por isto não surpreendeu que os ensinos da Reforma fossem ali avidamente aceitos a despeito da disposição da Igreja Romana e do governo de perseguir os pregadores da causa protestante.

João Knox: 0 maior líder da causa reformista na Escócia foi João Knox. Da sua vida passada apenas sabemos que nasceu em 1515. Tornou-se sacerdote, foi tutor dos filhos de algumas famílias nobres, e, depois, companheiro de George Wishart, um dos mártires protestantes. De sua ousadia como pregador do Cristianismo reformado, resultou em 1546, ser preso por uma força francesa que fora enviada para auxiliar o governo escocês. Por dezenove meses suportou a "vida de morte" numa das galés de escravos, na França. Passou depois vários anos na Inglaterra onde destacou-se como notável pregador. Ao rebentar a perseguição no reinado da rainha Maria, fugiu para Genebra onde se ligou inteiramente a Calvino.

Knox Volta à Escócia: Enquanto Knox achava-se no exílio, a Reforma prosseguia de alguma forma na Escócia, sob a liderança de certos nobres conhecidos como os "Senhores da Congregação". Quando Knox regressou em 1559 para assumir a direção do movimento, encontrou-os prontos a lutar pela liberdade da fé, contra a rainha regente. Dispondo de tropas francesas para lutar, ela teria alcançado a vitória caso Knox não solicitasse auxílio a Cecil, secretário de Estado da rainha Isabel que viu quanto era necessário ter uma Escócia protestante ao lado de uma Inglaterra protestante. Em 1560 uma armada e um exército inglês expulsaram os franceses em meio ao maior regozijo do povo escocês.  

A Reforma Vitoriosa: O campo estava livre para que Knox e seus companheiros de ideal entrassem em ação. João Knox pregava frequentemente com extraordinária eloquência, fortalecendo a causa reformista com seus argumentos poderosos. Tinha uma profunda paixão pelas almas. Conta-se que um seu amigo o viu orando certa noite, sempre repetindo "Senhor, dá-me a Escócia, senão eu morro”. Não demorou para organizar uma Igreja reformada sob sua direção (Igreja Reformada Escocesa). Auxiliado por outros ministros escreveu a nobre "Confissão Escocesa". 0 Parlamento adotou-a como o credo da Igreja nacional, rejeitando ao mesmo tempo a autoridade do papa e proibindo a missa. Foi ele também o principal autor do "Livro da Disciplina", que traçava uma forma presbiteriana de governo para a Igreja, seguindo o mesmo plano da Igreja Protestante Francesa. Em virtude dessas medidas, reuniu-se neste mesmo ano, 1560, a primeira Assembleia Geral da Igreja da Escócia.

Knox e a Rainha Maria: As conquistas alcançadas tinham de ser defendidas. Em 1561, Maria, rainha da Escócia, veio da França para reinar em sua própria terra, decididamente resolvida a restabelecer o Catolicismo Romano. E quase alcançou seu objetivo. Fracassou, devido parcialmente à sua própria perversidade e desatinos, o que despertou geral indignação contra ela e por outra parte, por causa da atitude decidida de João Knox. Contra a rainha e os nobres que a apoiavam, Knox sustentou a bandeira da causa protestante, com o auxílio sempre crescente da parte do povo. Em 1567, após a abdicação da rainha, a Reforma foi reconhecida e confirmada pelo rei.

A Luta Pelo Presbiterianismo: Depois de alcançada a vitória do Protestantismo na Escócia, surgiu a luta pelo presbiterianismo. 0 filho da rainha Maria, Tiago VI, que veio a ser depois Tiago I da Inglaterra, tentou introduzir bispos na igreja escocesa. Ela viu que um governo eclesiástico presbiteriano nutriria e desenvolveria o espírito de liberdade entre o povo. Igualmente, alguns nobres que se aliaram ao rei, julgaram que a introdução de bispos na igreja lhes daria uma oportunidade de ficarem com as terras dos bispos medievais. Foi nessa época que levantou-se André Melville, ousado líder presbiteriano dos escoceses em decidida luta contra o rei. Por causa dos seus esforços a Igreja Escocesa alcançou uma forma de governo presbiteriano completa e que ainda não tinha sido plenamente alcançada desde que surgira a Reforma.

VII - A REFORMA NA INGLATERRA

Muito antes do rompimento de Henrique VIII com o papa, várias forças contribuíram para o preparo do povo inglês a fim de receber a Reforma. A maior dessas forças foi a organização dos "Irmãos Lollardos" que conservou vivos os ensinamentos de Wycliffe. Além disso, havia a propaganda das ideias reformistas pelos humanistas, tais como Colet, a disseminação dos livros e ensinos de Lutero em alguns lugares e a circulação extensiva, embora proibida, do Novo Testamento de Tyndale, publicado em 1525.

Henrique VIII: É injusto afirmar, como muitos fazem, que Henrique VIII se revoltou contra o papa só porque desejava uma esposa. Nesse episódio estavam envolvidas graves questões de caráter nacional. Os estadistas ingleses muito se preocupavam com o fato de não haver um herdeiro do sexo masculino para a sucessão da coroa do país, que nunca conhecera o governo de uma rainha. Havia também certa dúvida quanto à legalidade do casamento de Henrique VIII com Catarina, segundo as leis da Igreja. Desse modo houve alguma justificação para o seu pedido ao papa, de anulação de casamento; antes, porém, de fazer o pedido, Henrique colocou-se numa situação indesejável por sua súbita paixão por Ana Bolena que era indigna de ser rainha do povo inglês.
Quando o papa, por motivos políticos, não atendeu ao pedido, Henrique, que jamais permitiria que alguém lhe dobrasse a vontade, resolveu livrar a Inglaterra do domínio papal. Conseguiu do Arcebispo de Cantuária uma declaração de ilegalidade e consequente anulação do seu casamento com Catarina, e da legalidade do seu casamento com Ana Bolena.

Por tal ato foi excomungado por decreto papal. A resposta de Henrique foi dada através de um ato do Parlamento em 1534, pelo qual se declarava "Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra" e por uma proclamação do clero que a ele se submetera, de que o papa não mais teria supremacia na Inglaterra. O papa que o excomungou também não foi nenhum santo: teve muitos filhos ilegítimos, como o prova a história.

Resultados da Atitude de Henrique VIII: Nada tinha sido feito até aqui no sentido de uma reforma real no terreno religioso. Quando Henrique morreu em 1547, a Igreja da Inglaterra ainda conservava seu credo e princípios doutrinários romanistas. De um modo geral a situação da Igreja coincidia com os pontos de vista dos ingleses. Jamais eles obedeceriam a um bispo italiano no que se refere aos negócios eclesiásticos da Inglaterra, contudo, muita gente conservava as antigas ideias religiosas. A força dessas ideias, porém, tinham sido enfraquecidas por dois acontecimentos ocorrido no reinado de Henrique. Uma delas foi a ordem real para que cada Igreja tivesse uma Bíblia completa, de grande formato, na língua inglesa e que fosse colocada onde o povo pudesse ler com facilidade. A Bíblia usada pelo povo era principalmente da tradução feita por Tyndale. Desde então, essa tradução tem sido a base de todas as Bíblias de língua inglesa que apareceram posteriormente. Outro ato hostil contra a religião medieval foi o fechamento dos mosteiros e o confisco das suas propriedades.

Eduardo VI: O reinado seguinte viu a Igreja da Inglaterra tornar-se rapidamente protestante pela influência dos nobres que governaram no período da minoridade do rei Eduardo VI. Dentro de cinco anos foram publicados um Primeiro e um Segundo "Livro Comum de Orações", modificando o culto da Igreja de acordo com as ideias da Reforma. O Parlamento decretou leis que exigiam que todas as pessoas assistissem ao culto reformado. Enquanto isto, os ensinos da Reforma se divulgavam entre o povo.

Maria: Surgiu, então, tremenda reação liderada pela Rainha Maria. Seu único objetivo era fazer a Inglaterra voltar ao que tinha sido antes de Henrique VIII, isto é, fazer a Igreja de então voltar ao domínio da Igreja Romana. Com este propósito, anulou todos os atos dos reis, seus predecessores. Atacou cruelmente o Protestantismo, principalmente seus líderes. Entre as vítimas destacam-se o arcebispo Cramer e os bispos Ridley e Latimer. A Inglaterra tornou-se consideravelmente muito mais protestante após a morte da rainha Maria, em virtude da sua cruel batalha para tornar o país católico romano.

Isabel: A sucessora da rainha Maria, Isabel, desde cedo demonstrou seu propósito de seguir o Protestantismo, pelo que muito contribuiu para a formação de uma Igreja nacional protestante. Foi organizado também um "Livro Comum de Orações" ainda hoje adotado sem modificações substanciais. Com sua Igreja protestante e seu rápido desenvolvimento político e econômico, a Inglaterra tornou-se um dos principais baluartes da causa protestante na Europa, e, depois, em outras partes do mundo.
VIII - OS ANABATISTAS

Além dos luteranos e reformados, surgiu um terceiro movimento reformador conhecido como "Anabatista". O ideal deles era organizar sociedades de Cristãos verdadeiramente convertidos, em bases voluntárias. Essas sociedades seriam santos agrupamentos, seguindo os ensinamentos do Novo Testamento e particularmente o Sermão do Monte. Nelas seria reproduzido o modo de viver dos Cristãos primitivos. Não lançariam mão da força; portanto não iriam à guerra nem exerceriam cargos civis. Não ofereceriam resistência ao mal e suportariam com forte ânimo tudo que lhes sobreviesse por causa das suas convicções. Tinham de cultivar um estrito companheirismo entre si, dispensando muito cuidado no suprimento das necessidades dos irmãos necessitados.

Doutrina Quanto à Igreja: A doutrina fundamental dos anabatistas era uma concepção particular a respeito da Igreja. Esta, sustentava eles, é uma comunidade de pessoas regeneradas. Ninguém mais tinha a ver com mesma. Decorria daí a crença deles, de que o batismo, o rito de admissão à Igreja, só deveria ser ministrado aos adultos, desde que, somente estes poderiam experimentar conversão. Os que se filiavam a essas sociedades eram batizados, pois o batismo que já tivessem recebido na infância era destituído de valor. Por causa dessa atitude foram chamados de "anabatistas", isto é, que batizavam novamente.

Os Anabatistas e a Sociedade: Os anabatistas surgiram especialmente nas regiões da Europa. Procederam principalmente dos camponeses e artesãos que eram vítimas de injustiças; não obstante, entre eles havia alguns líderes cultos.

Nos primeiros anos do seu desenvolvimento havia entre os anabatistas, o pensamento de transtornar a ordem então existente, estabelecendo-se no seu lugar uma sociedade fundamentada no amor Cristão. Mas este radicalismo social logo passou, em parte por causa das perseguições, e mesmo porque esse propósito não era característico da maioria dos anabatistas. Em geral eram calmos, devotados e trabalhadores. A Igreja Romana, naturalmente, perseguiu-os de um modo terrível. E até os luteranos e zuinglianos os perseguiam por sua rejeição ao batismo infantil e oposição às Igrejas oficiais.

Meno Simons: O mais célebre líder dos anabatistas foi Meno Simons (1492-1556). Durante vinte e cinco anos ele pastoreou as sociedades espalhadas pela Alemanha e Países Baixos. Purificando-as das suas tendências para o fanatismo, resultantes, naturalmente, dos seus sofrimentos. Conseguiu novos conversos pela pregação e os unificou numa grande irmandade que tomou o seu nome: "Os Menonitas".

Os Menonitas e os Modernos Batistas: Em 1608, vários puritanos fugiram da Inglaterra, por causa das perseguições, chegando à Holanda. Alguns deles, foram depois os "Peregrinos" de Plymouth. Outros que vieram por causa da influência dos menonitas, aceitaram os pontos de vista destes. Mais ou menos em 1611, alguns desses últimos conversos fundaram em Londres a Primeira Igreja Batista ou Anabatista da Inglaterra. Já antes disto, alguns batistas ingleses estavam associados aos menonitas holandeses. Destes primeiros batistas ingleses procederam os demais batistas que fundaram igrejas no mundo de língua inglesa. A designação de menonitas, ainda hoje é adotada por algumas igrejas na Alemanha e na América.

IX - A CONTRARREFORMA

Ao irromper a Reforma na Europa, a Igreja Romana se achava em tal estado de decadência, e os papas da época tão interessados na vida privada e tão desinteressados nas coisas religiosas que, por espaço de vinte e cinco anos após a explosão do movimento reformador, pouquíssimas foram as medidas para reprimi-lo. Na verdade eles não criam que a Reforma sobrevivesse a seu líder, Martinho Lutero. Desde Leão X, os papas imersos numa vida luxuosa e imoral, não viam na revolta religiosa da Alemanha proporções maiores do que o delírio de um frade "embriagado".  

0 papa Paulo III (1534-1549), apesar dos seus gostos e modo de viver, não era melhor do que aqueles que vieram antes, porém, mais diplomata que eles, compreendeu quão grave era a situação católica. Embora dotado de hábitos imorais, chegou a nomear, em comissão, alguns prelados dos mais eminentes e capazes para sugerirem planos visando o melhoramento da Igreja, comissão esta que apresentou, em 1553, um bem elaborado relatório, cujas sugestões nunca foram postas em prática.

Acordando, por fim, da sua aparente indiferença, a reação católica começou em 1541, a empregar as mais severas medidas para reprimir o Protestantismo. Os principais objetivos da reação foram: expurgar a Igreja, começando com o clero manchado por abusos e imoralidades; quebrar as forças de ação do Protestantismo; reconquistar o terreno perdido; dar novo vigor às atividades missionárias. Os meios principais empregados pela Igreja Católica contra o progresso do Protestantismo foram três: a Sociedade de Jesus, o Concilio de Trento e a Inquisição. Sobre estes e outros meios, trataremos ainda, nesta apostila.

X - OS JESUÍTAS

Para a batalha da Contrarreforma, a Igreja Romana dispunha de recursos poderosos. Um deles foi uma Nova Ordem, extraordinariamente poderosa e operante: A Sociedade de Jesus. Esta organização pode ser mais bem apreciada quando estudamos as experiências religiosas do seu fundador, o espanhol, Inácio de Loyola, (1491-1556).

Inácio de Loyola: O primeiro grande desejo de Loyola foi ser famoso como soldado, mas este ideal apagou-se quando aos vinte e oito anos, recebeu grave ferimento que o aleijou para o resto da vida. Sua ambição tomou outro rumo: queria tornar-se agora um grande santo. Meditando muito, chegou à conclusão de que para se tornar um santo, teria de se tornar um homem de Deus. Sentiu-se então possuído do desejo de se aproximar de Deus e alcançar a paz Divina. O caminho era entrar num convento, o que fez com toda a sinceridade da sua alma. Mas todos os seus jejuns, penitências, orações e confissões não lhe proporcionaram a almejada paz. De repente, lança-se com seus pecados, aos pés do Criador, confiando na misericórdia Divina, e, assim, por sua confiança em Deus, alcançou a certeza de perdão e paz para sua alma. Daí em diante sua vida seria posta a serviço de Deus.

0 Seu Pensamento: Até aí, tinha seguido as pegadas de Lutero. Loyola, porém, seguiu outra direção, pois ainda era integralmente um homem da Idade Média e da religião medieval. Cria sem um mínimo de dúvida, que a Igreja Romana fora divinamente ordenada para representar os desígnios de Deus entre os homens. Para ele a verdadeira religião de Deus consistia numa devoção absoluta e indiscutível aos interesses dessa Igreja, trazer de volta os que a tinham abandonado, quebrar todas as forças dos seus oponentes e aniquilar todo ensino contrário ao dessa mesma igreja.

Organização da Sociedade de Jesus: Por conselho dos superiores, Loyola estudou teologia por seis anos na Universidade de Paris, antes de começar a trabalhar. Com profundo conhecimento da natureza humana, escolheu como companheiros de ideal, nove ajudantes que se tornariam homens de poderes extraordinários. A Sociedade de Jesus foi formalmente organizada em 1540 com esses dez membros. Tanto sacerdotes como leigos eram recebidos na Ordem.

Propósito e Organização: 0 propósito da Sociedade era promover o progresso eclesiástico e lutar contra os inimigos da Igreja Católica Romana por todos os meios possíveis. Era trabalho incessante, num espírito de lealdade ao papa, mas, lealdade inquestionável. A organização da Sociedade era baseada num sistema de disciplina rígida e absoluta, obediência contínua e perfeita. "Cada membro, era ligado por um juramento aos seus superiores imediatos, como se ocupasse o lugar de Jesus Cristo, até ao ponto de fazer o que ele, o membro, considerasse mesmo errado. "Assim organizou-se uma grande máquina, sempre pronta a ser usada para qualquer finalidade e em qualquer lugar onde fosse útil à Igreja Romana, ou cumprir as ordens do papa.

Métodos de Combate: Os jesuítas possuíam entre outros, três métodos principais de contra-atacar o Protestantismo:
1) Nas igrejas que estabeleceram ou naquelas que conseguiram controlar, colocavam hábeis pregadores e promoviam reuniões atraentes.

2) Dispensavam também muita atenção à obra educacional.

3) Abriram escolas primárias que logo se enchiam pois o ensino era gratuito e bom. Os alunos eram, naturalmente, treinados a demonstrar devoção à Igreja Católica Romana, e, através dos filhos, os jesuítas alcançavam também os pais.
Conseguiram educar numerosos jovens que mais tarde ficaram conhecidos como defensores do romanismo. Outro método de operação era de caráter político. Os jesuítas dedicaram-se a inspirar nos governos católicos, devoção à Igreja e ódio ao Protestantismo. Como resultado dessa política, levantaram-se tremendas perseguições aos protestantes em vários países. A pressão jesuítica era constante e poderosa no ânimo dos governos. Dentro de poucos anos os jesuítas se tornaram dominadores da Igreja Católica Romana. 0 espírito deles era o da Contrarreforma e o seu ideal era esmagar os dissidentes, principalmente o Protestantismo.
XI - ELEMENTOS DE COMBATE À REFORMA
A Obra do Concilio de Trento: Um dos abomináveis e desumanos instrumentos de combate à Reforma, foi o Concilio de Trento. Este concilio geral reuniu-se em Trento, no Tirol, em 1545, e durou dezoito anos, dividindo-se em três longas sessões. No final desse concilio a Igreja Romana tinha formulado uma declaração completa da sua doutrina. Assim ela dispunha de novas e poderosas armas em sua batalha, para reconquistar o que havia perdido. Esse concilio fora convocado, todavia, para considerar os assuntos dos concílios anteriores: a Reforma da igreja papal. Apesar da cúpula da Igreja manobrar para evitar a concretização do desejo da maioria, todavia. o Concilio conseguiu alguma coisa neste sentido. De um modo geral o Concilio de Trento proporcionou meios à Igreja Romana de combater o Protestantismo.  
A Inquisição e o Índex: Os líderes da Contrarreforma defenderam com todas as forças a crença medieval, de que era justo o uso da força contra a heresia. Mas a Igreja Romana tinha os seus próprios meios de repressão. 0 que havia de Protestantismo na Espanha e na Itália foi esmagado pela Inquisição. Ao lado da Inquisição operava a Congregação do Index, que condenava os livros com os quais a Igreja não concordava. Esta lista de livros condenados pela Igreja incluía todos os escritos protestantes, e todas as versões da Bíblia, exceto a Vulgata. A atividade da Congregação não se limitava a combater as crenças protestantes, mas, igualmente, todo o pensamento que conduzisse o mundo ao progresso; pesquisas e estudos de toda a natureza foram praticamente aniquilados na Itália e na Espanha.

Reavivamento Religioso na Igreja: Embora a Contrarreforma cuidasse principalmente dos meios de repressão ao Protestantismo, incluiu também em suas atividades um despertamento religioso na sua igreja. Tanto os clérigos como os leigos experimentaram, em muitos lugares, um reavivamento da fé e zelo romanista que se manifestou numa devoção aos interesses dessa Igreja e ao bem estar do próximo. Os assim despertados eram inimigos do Protestantismo e lutavam para restaurar a Igreja à custa do aniquilamento dos inimigos. Muitos desses perseguidores eram sinceros no seu zelo que julgavam Cristão.

Conquistas da Contrarreforma: O Catolicismo Romano atingiu o seu ponto mais baixo em 1560. 0 Protestantismo tinha prevalecido em muitos países, e parecia ter em perspectiva muitas conquistas. Em 1566, todavia, a Igreja Romana tomou a ofensiva, chefiada por Pio V, que foi o papa de espírito combativo. Os métodos já aludidos o capacitaram a atacar o Protestantismo como uma força que a Igreja medieval, no início da Reforma, não teria usado. Teve também o poderoso auxílio de fortes governos, especialmente do imperador alemão e dos soberanos da França e da Espanha.

Reconquista da Igreja Romana: Iniciou-se a reconquista. Em grandes regiões do império alemão, as quais, oficialmente, ainda eram católicas por serem governadas por católicos, o Protestantismo era forte. Muitos desses governadores tinham se mostrado tolerantes até então. De repente foram possuídos de um ódio tremendo, imbuídos do espírito da Contrarreforma. Pelo trabalho dos jesuítas e pela perseguição desses governos, essas regiões se tornaram solidamente católicas. Tais regiões incluíam a Áustria, Estíria, Caríntia, Bavária e grandes partes da região do Reno. Aconteceu o mesmo na Polônia. Nos Países Baixos a Contrarreforma destruiu o Protestantismo nas províncias do Sul. O maior desses empreendimentos de reconquista da Igreja Romana, foi dirigido contra a Inglaterra. Era claro que enquanto a Inglaterra conservasse o seu poder, o protestantismo não podia ser aniquilado. Foi então que a Igreja Católica tentou dar o golpe de morte no seu inimigo mais poderoso, enviando sob Filipe II, da Espanha, a Grande Armada espanhola contra a Inglaterra. Mas os combates ingleses e uma terrível tempestade, destruíram a Grande Armada, e a Inglaterra protestante foi salva.

XII - A GUERRA DOS TRINTA ANOS
1618 - 1648

Com o tratado de paz de Augsburgo, estabeleceu-se por algum tempo a normalidade na Europa, que tão perturbada havia sido pelas questões religiosas. Os contendores, ainda que, aparentemente sossegados, preparavam-se para nova escaramuça. Uma das causas imediatas dessa última e terrível guerra, foi a violência usada pelos católicos contra os reformadores da Boêmia, queimando os seus templos e expulsando-os de sua terra. Segundo o pacto de Augsburgo, os príncipes alemães tinham de escolher entre o Catolicismo e o Protestantismo e fazer cada um a sua propaganda dentro dos limites determinados e respeitar os direitos e as propriedades uns dos outros, enfim, viver e trabalhar em união, não sendo permitido proselitismo. Fernando, arquiduque da Estíria, e mais tarde imperador da Alemanha, inteiramente dominado pelos jesuítas, proibiu nos seus domínios o culto protestante, baniu seus pregadores e deu aos leigos o direito de escolher entre a conversão ao Catolicismo ou o exílio. Essa medida tão desumana quão tirânica, despertou o sentimento da nobreza alemã que se colocou ao lado dos protestantes. Maximiliano, duque da Bavária, educado pelos jesuítas, se colocou ao lado dos católicos.

O Começo das Hostilidades: Como medida de precaução, as autoridades de Donauwörth, cidade imperial luterana, expulsaram os católicos, deixando somente os mosteiros com a condição de que os monges não fizessem nenhuma propaganda ou perturbação fora dos muros. Excitados, porém, pelos vizinhos, estes em 1606, violaram o convênio, maltratando os cidadãos Protestantes. Maximiliano, tomando este ato como pretexto, entrou na cidade com as suas forças e tentou obrigar os seus habitantes, na maioria luteranos, a se tornarem católicos. Enquanto isto se dava, os príncipes alemães, revoltaram-se e formaram a União Evangélica (1609). Contudo, Maximiliano com o apoio e ajuda direta do papa, facilmente derrotou os Protestantes.

Continuação das Hostilidades: Ao mesmo tempo que os católicos assim triunfavam na Alemanha, uma tentativa infrutífera se fazia para extinguir os Protestantes na Boêmia. Fernando, que com o apoio dos protestantes fora eleito rei da Boêmia, pôs logo em prática os seus princípios jesuíticos, negando aos Protestantes o uso dos seus templos. Não se conformando com este ato violento, os parlamentares Protestantes reuniram-se em dieta, em Praga, na ausência do rei, penetraram no departamento dos conselheiros e exigiram uma explicação dos seus atos. Como estes se negassem a dar-lhes quaisquer explicações, foram atirados pelas janelas, fato conhecido como: "A defenestração de Praga". Em seguida os Protestantes tomaram conta da cidade, estabeleceram um governo provisório e assim teve começo a prolongada luta entre católicos e Protestantes, que havia de dilacerar toda a Europa central. Foi então que o grande Gustavo Adolfo, rei da Suécia, salvou a causa Protestante. Com uma série de brilhantes vitórias, levantou o Protestantismo do colapso. Embora depois da sua morte, em uma batalha, a guerra se tornasse desfavorável ao Protestantismo, as vantagens que alcançou tiveram caráter permanente. O Protestantismo ficou devendo sua sobrevivência, nesse momento crítico, a Gustavo Adolfo.

A Paz de Vestefália: A paz de Vestefália pôs fim à guerra em 1648. No entanto, o papa desacatou essa paz. Numa bula declarou que a paz de Vestefália era "prejudicial à religião católica" porque cedeu aos "hereges" a liberdade de culto. Afirmou que os tratados que culminaram com a paz eram "perpetuamente nulos, sem valia, de nenhum efeito, iníquos, injustos, condenáveis, reprovados, frívolos, sem força e efeito", e asseverou que ninguém tinha obrigação de cumpri-los. Tão pouca consideração tinha o papa pela paz e felicidade da Europa, que estava pronto a continuar o holocausto, até que fossem extintos todos os que não reconhecessem sua autoridade. Não obstante suas falhas, este acordo pôs fim à agressão da Contrarreforma e favoreceu o progresso do Protestantismo. Foi uma grande conquista no terreno da liberdade de consciência. Só a Reforma conseguiria tal.
XIII - AS MISSÕES CATÓLICAS

Somente a Igreja Católica Romana nesse período cuidou do trabalho missionário. As Igrejas Protestantes nada fizeram digno de referência especial, para levar o Evangelho aos povos pagãos. Uma das razões dessa atitude deve-se ao fato de que o Protestantismo teve de lutar para sobreviver. Mas também deve-se reconhecer que as Igrejas Protestantes não tinham ainda despertado quanto ao privilégio e dever de cuidar do trabalho missionário, como fez depois. 0 Protestantismo só alcançou a sua grande visão missionária no Século XVIII.

Atividades da Igreja Romana: A Igreja Católica por todo este período desenvolveu trabalho missionário ativo. As novas terras descobertas no ocidente e no oriente, no fim dos Séculos XV e XVI, tornaram-se sua seara. Os pioneiros da Igreja Romana apressaram-se a entrar nessas regiões, principalmente os franciscanos e dominicanos. Os governos dos países que realizavam essas descobertas, julgavam que a extensão do Cristianismo era uma parte do seu dever com relação às novas terras. Esta foi a razão por que, frades e sacerdotes muitas vezes tomaram parte nas viagens de exploração e sempre estavam com os primeiros colonizadores.

As Missões Jesuítas: Os maiores missionários católicos foram os jesuítas. O trabalho missionário ajustava-se exatamente ao seu grande escopo de estender a igreja papal por todo o mundo, e eles se atiravam a essa missão com heroísmo e extraordinário zelo. Um dos primeiros companheiros de Inácio de Loyola, da Sociedade de Jesus, foi o espanhol Francisco Xavier. No ano em que a Sociedade foi fundada, ele e dois outros jesuítas foram praticamente os primeiros missionários medievais. Sob sua direção, o trabalho cresceu de modo a necessitar que os jesuítas da Europa enviassem novos reforços. Da índia, Xavier foi ao Japão. Ali estabeleceu o Romanismo em 1549, e, em dois anos de trabalho, ele e seus companheiros lançaram os fundamentos de uma igreja romana japonesa que cresceu rapidamente. Ansioso por levar a religião às novas terras, Xavier partiu para a China, onde não chegou, por ter morrido em 1552, numa ilha próxima à costa chinesa.  

Os Jesuítas na China: A obra que Xavier não pôde realizar na China, realizou-a outro jesuíta; de nome Mateo Rocci, que para lá se dirigiu em 1582. Conseguiu ganhar as boas graças do imperador para o estabelecimento do Catolicismo ali, em virtude dos seus grandes conhecimentos de astronomia e geografia. Nessa parte da Ásia, o trabalho muito prosperou de sorte que, várias centenas de missionários jesuítas foram enviados para ali, a fim de suprirem as necessidades da causa.

Os Jesuítas na América: Nas possessões francesas da América, no Brasil e no Paraguai a obra missionária dos jesuítas também foi encetada com grande vigor. Em quase todos os países onde os jesuítas e outras ordens trabalharam, a Igreja Romana cresceu rapidamente. Mas este crescimento, como muitos historiadores católicos admitem, não foi substancial, o que vem provar que os métodos adotados não eram certos e apropriados. Não obstante, o zelo e o heroísmo de muitos desses homens, são um legado para sua Igreja.

XIV - A IGREJA NA EUROPA
1648 - 1800

A história da Igreja na Europa, durante o período de 1648 a 1800, foi marcada por altos e baixos, dignas de análise de nossa parte, se é que queremos compreender os acontecimentos que se sucederam após esse período.

A França, que através de suas autoridades ofereceu tremenda oposição ao Protestantismo, matando a muitos deles e forçando outros ao exílio, estava quase arruinada em todos os aspectos da vida nacional. Nessa fase da história deflagara-se a Revolução Francesa, que procuraria contornar a situação estabelecendo a calma e ordem nacional, dando liberdade de culto aos poucos protestantes ainda existentes no país. A Igreja da França jamais se recuperaria, atingindo a pujança que possuía antes.

0 Protestantismo na Alemanha, por sua vez vê-se envolvido por frequentes e vazios debates teológicos entre os seguidores dos ensinos de Lutero e os seguidores do ensino de Calvino. Nessa época a diferença entre luteranos e reformistas acentuou-se. Assim, surge o "Pietismo", com a finalidade de agregar em torno do seu ensino, os insatisfeitos com os rumos tomados pelos luteranos e reformados. Os pietistas pregavam e viviam um Cristianismo fresco, novo e cheio de vida. Esse movimento viria a se constituir a base de grandes movimentos como o dos Irmãos Morávios.

Como se não bastasse as grandes aflições sofridas pela Igreja, por culpa dos seus maus líderes, no fim do Século XVII, teve início a chamada "era da razão". 0 mentor do homem em todos os assuntos da vida seria "a razão", "a mente". 0 Cristianismo e suas doutrinas sofreram grandes apuros, por não poderem ser aquilatados pela razão e raciocínio de homens naturais. Por fim, você estudará sobre a situação da Igreja oriental, a partir da tomada de Constantinopla pelos turcos, e as consequências que a capitulação daquela grande metrópole trouxe sobre o Cristianismo naquela região do mundo.

XV - A FRANÇA E A IGREJA CATOLICO-ROMANA

O Século XVIII foi para a França uma era de grande desenvolvimento, quando a nação prosperou tão rapidamente que veio a alcançar o primeiro lugar entre as nações europeias. Essa atividade teve o seu ponto alto ao longo do brilhante reinado de Luiz XIV, que se estendeu de 1661 a 1715.

Galicanismo: A Igreja Católica Romana na França serviu-se desse fortalecimento da vida nacional, demonstrando sua energia religiosa na pregação, nas obras filantrópicas e no trabalho missionário. Este crescimento e fortalecimento da vida religiosa nacional, deu origem ao movimento conhecido como "Galicanismo". O movimento, representava uma tentativa de conciliar a qualidade de bom católico com a de bom francês. Os galicanos eram devotos e profundamente ligados à Igreja Católica Romana, mas acreditavam igualmente que o papa não tinha o direito de interferir na política nacional da França. Nesta esfera só admitiam a autoridade do rei. Para aqueles que abraçavam o galicanismo, a autoridade papal era inferior até aos próprios concílios gerais da Igreja.

Ultramontanismo: Em oposição ao Galicanismo, levantou-se outro partido chamado "Ultramontano". Ultramontano é quem, em negócios da Igreja e do Estado, obedece ao papa antes que a qualquer autoridade. Por essa época, na França, o partido "Ultramontano" era formado principalmente pelos jesuítas, sempre fiéis ao papa.

Dissolução da Sociedade dos Jesuítas: Durante a última parte do Século XVII e durante todo o Século XVIII, os jesuítas sofreram forte oposição de grandes vultos da Igreja Católica na França. Estes homens opunham-se e protestavam com energia, contra as ideias falsas e dolosas, a respeito da moral de certos princípios, ideias realmente perigosas que os jesuítas espalhavam através do confessionário. Ainda se opunham aos jesuítas por causa da obediência cega e indiscutível que prestavam ao papa, em detrimento dos interesses patrióticos. Enquanto isto os jesuítas foram perdendo mais e mais a sua popularidade.

Quando Portugal, em 1759, expulsou os jesuítas, a opinião pública francesa exigiu que se fizesse o mesmo na França, o que foi feito em 1764. Este foi o começo do fim dos jesuítas. Logo após a Espanha também os expulsava. Em todos os casos, a razão da expulsão era a mesma: os jesuítas eram desleais e perigosos aos governos. Finalmente, o papa Clemente XIV sob pressão dos reis dos países que haviam sofrido sob a influência dos jesuítas, dissolveu essa Ordem.

Perseguição aos Huguenotes: A era áurea de Luiz XIV, teve um lado negro nos terríveis sofrimentos infligidos aos Protestantes franceses. Pelo Edito de Nantes, em 1598, os Huguenotes alcançaram completa liberdade de consciência; liberdade para exercer o culto público em muitos lugares, plenos direitos civis e o governo de um grande número de cidades.

Entre 1598 e 1659, não obstante o governo tirar dos Huguenotes o controle sobre as cidades, isto não lhes perturbou a liberdade religiosa. Nesta época, o Protestantismo cresceu, tomou corpo e chegou a assumir a posição de influência em grandes decisões nacionais. As igrejas tinham um ministério sólido e bem preparado. Entre os membros das igrejas havia muitos líderes de projeção, destacados comerciantes e industriais e muitos dos melhores artífices e trabalhadores vários.

Mas o clero católico romano, hipócrita e fanático, não podia tolerar este Protestantismo tão próspero. E, foi sobre a pressão desse clero que o governo começou um ataque maciço ao Protestantismo na França, em 1659. As primeiras medidas tomadas contra os protestantes foram: a suspensão total dos direitos civis e a perseguição em grande escala, para obrigá-los a professar o Catolicismo Romano. Em 1681, Luiz XIV levou a efeito, com muita pertinácia, um esforço selvagem para esmagar o Protestantismo, campanha que culminou com a revogação do Edito de Nantes, quatro anos depois. Os Protestantes estavam desamparados pelas leis, e não podia nem emigrar.

0 Resultado Para a França: 0 resultado de tudo isto foi uma perda irreparável para a França. Milhares dos seus mais excelentes cidadãos foram levados à morte, e outros a quase insuportáveis torturas. Nesse período, cerca de quatrocentos mil huguenotes fugiram deixando a França. A saída deles resultou num grande desastre econômico e moral para a nação. Pior ainda foi para a nação francesa a perda moral, perda que jamais foi recuperada. Depois de 1685 o Protestantismo na França, embora vergonhosamente perseguido, levou uma vida de heroísmo por quase oitenta anos. Foi quando cessou a perseguição, mas a liberdade religiosa não veio antes de 1789, concedida pelo primeiro dos governos da Revolução Francesa.

A Igreja Católica e a Revolução Francesa: Quando a Revolução Francesa rebentou em 1789, a Assembleia que representava o povo, demonstrou amargo desagrado e hostilidade para com a Igreja Católica Romana. A perseguição contra os Protestantes tornou o povo desgostoso e fê-lo sentir horror por uma instituição, cujos líderes foram os causadores de tais barbaridades. Muitos patriotas franceses consideravam a Igreja Católica Romana como inimiga do espírito de lealdade nacional, porque o seu clero colocava a autoridade do papa acima da autoridade do governo.

Como Agiu o Governo: A primeira legislatura da Revolução, a Assembleia Nacional (1789-1790),
1) confiscou as propriedades da Igreja Romana e vendeu boa parte delas para enfrentar as necessidades nacionais;

2) estabeleceu completa liberdade religiosa;

3) aboliu as Ordens monásticas e reorganizou completamente a Igreja Católica, deixando-a nominalmente sujeita ao papa. Finalmente, não só a Igreja papal, mas o próprio Cristianismo foi objeto de ódio público. Isto foi devido, em parte, ao desenvolvimento da incredulidade, e, de outro lado pelo fato de muitos julgarem a Igreja Romana e o Cristianismo como coisas idênticas.

Em 1793, foi abolido o culto Cristão, negando formalmente a existência de Deus, e estabelecendo o culto da deusa Razão. O domingo ou o Dia do Senhor, foi substituído por um dia em cada dez, para descanso e diversões. Todavia o povo se opôs a tudo isto. Em 1795, o culto Cristão foi restabelecido pelo governo. Todas as agremiações religiosas tiveram permissão de exercer formas de culto. Este acordo foi quebrado por Napoleão que possuía suas próprias ideias acerca das relações entre a Igreja e o Estado.

XVI - 0 PROTESTANTISMO NA ALEMANHA

A história do Protestantismo alemão nos anos seguintes à Reforma, é desalentadora. Teve início uma era triste, de frequentes e inúteis disputas teológicas. Além disso, havia entre luteranos e os teólogos reformadores, discussões doutrinárias que alargavam cada vez mais as brechas entre estes dois grupos do Protestantismo.

Ortodoxia Luterana: Um dos resultados destas disputas teológicas, foi a elaboração, pelos luteranos, em 1577, de um longo credo chamado "A Fórmula da Concórdia". Ela condenava o Calvinismo, especialmente a doutrina da predestinação, perpetuando assim a separação dos grupos luteranos e reformado. "A Fórmula da Concórdia" veio a ser considerada pelos luteranos uma expressão completa da verdade Cristã. Foi esta a razão por que os ministros luteranos dedicaram suas vidas à exposição e defesa desse credo, em vez de procurarem fortalecer a vida espiritual do povo, induzindo-o ao serviço Cristão. Pouca ênfase era dada à necessidade de se procurar viver um Cristianismo vitalizado, rico de experiências e de frutos. As Igrejas eram frias, cheias de formalidades e inativas. Nessa época surgiu um movimento de vigor e poder espiritual, conhecido pelo nome de "Pietismo". Seu primeiro líder foi Filipe Jacó Spener, que bem moço viu o grande declínio religioso pelo qual passava seu país.

0 Pietismo: Como pastor em Frankfurt no período de 1666 a 1686, Spener muito se esforçou para que seu povo alcançasse um Cristianismo ardente, sincero, e purificasse a sua vida em todos os aspectos. Pregava sermões de caráter prático, fervorosos e simples. Insistia na verdade da regeneração, aquela mudança produzida no coração do homem de fé, pelo Espírito de Deus. Spener reavivou a doutrina básica da Reforma, o sacerdócio universal dos crentes.

Além do que alcançou na vida religiosa da Alemanha, o Pietismo inspirou em outras terras, forte impulso pelo poder espiritual, o que produziu grandes resultados. A Irmandade Morávia foi, em parte, um resultado desse movimento.

Os Moravianos: O fundador da irmandade moraviana foi o Conde Nicolau von Zinzendorf (1700-1760), nobre austríaco que foi profundamente influenciado pelo Pietismo. Quando moço pensou reunir numa comunidade um, grande número de pessoas verdadeiramente religiosas, que se tornassem uma fonte espiritual para as Igrejas e comunidades religiosas vizinhas. Quando tinha apenas vinte e um anos de idade, comprou um território na Saxônia, com o intuito de levar a termo o seu plano. Em pouco tempo foi essa região habitada de um modo providencial. Certos membros da irmandade da Boêmia, corpo religioso resultante da obra de João Huss, tendo sido perseguidos e expulsos dos seus lares na Morávia, conseguiram permissão de Zinzendorf para se estabelecerem no território a ele pertencente . Assim começou a formação dessa comunidade que tomou o nome de "Herrnhut", isto é, "Abrigo do Senhor".

Missões Moravianas: As atividades missionárias, que tornaram famosos os moravianos, começaram em 1731. Dois deles foram enviados a São Tomé, nas índias Ocidentais, e dois outros foram para a Groenlândia, onde o herói norueguês Hans Egede já tinha plantado o Evangelho. Seguiu a estes uma verdadeira torrente de missionários, de sorte que durante a vida de Nicolas Zinzendorf havia muitos dos seus irmãos trabalhando na Europa, Ásia, África, Américas do Norte e do Sul. Em qualquer lugar onde se encontrassem, demonstravam a mesma coragem, consagração e amor a todos os homens.

XVII - 0 PROTESTANTISMO NA INGLATERRA

Conseguindo maioria no Grande Parlamento, os Puritanos, afinal, alcançaram poder para tornar a Igreja da Inglaterra como desejavam. Com este propósito, o Parlamento convocou a Assembleia de Westminster (1643-1643), composta dos principais teólogos puritanos.

A Assembleia de Westminster: À assembleia de Westminster coube a responsabilidade de apresentar ao parlamento, os planos para uma reforma definitiva da igreja nacional. Ao mesmo tempo o parlamento, no propósito de alcançar o auxílio da Escócia na guerra contra o rei Carlos, aceitou a "Liga Solene" e o "Pacto". Este era uma ampliação do primeiro "Pacto Escocês", e obrigava os que o aceitavam, a defender a Igreja escocesa como tinha sido estabelecida ao tempo da Reforma, como também tornar em conformidade com ela, as igrejas da Inglaterra e da Irlanda.

Os Trabalhos da Assembleia: A assembleia escreveu e submeteu à apreciação do parlamento, uma constituição completa para a Igreja da Inglaterra. Além de um esquema para o governo eclesiástico, foi apresentada a Comissão de Fé, considerada como credo para uso da Igreja, e dos catecismos, o "Maior" e o "Menor".  

0 projeto da assembleia para o governo da Igreja foi aprovado pelo parlamento, que ratificou assim o sistema de governo presbiteriano. Mas ele nunca foi aceito de modo geral. Não foi fácil a aplicação dessa forma de governo à Igreja em razão da confusão reinante no pais, provocada pela guerra entre o parlamento e o rei Carlos.

A Comunidade Dirige os Negócios Eclesiásticos: À execução do rei em 1649, seguiu-se o estabelecimento do governo da comunidade, sendo Olivério Cromwell seu Senhor Protetor. Não obstante as muitas incertezas dominantes no período desse curto governo, havia certa liberdade religiosa, defendida por Cromwell. Não se permitia liberdade ao Romanismo ou ao sistema episcopal, a velha forma da Igreja Inglesa, pois ambos eram considerados politicamente perigosos. Além disto havia igrejas de várias denominações, destacadamente presbiterianas, congregacionais, batistas etc.

"Os Amigos" Foi nesta época que apareceu a "Sociedade dos Amigos", ou dos "Quakers". Por muitos anos a Inglaterra foi perturbada pelas disputas religiosas, principalmente as que se relacionavam com a forma de governo eclesiástico. Tudo isto aborrecia muito os ingleses que resolveram seguir os ensinos de George Fox. Este ensinava que a Igreja deveria ser guiada e instruída diretamente pelo Espírito Santo e que não deveria haver qualquer sistema fixo de governo, ou um ministério especialmente indicado, ou formas regulares de culto. George Fox foi um dos mais poderosos líderes religiosos do seu tempo e fervoroso evangelista que alcançou grande número de conversos.

0 Governo nas Mãos dos Puritanos: Os Puritanos, com o apoio do governo, tiveram a oportunidade de realizar o que desejavam, que era, fortalecer a religião e o caráter moral do povo. Foram aprovadas leis que exigiam um alto padrão moral do povo. A severidade das decisões puritanas foram manifestas nas mais diferentes áreas da vida nacional. Fecharam-se os teatros, foram proibidos esportes brutais e alguns divertimentos tidos por inocentes e de gosto popular, tais como o festejo do Natal. Não obstante a sua esplêndida prova de caráter, havia nos puritanos certa tirania e estreiteza de visão, que contribuiu para tornar seu governo bastante impopular entre o povo inglês.

Como a impopularidade do governo dos puritanos aumentasse dia a dia, seguiu-se uma tremenda reação do povo contra tudo que eles tentaram introduzir e realizar. Por essa época restaurou-se a monarquia (1660), com a elevação de Carlos II ao trono. Logo o novo governo restaurou a Igreja nacional à forma que tinha antes da vitória dos puritanos. Os bispos voltaram às suas paróquias e o "Livro de Oração Comum" voltou a ser o manual de culto.

A Grande Expulsão e Perseguição: Por se oporem a isto, cerca de dois mil ministros presbiterianos, congregacionais e batistas foram expulsos de suas igrejas. Seguiram-se várias tentativas de proscrição dos dissidentes. Atos oficiais proibiam assistência às reuniões que não fossem da Igreja oficial. Por uma falta dessa natureza foi preso, por doze anos, o célebre Cristão e escritor, artesão João Bunyan, que na prisão de Bedford escreveu "0 Peregrino".

Depravação Social: Terrível onda de imoralidade atingiu a aristocracia inglesa e afetou grandemente outras camadas da sociedade, em decorrência da oposição do parlamento ao Puritanismo. Depois da severidade da regra puritana, a situação tomou extremo oposto. O exemplo de um rei corrupto contribuiu para o agravamento dessa tendência. 0 Puritanismo parecia ter sido aniquilado. Mas tal não aconteceu.

A Revolução: Os acontecimentos dessa época mostraram, todavia, que a maioria do povo preferia que a Igreja nacional permanecesse como no tempo da Reforma, em vez de seguir o sistema introduzido pelos puritanos. Isto não significava que o Protestantismo inglês fosse assim duvidoso, e a prova se viu quando Tiago II, sucessor de Carlos II, tentou transformar a Igreja nacional em Católica Romana. O povo lutou com obstinada coragem, lançando mão de todos os recursos disponíveis para que tal coisa não acontecesse. Apelarem para Guilherme, Príncipe de Orange e Chefe do Estado da Holanda, cuja esposa, Maria, era filha do rei, para que viesse com um exército, defender a liberdade da Inglaterra e do Protestantismo. O país levantou-se para apoiá-lo. 0 rei Tiago II fugiu para a França, enquanto Guilherme e esposa tornaram-se soberanos da Inglaterra.

Essa revolução (1689) decidiu a favor da Inglaterra várias questões de mais alta importância, entre as quais destacaram-se as seguintes: 1) que o poder pertencesse ao povo; 2) que a Inglaterra continuasse protestante; 3) que houvesse liberdade de culto.

Declínio Religioso: A vida religiosa da Inglaterra, por quase cinquenta anos depois da revolução, apresenta um quadro de tristeza, indiferentismo e de generalizada estagnação. A maioria do clero era constituída de homens de pouco fervor. Os deveres dos bispos e dos ministros, foram em grande parte negligenciados, em razão do mundanismo e egoísmo em que viviam. Muito pouco se fazia para suprir as necessidades religiosas do povo, razão que levou muitos a perderem o contato com a Igreja e se desinteressarem pelas suas atividades. Os não-conformistas, porém, eram mais vigorosos na sua vida religiosa do que a Igreja da Inglaterra e eram eles que haveriam de influir no futuro religioso dessa nação.

XVIII - O REAVIVAMENTO DE WESLEY NO SÉCULO XVIII

Em meio às incertezas quanto ao futuro da Igreja na Inglaterra, Deus levantou João Wesley, através do qual haveria de sacudir aquela nação, e trazer ao mundo o impulso religioso mais forte já ocorrido depois da Reforma.

João Wesley nasceu em 1703, em Lincolnshire, paróquia do seu pai, um dos ministros mais zelosos que havia na Inglaterra. Teve como mãe uma mulher de vida santa e de altas virtudes cristãs. Já adulto, foi estudar em Oxford, onde se destacou como homem de letras. Entrou para o ministério e serviu por alguns anos na paróquia do seu pai. Voltando depois a Oxford como professor de grego, tornou-se líder de um grupo de estudantes que eram extraordinariamente escrupulosos e metódicos em suas observâncias religiosas e deveres escolares. Por isso foram conhecidos como metodistas ou do Clube Santo. Entre eles estavam o irmão de João Wesley, Carlos, e um estudante pobre de Gloucester chamado George Whitefield.

A Conversão de Wesley: A convite do general Oglethorpe, Wesley foi à Geórgia, como um dos ministros da sua nova colônia na América. Foi uma estada breve e de pouco êxito. Contudo, foi aí que Wesley conheceu alguns missionários morávios, nos quais descobriu uma alegria e confiança Cristãs fora do comum e que ele próprio imaginava jamais ter experimentado. Começou, então, a sentir uma profunda mudança religiosa em sua vida. Voltou depois à Inglaterra, onde continuou sob a influência dos morávios. Este contato culminou na sua "conversão" que ocorreu em 1738, durante um movimento religioso em Londres. Sobre essa experiência, ele mesmo confessou anos depois: "Senti que confiei em Cristo, em Cristo somente, para minha salvação e alcancei grande segurança e a certeza da purificação dos meus pecados, dos meus próprios pecados, e livrei-me da lei do pecado e da morte."

No ano seguinte ao da sua conversão, Wesley realizou o primeiro trabalho que o firmou como o líder de um grande avivamento. Em março de 1739, pregou ao ar-livre a um grupo de gente humilde, perto de Bristol. A partir daí, e quase por cinquenta anos, Wesley trabalhou infatigavelmente.

Carlos Wesley e George Whitefield: Dois valorosos cooperadores no reavivamento de Wesley, foram, seu irmão Carlos Wesley e George Whitefield. Carlos destacou-se como eficiente pregador, mas sua principal contribuição para o reavivamento foi dada através dos seus hinos - cerca de seis mil. Whitefield desenvolveu enorme atividade como evangelista itinerante.

Oposição ao Avivamento: Não obstante os irmãos Wesley e Whitefield serem ministros da Igreja da Inglaterra (Anglicana), foram proibidos de pregar nas igrejas oficiais. O alvoroço às vezes provocado pela pregação destes ministros, era desagradável para aquela época caracterizada pela moderação e restrição em todas as coisas. Por essa época foram excluídos das igrejas e sofreram amarga oposição dos clérigos da igreja oficial.

Os Evangélicos: Não era possível que tão grande avivamento deixasse de afetar a vida da Igreja Inglesa. Surgiu um partido poderoso, denominado de "Evangélicos", composto de clérigos e de leigos que foram influenciados pelo movimento vivificador. Tal influência se fez sentir na religião pessoal, na pregação e em toda a obra ministerial, como também no trabalho dos leigos.  

A Pregação do Reavivamento: A pregação do reavivamento não era, como disse Wesley, nada de novo. Era a proclamação da livre graça de Deus em Cristo Jesus, e da salvação livre, gratuita, pela fé no Salvador. Era o convite de Deus ao arrependimento e à fé. Os hinos do reavivamento ensinavam e revelavam estas grandes verdades e o povo as entendia e as aceitava. Entre esses hinos podem citar-se, "Jesus, Amado Salvador", "Rocha Eterna", e muitíssimos outros. A velha história e antiga mensagem do genuíno Evangelho que por muitos anos fora conhecida na Inglaterra, apareceu agora anunciada com verdadeiro zelo e verdadeira paixão.

XIX - OS RESULTADOS DO REAVIVAMENTO DE WESLEY

Organização da Igreja Metodista: Um dos grandes resultados do reavivamento de Wesley, foi a formação de uma nova Igreja - a Metodista. Na verdade Wesley não desejava esse resultado. Tinha muito amor à Igreja da Inglaterra e desejava que ela fosse alcançada pelos benefícios do seu trabalho. A organização da nova Igreja foi coisa a que se viu forçado a aceitar e reconhecer. Por muitos anos o clero anglicano o antipatizou e hostilizou, até que os "Evangélicos" se tornaram bastante fortes e influentes. Até mesmo os não-conformistas, isto é, as Igrejas Livres, não apoiavam nem auxiliavam o seu trabalho. Gradualmente ele transformou suas sociedades com os respectivos pregadores em Igrejas, e, em 1784, a Igreja Wesleyana ou Metodista foi definitivamente organizada. Sete anos depois, quando Wesley faleceu, a Igreja contava com setenta e sete mil membros.

Despertamento Espiritual: Outro resultado ainda maior do reavivamento de Wesley, foi o soerguimento espiritual que afetou profundamente o país, em toda a sua extensão. Milhares de pessoas passaram de um Cristianismo teórico e morto, para o cristianismo vivo e prático. Muitos deles pertenciam às classes trabalhadoras, e foi assim que uma poderosa influência espiritual dominou esta parte da sociedade inglesa. A própria Igreja da Inglaterra e as Igrejas Livres receberam novo alento, novo espírito em grande proporção.

Obras Sociais: Esse despertamento revelou-se de um modo maravilhoso no desenvolvimento das obras sociais de caráter Cristão. O amor de Deus, sentido e experimentado com novo poder que procedeu do reavivamento por toda a parte anunciado, impulsionava os homens ao amor e ao serviço em favor dos seus semelhantes. Foi assim que a moderna filantropia ou assistência social, recebeu seu primeiro e poderoso impulso.

Nessa época surgiu o abençoado movimento de ensino bíblico popular, denominado Escola Dominical. A primeira escola foi iniciada em 1780 por Robert Raikes, um jornalista Cristão, culto e rico, de Gloucester. Foi um dos primeiros passos na educação da Inglaterra, como também o começo do movimento mundial das Escolas Dominicais. A escola de Raikes era destinada a crianças pobres que cresciam na ignorância, ministrando educação religiosa acompanhada de alfabetização e ética em geral. Nessa época, ilustres Cristãos destacaram-se como líderes de movimentos de interesses nacionais, tais como: reformas penitenciárias e contra o trabalho dos menores. 0 interesse e cuidado do público a favor dos pobres tornaram-se mais compreensivo e mais cheio de amor. Foram fundados hospitais e outras casas de caridade.

0 Movimento Missionário Moderno: 0 maior de todos os resultados do reavivamento de Wesley, foi o moderno movimento missionário. Várias influências o estimularam, particularmente as então recentes descobertas no Sul do Pacífico. Sem o impulso para o serviço Cristão provocado pelo reavivamento religioso, jamais teria surgido esse santo desejo para a obra missionária de além mar. Coube a Guilherme Carey, sapateiro e pregador leigo Batista iniciar o movimento missionário. A despeito da oposição e desdém, ele impressionou os seus ouvintes com a visão que tinha, de ver o mundo pagão convertido a Cristo.

Em 1792, ele organizou a "Sociedade Batista Para a Propagação do Evangelho Entre os pagãos". O primeiro missionário por ela enviado foi o próprio Carey, destinado a realizar um nobre trabalho na índia. O exemplo dos Batistas foi logo imitado. A "Sociedade Missionária de Londres" foi organizada em 1795, formada principalmente pelos Congregacionais, e a "Sociedade Eclesiástica Missionária", em 1799, pelos "Evangélicos" da Inglaterra. Os Metodistas também organizaram seu trabalho missionário. Tal entusiasmo missionário se espalhou pela Escócia, América e pelo continente europeu.

XX - 0 PROTESTANTISMO NA ESCÓCIA E NA IRLANDA

A restauração de Carlos II ao reino da Escócia, foi seguida de uma reação semelhante a que houve na Inglaterra. Em 1661, o Parlamento Escocês restabeleceu os bispos na Igreja da Escócia e declarou o rei como chefe da Igreja. Removeu também das suas paróquias muitos ministros que foram substituídos por homens incompetentes. Contra tal atitude houve protesto do povo, que em grande parte abandonou as Igrejas para ouvir os ministros expulsos em suas próprias casas ou nas praças públicas. 0 governo então resolveu forçar o povo a assistir às reuniões nas Igrejas, valendo-se de leis opressivas.

Os Pactuantes Perseguidos: Levantaram-se os "Covenanters" ou Pactuantes, poderosos grupos de pessoas que insistiam em permanecer fiéis à antiga forma presbiteriana e contrário às interferências do governo nos negócios da Igreja. Contra essas pessoas moveu-se atroz perseguição cujo resultado foi torná-la mais firme. Não tardou para que essa oposição ao governo se transformasse em rebelião armada, que terminou na batalha da Ponte Bothwell em 1679, onde os rebeldes foram derrotados. Depois disto alguns Pactuantes prometeram ficar em paz. Outros, porém, conhecidos como "Cameronianos", com seu chefe Ricardo Cameron, nem se submeteram, nem reconheceram o governo, que lhes exigia o que eles próprios consideravam um erro. No oeste da Escócia esta gente foi perseguida por toda a parte. Homens e mulheres preferiram abandonar suas profissões e lares, a violar suas convicções quanto ao que julgavam ser à vontade de Deus.

A Igreja Escocesa Volta a Ser Presbiteriana: 0 fim dessa perseguição veio com a ascensão ao poder, de Guilherme e Maria, em 1689. O presbiterianismo foi, então, restaurado na Escócia para nunca mais ser perturbado. Alguns dos "cameronianos" não aprovaram de todo esta restauração, em virtude de não se fazer referência especial ao Contrato ou Acordo, que para eles era de tanta importância e estima. Daí eles se recusa­ram a tomar parte na Igreja reorganizada da Escócia. Deles procedeu a organização que tomou o nome de Igreja Reformada Presbiteriana.

A Igreja Nacional que se tornara presbiteriana em 1689, além de ser a igreja oficial da Escócia, representava realmente as legítimas opiniões e sentimentos religiosos do povo. A grande maioria era presbiteriana, e quase todos, exceto uns poucos, estavam na Igreja nacional. A união dos Parlamentos da Inglaterra e da Escócia em 1707, deixou este último país sem outro parlamento ou qualquer instituição política que lhe fosse própria. A Igreja nacional tornou-se então a grande organização do povo escocês.

O Declínio da Religião: A vida religiosa da Escócia durante o Século XVIII foi assinalada por indiferença generalizada e por uma inatividade semelhante à que existia na Inglaterra antes do grande reavivamento. Não havia interesse nem entusiasmo no ministério. Quando Wesley e Whitefield entraram no país, sofreram a mesma oposição que experimentaram na Inglaterra.

O reavivamento geral na Inglaterra não teve a mesma correspondência na Escócia, que esperou até o Século XIX para experimentar a influência renovadora e vivificadora do Espírito Santo. 0 entusiasmo pelo trabalho missionário afetou também a Escócia, e duas sociedades missionárias foram organizadas em 1796. Mas no mesmo ano, a Assembleia Geral da Igreja Escocesa aprovou o indigno ponto de vista de que "espalhar o conhecimento do Evangelho entre os bárbaros das nações pagãs é absurdo e inominável." Essa Igreja não cuidou das missões até o ano de 1824.

O Presbiterianismo na Irlanda: Durante a primeira metade do Século XVII, grandes extensões de terra no norte da Irlanda, foram tomadas pelo governo inglês, em virtude dos seus proprietários se terem rebelado. O povo irlandês que residia nessas regiões ficou desabrigado e emigrou para o Sul. Suas propriedades foram ocupadas pelos novos colonos que o governo fez vir da Escócia e da Inglaterra. Mais tarde, durante os "Tempos de Trucidamento", outros povos escoceses fugiram para a Irlanda. Foi assim que a província de "Ulster" veio a ser habitada principalmente por gente escocesa, quase toda ela presbiteriana. Esta é a origem do povo "escocês-irlandês". Durante o século seguinte foram terrivelmente maltratados pelos proprietários das terras. Foram também perseguidos pela Igreja oficial da Irlanda, que era episcopal, como a da Inglaterra. Por isto, entre os anos de 1713 e 1775, muitos milhares de escoceses-irlandeses emigraram para a América onde desempenharam notável papel na formação do povo americano.

XXI - A IGREJA NO ORIENTE

Em 1453, caiu sobre a Igreja do Oriente o maior desastre de sua história: a tomada de Constantinopla pelos turcos. 0 Império do Oriente, por tanto tempo campeão do Cristianismo, caiu, tinha agora um sultão sentado no trono do imperador. Santa Sofia, a magnífica catedral construída por Justino, no Século VI, foi tornada uma mesquita muçulmana, sinal visível da capitulação do Cristianismo sob as mãos do Islamismo. Os Cristãos perderam todos os seus direitos ainda que pudessem conservar o seu culto, tendo de viver em sujeição, sem nenhum amparo legal. Contudo a organização da Igreja permaneceu inalterada. 0 patriarca de Constantinopla teve os seus poderes aumentados sobre os patriarcas de Antioquia, Jerusalém e Alexandria, tornando-se o chefe de todos os Cristãos do império turco, exceto a Rússia. O patriarca era indicado pelo sultão e estava inteiramente à mercê do seu poder. Assim, rapidamente perderam o seu poder, pois perderam a influência perante o povo que os consideravam lacaios dos sultões.

Declínio Intelectual da Igreja: Com a queda de Constantinopla muitos gregos cultos fugiram para a Europa ocidental e ali tomaram parte do renascimento cultural. A emigração desses homens altamente instruídos enfraqueceu seriamente a vida intelectual da Igreja oriental. O clero passou a ser composto por homens ignorantes, e, a pregação desapareceu dos púlpitos. Numa era quando a mentalidade dos homens do ocidente se levantou pelo renascimento, aconteceu exatamente o contrário na Igreja oriental. Assim a vitória turca foi, em todos os sentidos um golpe profundo e mortal contra a Igreja oriental. Mesmo precariamente, essa Igreja continuou existindo.

A Rússia e Sua Igreja: Logo após a queda do Império Ocidental, levantou-se um novo império no Norte, a Rússia. Desde a queda de Constantinopla, a igreja russa foi se tornando independente. Nominalmente ainda era sujeita ao patriarcado de Constantinopla, mas o bispo metropolitano de Moscou não foi mais escolhido pelo patriarca de Constantinopla. Assim, em 1587, o bispo metropolitano de Moscou via-se elevado à categoria de patriarca. Durante o século seguinte, a Igreja russa revelou uma vida nova, especialmente ao tempo do famoso patriarca Nicônio. Este promoveu um extraordinário desenvolvimento na educação e na vida moral do clero, como também, despertou interesse pela pregação. Na doutrina, porém, não houve mudança; não se verificou qualquer progresso na direção de uma forma mais pura de Cristianismo. Quando o Protestantismo penetrou na Rússia, foi terrivelmente perseguido e expulso. Também, nem a religião, nem o clero, nem o povo puderam libertar-se da superstição dominante.

Os Uniatas: Durante o período da Contrarreforma, enquanto a Igreja Católica Romana lutava por conquistar e reconquistar todos os povos, tentou também ganhar a Rússia. Foi bem sucedida em algumas regiões do sudoeste do país à custa de certas atitudes liberais. Tudo o que se pedia do povo que vinha da Igreja oriental para a Romana, era submissão ao papa. Foi-lhes permitido conservar sua forma de culto e costumes religiosos, e até mesmo permissão para os membros do clero se casarem. Esses católicos eram chamados "uniatas".

O Governo da Igreja: No início do Século XVIII, o czar Pedro, o Grande, deu à Igreja a forma de governo que ela conservou até a revolução de 1917. Em substituição ao patriarca, organizou o Santo Sínodo, que era um corpo de bispos e sacerdotes escolhidos pelo czar. Essa igreja era teoricamente controlada pelo procurador que representava a expressa vontade do czar. Assim a Igreja russa tornou-se completamente sujeita ao governo que passou a ser o seu "guarda e protetor".

XXII - A IGREJA NA AMÉRICA DO NORTE

O Cristianismo na América procedeu do Velho Mundo. Na América do Norte, para cuja colonização várias raças contribuíram, ainda que um só tipo de Cristianismo tenha dominado no começo colonial, o resultado tem sido a enorme variedade de modos de expressá-lo, e uma necessária tolerância mútua, que muito contribuiu para o surgimento de plena liberdade religiosa.

Ali, onde o contato entre esses vários tipos de Igrejas tem sido constante, o princípio da independência quanto ao controle do Estado, domina desde o movimento separatista nacional. Ali é bem diferente o sistema de governo eclesiástico em relação às normas europeias, o que permite à Igreja na América do norte possuir uma espécie de governo com modelo propriamente americano.

Diversas Igrejas europeias, cedo lançaram suas raízes no solo americano, com total êxito quanto às dificuldades de transplantação. 0 Cristianismo americano pode ser visto como parte integrante do desenvolvimento religioso da Cristandade europeia, e o aparecimento cedo de seus aspectos "americanos", o revelam como um movimento inovador da Igreja nos séculos seguintes. Ao tratar das Igrejas na América do Norte, e especialmente nos Estados Unidos, por uma questão de espaço, limitamo-nos a mencionar aquelas consideradas mais importantes, portanto, dignas de maior atenção, indo desde a Igreja Católica Romana, aos "Irmãos Unidos em Cristo".

XXIII - IGREJA CATÓLICO-ROMANA

Em virtude das primeiras expedições ao Novo Mundo, com o fim de descobrir, conquistar e colonizar, terem sido levadas a efeito por nações católico-romanas, como a Espanha, Portugal e França, a primeira Igreja a se estabelecer no continente ocidental, tanto na América do Sul como do Norte, foi a Igreja Católico-Romana.

A história desta Igreja na América começou no ano de 1494, quando Colombo, em sua segunda viagem, tomou consigo doze sacerdotes para trabalharem na conversão dos nativos nas terras que possivelmente fossem descobertas. Onde quer que os espanhóis fossem, para conquistar ou se estabelecerem, se faziam acompanhar dos seus clérigos, que estabeleciam seu sistema religioso. As Igrejas romanas primitivas dos Estados Unidos situavam-se em Santo Agostinho, na Flórida, e em Santa Fé, no Novo México, fundadas mais ou menos em 1565 e 1600 respectivamente. O método usado pelos espanhóis era o de escravizar os nativos, forçar-lhes à conversão e obrigar-lhes a construir templos e mosteiros semelhantes aos existentes na Espanha. Como resultado da ocupação dos espanhóis, os territórios da Flórida e Califórnia, foram por séculos dominados pela Igreja Católica Romana.

Pouco depois do domínio espanhol no Sul, veio a ocupação francesa no Norte, desde o Rio São Lourenço, na "Nova França", o atual Canadá. Quebec foi fundada em 1608, e Montreal em 1644; por algum tempo os imigrantes franceses eram poucos. Em 1663 a população francesa do Canadá contava com apenas duas mil e quinhentas pessoas, mas não demorou para que o número de descendentes de franceses nascidos no Canadá atingisse um índice maior do que o número daqueles que nasciam mesmo na França, de maneira que em toda a região do Rio São Lourenço, desde os Grandes Lagos até o Atlântico, era concreta a dominância de franceses católicos, na maioria analfabetos e muito mais submissos aos seus sacerdotes que seus patrícios católicos da França.

Grande esforço fora feito no Canadá para que os índios se convertessem à fé católica. Dentre os que se deram a essa causa, destacam-se os jesuítas. Seus métodos eram diferentes dos adotados pelos missionários da América espanhola, pois buscavam ganhar a amizade dos índios por sua amabilidade e abnegação. Na metade do Século XVIII todo o território do grande Noroeste, além dos montes Alleghenys, estavam debaixo da influência francesa, enquanto, o Sudoeste era dominado pela Espanha, e sobre todas as possessões a Igreja Católica Romana era suprema. Só uma estreita porção da terra na costa do Atlântico, onde estavam algumas colônias inglesas, era protestante. Tudo indicava que os católicos iriam governar todo o Continente. Porém, a conquista britânica do Canadá em 1759, e mais tarde a concessão de Luisiana e Texas aos Estados Unidos, alterou o equilíbrio religioso na América do Norte, tornando-a predominantemente protestante.

As colônias inglesas no litoral do Atlântico eram protestantes, exceto os colonizadores de Maryland, que eram católicos ingleses, cujo culto era proibido em seu próprio país. No Novo Mundo eles conseguiam permissão constitucional para exercer sua fé e celebrar seu culto. Contudo, só no ano de 1790 é que foi consagrado o primeiro bispo católico dos Estados Unidos, para servir em Maryland. Por esse tempo a população católica no país estava calculada em trinta mil.

Um grande período de imigração à América do Norte procedente da Europa, começou pelo ano de 1845. A princípio era na sua maioria católica, e procedia principalmente de condados católicos da Irlanda, mais tarde do sul da Alemanha e da Itália. Do aumento natural por nascimento, por imigração e por uma cuidadosa supervisão sacerdotal, a Igreja Católico-Romana dos Estados Unidos tem atualmente (1980) nada menos de cinquenta milhões de comungantes, contudo constituindo-se minoria em relação ao número de adeptos de confissão evangélica.

XXIV - IGREJAS EPISCOPAL E CONGREGACIONAL

Protestante Episcopal: A Igreja da Inglaterra foi a primeira Igreja protestante a se estabelecer na América do Norte, e o seu primeiro serviço religioso foi celebrado na Califórnia, no ano de 1579 por Francis Drake. Contudo, só em 1607, com a fundação de Jamestown, Virgínia, essa Igreja assumia forma definitiva. A Igreja da Inglaterra era a única reconhecida no período primitivo da Virgínia e outras colônias do Sul. Quando Nova Iorque, que foi colonizada pelos holandeses, tornou-se território em 1664, a Igreja da Inglaterra aí foi estabelecida como igreja oficial da colônia, enquanto outras formas de culto eram permitidas.

A todo clérigo desta Igreja era exigido um juramento de lealdade à coroa britânica, e, como resultado natural, quase todos eles foram leais àquela, na guerra da independência. Nessa época, perseguidos, muitos dos clérigos deixaram o país e no fim da guerra era difícil achar quem quisesse ocupar as paróquias vazias, principalmente porque o requisito na ordenação que exigia lealdade â Inglaterra, não podia ser satisfeito. Porém, em 1784, o Rev. Samuel Seabury, de Connecticut, recebeu consagração de bispos escoceses, que não exigiam o voto de lealdade à coroa inglesa.

Nos Estados Unidos essa Igreja tomou o nome oficial de Igreja Protestante Episcopal, perdendo toda e qualquer ligação com a Igreja da Inglaterra. Essa Igreja reconhece três ordens no seu ministério: bispos, sacerdotes e diáconos, e aceita quase todos os trinta e nove artigos da Igreja Inglesa, modificando apenas para adaptá-los ao modelo de governo eclesiástico americano. Sua autoridade legislativa constitui-se de uma convenção geral que se reúne a cada três anos, e é formada por uma câmara de bispos, e uma outra de delegados, clérigos e leigos eleitos por convenção nas diferentes dioceses.

Congregacionais: Depois da Virgínia sob a Igreja da Inglaterra, a segunda região colonizada foi a Nova Inglaterra. Foi colonizada pelos "Peregrinos", que chegaram a Plymouth, na Baía de Massachusetts em 1620. Eram "independentes" ou "congregacionais", e formavam o elemento mais radical do movimento puritano inglês, exilados da Inglaterra na Holanda, por causa de suas ideias, e que agora buscavam um lugar nas terras do Novo Mundo. Antes de desembarcarem em Plymouth se organizaram como uma verdadeira democracia, com um governador e conselho eleitos por voto popular, ainda que debaixo da bandeira inglesa. A princípio não se separaram da Igreja da Inglaterra, mas se consideravam reformadores dentro do seio da igreja. Eles tinham uma forma de pensar e de adorar a Deus completamente diferente da adotada pela Igreja da Inglaterra por essa razão foram duramente perseguidos pelas autoridades da dita Igreja.

Tinham, como os presbiterianos, um credo fundamentalmente calvinista, diferindo apenas na forma de governo, pois eram congregacionais. Desde 1852 o sistema congregacional tem alcançado um rápido desenvolvimento nos Estados Unidos. Em 1931 a Igreja Congregacional e a Igreja Cristã Congregacional, tinham quase dois milhões e quinhentos mil membros e mais de oito mil igrejas organizadas só nos Estados Unidos.

XXV - IGREJA REFORMADA E BATISTA

Igreja Reformada: Nova Iorque, ocupada pelos holandeses em 1613, não chegou a ter uma população de colonos permanentes senão a partir de 1623. A princípio a colônia teve o nome de "Novos Países Baixos", e "Nova Amsterdam". A primeira Igreja aí organizada em 1628, recebeu o nome de Igreja Protestante Reformada Holandesa, e durante a supremacia holandesa era a igreja oficial da colônia. Igrejas desta denominação foram estabelecidas ao norte de Nova Jersey e em ambas as margens do Rio Hudson até Albany. Em 1664 a colônia foi tomada pela Inglaterra que lhe deu o nome de Nova Iorque como é conhecida até hoje. Desde aí a Igreja da Inglaterra passou a ser a Igreja oficial. Assim, em 1867, a palavra "holandesa" foi omitida de seu título, e passou a ser chamada de Igreja Reformada da América.

As ditas Igrejas reformadas têm um mesmo sistema de doutrina calvinista, e têm uma organização governamental parecida com o presbiterianismo, porém, com diferentes nomes para o seu corpo eclesiástico. A junta governante da igreja local é formada por um consistório. Os consistórios juntos formam um conselho; os conselhos de um distrito estão unidos em um sínodo particular, e estes em um sínodo geral.

Igreja Batista: Os Batistas surgiram pouco depois do começo do século da Reforma, na Suíça, em 1623, e se espalharam rapidamente ao norte da Alemanha e da Holanda. Na América do Norte, chegaram com Roger Williams, um clérigo da Igreja da Inglaterra, que vindo à Nova Inglaterra, foi expulso de Massachussetts porque se recusou aceitar regras e opiniões congregacionalistas. Fundou a colônia de Rhode Island em 1644, de onde os Batistas se espalharam por todas as partes do continente.

A Igreja Batista dos Estados Unidos é congregacional em seu sistema. Cada Igreja é absolutamente independente de toda a jurisdição exterior e fixa suas próprias normas para os membros. Foram os Batistas da Inglaterra que formaram a primeira sociedade missionária moderna em 1792, e enviaram Guilherme Carey como missionário à Índia. A adoção das ideias Batistas por Adoniram Judson e Lutero Rice, que foram enviados missionários ã Birmânia, motivou a organização da Convenção Geral Missionária Batista em 1814, e desde esse tempo os Batistas estão na vanguarda com um esforço missionário marcado pelo êxito.

XXVI - SOCIEDADE DOS AMIGOS E LUTERANOS

Sociedade dos Amigos: De todos os movimentos que surgiram da grande Reforma, quem mais combateu as formas de governo da Igreja foi sem dúvida a "Sociedade dos Amigos", comumente chamada "Quakers". Esta sociedade, formada por seguidores dos ensinos de George Fox, na Inglaterra, nunca tomou o nome de Igreja. Fox se opunha às formas exteriores da Igreja, o ritual e sua organização. Ensinava que o batismo e a comunhão deviam ser espirituais e não formais; que as sociedades Cristãs não deviam ter sacerdotes nem ministros, mas que qualquer adorador devia falar segundo fosse inspirado pelo Espírito Santo, que é a "luz interior" e guia a todos os verdadeiros crentes; e que os homens e mulheres deviam ter os mesmos privilégios. Seus seguidores, a princípio chamavam a si mesmos "Filhos da Luz", porém, mais tarde, "Sociedade dos Amigos".

Os ensinos de George Fox foram aceitos por multidões que não simpatizavam com o espírito dogmático e intolerante manifestado nesse tempo pela Igreja da Inglaterra. Perseguidos, buscavam refúgio na Nova Inglaterra, onde encontraram os puritanos não menos dispostos que a Igreja da Inglaterra a persegui-los. Pelo menos quatro deles - entre estes, uma mulher - foram executados em Boston.

"Os Amigos" encontraram lugar seguro em Rhode Island, onde todas as formas de culto eram permitidas. Daí formaram colônias em Nova Jersey, Maryland e Virginia. Em o território da Pennsylvania foi doado a Guilherme Penn, um dos líderes dos "Amigos", pelo Rei Carlos II. Filadélfia foi fundada em 1682.

A escravidão existia em todas as colônias, menos entre "Os Amigos". Se interessavam profundamente e se esforçavam pela cristianização e civilização dos índios americanos, ao visitar os presos nos cárceres, e em outras atividades filantrópicas. Muitas formas de trabalho que agora são importantes, foram iniciadas e sustentadas pelos Quakers, muito antes que fossem consideradas por outros como uma obra legítima da Igreja. Talvez em razão da falta de um sistema de governo estável, os Quakers têm se dividido em diferentes ramos, na maioria das vezes por questões de doutrina.

Luteranos: Em 1638, alguns luteranos suecos se estabeleceram perto do rio Delaware, e erigiram a primeira Igreja Luterana da América do Norte, perto de Lewes. Porém, a imigração sueca cessou até o século seguinte. Em 1710 uma colônia de luteranos procedentes da Alemanha fixou-se em Nova Iorque e Pennsylvania, onde também fundaram igrejas. Desde aí milhares de protestantes procedentes da Alemanha e Suécia começaram a chegar, e em 1748 reunia-se o primeiro Sínodo luterano em Filadélfia. Os luteranos na América, hoje, acham-se organizados em pelo menos quinze ramos diferentes e independentes. Como Lutero, aceitam a doutrina da justificação pela fé; creem na ordenança do batismo e da Santa Ceia do Senhor, não só como um memorial, mas também como meio de graça Divina. Estão organizados em sínodos que por sua vez formam um sínodo geral, porém reservando muita autoridade para as Igrejas locais.

XXVII - IGREJAS PRESBITERIANA E METODISTA
Igreja Presbiteriana: As Igrejas presbiterianas da América do Norte surgiram de duas fontes: a Igreja Presbiteriana da Escócia, e o movimento puritano da Inglaterra.
Na Nova Inglaterra os imigrantes presbiterianos, em sua maioria, se uniram às Igrejas congregacionais, enquanto nas outras colônias organizaram igrejas com modelo próprio. Uma das primeiras Igrejas presbiterianas na América foi formada em Snow Hill, Maryland, em 1648. Em 1705, Francisco Makemie e outros ministros presbiterianos, se reuniram em Filadélfia e uniram suas Igrejas num presbitério e logo organizaram um sínodo.

Na definição doutrinária desta Igreja evidenciou-se quão diferente entre si eram os elementos ingleses, escoceses e irlandeses, que contribuíram para a sua formação em terras da América. Por essa razão houve divisões no sínodo e presbitérios. Um desses resultados foi a organização da Igreja Presbiteriana de Cumberland; em 1810, em Temesse, de onde estendeu-se a outros Estados vizinhos até os mais distantes Estados do Texas e Missouri. Em 1837, houve uma nova divisão por questões doutrinárias entre os elementos conhecidos respectivamente como Antiga e Nova Escola Presbiteriana. Só depois de quarenta anos de separação, quando as diferenças haviam se dissipado, é que voltaram a se unir.

Há pelo menos dez diferentes ramos de presbiterianismo nos Estados Unidos. Todos adotam a doutrina calvinista. A Igreja local é governada por uma junta composta do pastor e anciãos. As Igrejas estão unidas em presbitérios, e os presbitérios em sínodo. Acima de todos está a Assembleia Geral, que se reúne cada ano; porém as mudanças importantes no governo ou na doutrina, requerem a ratificação por uma maioria constitucional dos presbíteros, a serem aprovadas pela Assembleia Geral, para poderem chegar a serem leis.

Igreja Metodista: As Igrejas metodistas existem na América deste 1766, quando os primeiros pregadores wesleyanos ali chegaram. Constatando que a América era um campo promissor, em 1769, João Wesley enviou dois missionários, Ricardo Broadman e Thomas Pilmoor, para inspecionar a obra. Mais sete pregadores foram enviados mais tarde à América entre os quais se destacava Francisco Asbury.

A primeira conferência metodista nas colônias foi celebrada em 1773, sob a presidência de Thomas Rankin. A Igreja vinha experimentando desenvolvimento satisfatório sob a liderança de denodados pregadores. Porém, ao irromper a guerra da independência, todos, exceto Asbury, deixaram o país, até que a paz foi restabelecida em 1783.

Como as Igrejas metodistas da América estavam nominalmente ligadas à Igreja da Inglaterra, Wesley se empenhou por convencer o bispo de Londres a que consagrasse um bispo para a América do Norte. Vendo que seus esforços eram em vão, separou o Rev. Thomas Cook, um clérigo da Igreja Inglesa, como "Superintendente" das Igrejas Metodistas na América do Norte. Assim, numa conferência de ministros Metodistas em Baltimore, em 1784, a Igreja Metodista Episcopal foi organizada.

XXVIII - IRMÃOS UNIDOS EM CRISTO

A Igreja dos Irmãos Unidos em Cristo foi a primeira Igreja trazida do Velho Mundo  para a América. Organizou-se na Pennsylvania e Maryland, como resultado da pregação cheia de calor do Espírito, de dois homens: Felipe Guilherme Otterbein, originalmente um ministro da Igreja Reformada Alemã, e Martinho Boehn, um menonita.
Um 1767 Otterbein e Boehn se viram pela primeira vez numa grande reunião perto de Lancaster, Pennsylvania, quando o senhor Boehn pregou com extraordinário poder. No final do sermão, o corpulento senhor Otterbein abraçou o pregador e exclamou: "Somos irmãos". Desta saudação originou-se o nome oficial da Igreja, que teve sua instituição formal como Igreja, no Condado de Fredrick, Maryland, em 1800. Nesse tempo Otterbein e Boehn foram eleitos bispos e formaram um governo sobre a Igreja, modelado pela democracia americana. Ainda que sua forma de governo seja diferente da exercida pela Igreja Metodista, pregam a mesma teologia armiriianá.

Depois de vários anos de discussão, em 1889 essa Igreja sofreu uma divisão. Uma maioria favorecia uma revisão da constituição da Igreja concernente aos que pertenciam a sociedades secretas, como a maçonaria. Os "radicais" formaram uma nova igreja, enquanto que, os "liberais" reagiram, tomando posse de todas as propriedades da Igreja, exceto em Michigan e Oregon. Ambos os ramos da Igreja mantinham o nome de "Irmãos Unidos".

A Igreja dos "Irmãos" Diferente das outras Igrejas já mencionadas nesta lição, a Igreja dos "irmãos" (um terceiro ramo da Igreja dos Irmãos Unidos em Cristo) foi claramente norte-americana desde sua origem. Começou sua história em 1804, depois de um grande despertamento religioso no Tennessee e Fentucky, quando o Rev. Barton W. Stone, um ministro presbiteriano, se desligou dessa denominação e organizou uma Igreja em Cane Ridge, Condado de Bourbon, da qual a Bíblia seria a única regra de fé, e o seu único nome seria Igreja Cristã. Poucos anos depois o Rev. Alexandre Campbell, um ministro presbiteriano da Irlanda, adotou o batismo por imersão, e formou uma Igreja e chamou a seus seguidores de Discípulos de Cristo. Tanto Stone como Campbell estabeleceram muitas Igrejas e em 1827 suas congregações se uniram formando uma Igreja na qual ambos os nomes "Discípulos" e "Cristãos" foram reconhecidos.

Aceitam tanto o Antigo como o Novo Testamento, como única regra de fé e prática. Praticam o batismo por imersão, e o ministram apenas aos adultos. São congregacionalistas na sua forma de governo. Cada Igreja é independente, porém unidas como denominação para a obra missionária nacional e estrangeira. Seu ministério é formado por anciãos escolhidos pelas Igrejas, pastores, diáconos e evangelistas.

XXIX - ASSEMBLEIA DE DEUS

A Assembleia de Deus surgiu como resultado de um movimento religioso que teve sua origem no princípio do Século XX, e se espalhou em seguida, com rapidez por todo o mundo.

Em virtude de uma intensa sede espiritual, no final do Século XIX, grupos de crentes de diferentes denominações levaram a efeito sucessivas e demoradas reuniões de oração na busca de um avivamento. Como resultado das atividades desses crentes, surgiram avivamentos em diferentes lugares dos Estados Unidos e Europa. Caracterizava a esses avivamentos um intenso fervor evangelístico e sede espiritual revelada em muita oração. Dava-se também ênfase à operação dos dons espirituais, inclusive cura Divina para o corpo, e o falar em outras línguas, como sinal da recepção do batismo com o Espírito Santo. Predominava ainda um zelo missionário baseado na profunda convicção relativa à iminente volta do Senhor Jesus Cristo.

A origem do Movimento Pentecostal não se pode atribuir a determinada pessoa, pois existe evidências de derramamentos simultâneos do Espírito Santo em diferentes lugares do globo. Um ministro evangélico, chamado Daniel Awrey, recebeu o Batismo com o Espírito Santo em janeiro de 1890, na cidade de Delawere, Estado de Ohio. Um grupo de crentes pentecostais realizou uma convenção em 1897, na Nova Inglaterra. Mais ou menos na mesma época ocorreu um avivamento no Estado da Carolina do Norte. Em 1900 surgiu um avivamento pentecostal entre um grupo de crentes de nacionalidade sueca na cidade de Moorhead, Estado de Minnesota.
Pequenos grupos de obreiros Cristãos, procedentes de um avivamento na cidade de Topeka, Estado de Kansas, no ano de 1901, foram até Oklahoma e posteriormente ao Texas, levando a mensagem pentecostal. Foi assim que surgiram muitas Igrejas, as quais mais tarde formaram o Conselho Geral das Assembleias de Deus, nos Estados Unidos.

A mensagem pentecostal se espalhou com tanta rapidez que recebeu o nome de "movimento". 0 termo "Movimento Pentecostal" passou a designar a todos os grupos que buscavam o batismo com o Espírito Santo, acompanhado do falar em línguas, segundo a inspiração Divina. O movimento se espalhou de forma tão veloz, que dentro de poucos anos já lançava suas bases em países como Canadá, Chile, Brasil, Índia, Noruega e Ilhas Britânicas.

Em virtude do movimento pentecostal ter sido formado originalmente por crentes vindos de diferentes denominações, portanto, possuidores de diferentes pontos de vista, não demorou aparecer as diferenças de interpretação doutrinária dentro do movimento.  Por essa razão, e com o fim de se definir doutrinas e forma de governo a serem adotados pelo movimento, realizou-se na cidade de Hot Springs, Estado de Arkansas, entre 2 e 12 de abril de 1914, a primeira convenção das Assembleias de Deus nos Estados Unidos. São passados mais de setenta anos desde o lançamento de suas bases, contudo a Assembleia de Deus nos Estados Unidos, continua se destacando como uma grande força do Cristianismo naquela grande nação. Com um número de membros superior a um milhão e quinhentos mil, a Assembleia de Deus nos Estados Unidos possui um grande patrimônio, incluindo universidades, e institutos bíblicos, faculdades, imóveis, editoras, programas de rádio e TV. Ela é reconhecida como uma das Igrejas que mais crescem na América do Norte, e ainda tem uma operosa obra missionária apoiada com o trabalho de 1300 missionários, espalhados em todos os continentes.

XXX - A IGREJA NO BRASIL

O primeiro culto evangélico celebrado no Brasil, realizou-se no dia 10 de março de 1557, na Ilha de Villagaignon, no Rio de Janeiro, e foi dirigido pelo pastor Pierre Richier, um dos três primeiros pastores a chegarem ao nosso continente, quando da vinda ao Brasil de um grupo de crentes franceses, acossados pelas perseguições religiosas na Europa. Mais tarde, em 1624, os crentes da frota holandesa, na Bahia, iniciaram os cultos. Depois, em 14-02-1630, teve início uma série de cultos no Recife durante a ocupação holandesa. Estes dois últimos casos estavam ligados à Igreja Reformada Holandesa. Os primeiros cultos em caráter definitivo, no território brasileiro, foram realizados pela Igreja anglicana do Rio de Janeiro, desde 1810, para os membros da colônia britânica, constituída de diplomatas, comerciantes e suas famílias.

No dia 19 de agosto de 1835 chegava ao Rio de Janeiro o Rev. Fontain E. Pits, que viera sondar a possibilidade de estabelecer a Igreja Metodista em terras brasileiras. Contudo, esse fato foi reservado ao Rev. R. Justin Spaulding, que deu início à organização de uma congregação, com quatro membros da colônia americana residente no Rio.
Com um culto realizado a 27 de julho de 1845 a Igreja Luterana dava início às suas atividades no Brasil. Em 19 de agosto de 1855, em Petrópolis, o Sr. Robert Kalley, fundou a Escola Dominical, dando assim origem à Igreja Congregacional. No dia 12 de janeiro de 1862, no Rio de Janeiro, o Rev. Ashbel Green Simonton, fundou a Igreja Presbiteriana. No ano de 1881 chegaram ao Brasil os primeiros missionários Batistas, William Bagby e Z.C. Taylor. No ano seguinte, isto é, a 15 de outubro de 1882, fundaram eles a Igreja Batista, em Salvador, na Bahia. Com o número de dezoito irmãos provenientes da Igreja Batista de Belém, sob a liderança de Gunnar Vingren e Daniel Berg, no dia 18 de junho de 1911, na cidade de Belém do Pará, é fundada a Assembleia de Deus no Brasil.

XXXI - O EVANGELHO NA AMÉRICA DO SUL

O avanço do Protestantismo na América Latina nada tem a ver com conquistas políticas, pois desde o princípio os sistemas políticos dessa região do mundo, sempre se opuseram à expansão do Evangelho. As tentativas feitas pelos huguenotes franceses, na década de 1550, visando estabelecer-se no Brasil, longe das perseguições, foram repelidas pelas autoridades portuguesas com o aval da Igreja Romana. Os holandeses, que haviam controlado o nordeste brasileiro por mais de trinta anos, e nesse tempo estabeleceram um expressivo trabalho evangélico, também foram expulsos em 1661. Não obstante a oposição sofrida, pelos fins do Século XVIII, a causa protestante ganhava asas. Foi nesse tempo que as sociedades missionárias congregacionais e metodistas começaram a operar nessa área, e nas Guianas, no começo do Século XIX, quando os ingleses e holandeses controlavam esta última região.

Lutas Pela Liberdade Religiosa: À medida que os países dominados pela Espanha e Portugal ganhavam sua independência, muitas leis discriminatórias foram revisadas, e na constituição desses países a palavra proíbe começou a ser trocada por permite; "permite-se o exercício público de outras religiões".

Mudadas as leis opressivas em leis favoráveis, as Igrejas protestantes começaram a aumentar. Nas Guianas, que nunca conheceram o domínio espanhol ou português, se achava o maior número de protestantes. Os moravianos, que haviam chegado ali em 1738, formavam um total de quase 9000 membros. Os Metodistas anunciavam contar com mais de 4000 membros. Em 1900, as Igrejas desses dois pequenos países constituíam quase 50% dos membros das Igrejas evangélicas da América do Sul. À sombra da inquisição, o clero romano com o aval de muitos governantes infligia perseguições extremas aos evangélicos na América Latina, o que de certa forma aumentava o zelo dos crentes e a expansão das Igrejas.

Depois de 1890, o Brasil reconheceu a "absoluta igualdade" entre as diferentes Igrejas aqui existentes. Isso permitia que centenas de Igrejas fossem estabelecidas de imediato. Todavia, a igualdade diante da lei frequentemente era desrespeitada pela Igreja Romana, que se contentava em levantar sucessivas ondas de perseguição às Igrejas evangélicas do Brasil e de outros países latino-americanos.

É digno de nota que mesmo depois de 1900, países da América Latina como o Chile, Colômbia, Venezuela, Argentina, Peru, Uruguai, Paraguai, Equador e Bolívia, só com grande relutância abri­ram as suas portas aos evangélicos, ao passo que as Igrejas evangélicas do Brasil se multiplicavam de maneira surpreendente.

Chegam as Primeiras Bíblias: Coube às Sociedades Bíblicas Americana e Britânica a honra de fazer entrar na América Latina as primeiras Bíblias, no começo do Século XIX. A distribuição de Bíblias foi feita lentamente, até que surgiram bravos colportores, homens capazes e entusiastas que devotavam tempo integral no trabalho de venda e distribuição das Escrituras. Não poucos deles foram alvo de ataques, perseguições e prisões por parte de sacerdotes católicos. Alguns deles são lembrados hoje como apóstolos da causa da liberdade religiosa em seu país. Entre os quais se destacaram Penzotti, no Peru, e Tonelli, no Brasil. Não poucos desses homens sofreram o martírio como preço da nobre causa que abraçaram.

James Thomson: Um dos mais famosos colportores desse período de pioneirismo, foi James Thomson, cuja coragem e amor Cristão o levou a percorrer toda a extensão da costa ocidental da América do Sul e atravessar a América Central, o México e a área do Caribe, levando uma Bíblia debaixo do braço. Thomson destacou-se não só como um colportor e educador Cristão, mas também como um ardoroso evangelista. Suas cartas enviadas à Inglaterra, sua pátria, revelam seu interesse e hipotecam confiança no futuro das Igrejas evangélicas da América Latina.

Contam-se nos relatos que muitas Igrejas foram estabelecidas mediante o testemunho exclusivo de algum leitor da Bíblia, que compartilhava com outros da realidade de sua descoberta da verdade divina lendo a Palavra de Deus. Muitos têm dito que o padrão era claro e simples: primeiro aparecia uma Bíblia, depois um convertido, e a seguir, uma igreja.

F. C. Glass, um dos colportores pioneiros do Brasil, asseverou: "Em dezenas de lugares onde vendi os primeiros exemplares das Escrituras que o povo via pela primeira vez, existem fortes Igrejas atualmente... Na maioria dos casos, quase invariavelmente, primeiramente aparecia a Bíblia e depois o pregador, excetuando aqueles casos em que o colportor era também o evangelista; noutros casos, a Bíblia e o pregador surgiam ao mesmo tempo. Não me lembro de uma única instância em que a Bíblia tenha surgido em segundo lugar. Falando por experiência pessoal, portanto, devo dizer que se alguém quiser abrir uma nova área, a primeira coisa a ser feita é enviar alguém munido de uma Bíblia".

XXXII - IMPLANTAÇÃO DE IGREJAS NO PRINCÍPIO

Dentre os primeiros fundadores de igrejas na América Latina, destaca-se o médico presbiteriano escocês, Robert Reid Kalley. Kalley tem sido chamado de "apóstolo da ilha da Madeirara', porque estabeleceu muitas congregações evangélicas naquela ilha, e distribuiu três mil cópias da Bíblia, preparando o caminho para a criação de um ministério completo ali.

Expulso da ilha da Madeira por perseguição religiosa, Kalley veio para o Brasil, onde começou um eficiente trabalho missionário a partir de 1855. Não obstante perseguido também no Brasil, seu ministério produziu frutos maduros desde os primeiros momentos. Antes de retirar-se do Brasil, em 1876, Kalley havia implantado Igrejas no Estado de Pernambuco, em Niterói, e no Rio de Janeiro. Foi Kalley quem a 19 de agosto de 1855, na cidade de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, organizou a primeira Escola Dominical no Brasil. O hinário intitulado Salmos e Hinos, que continua em uso em muitas Igrejas de língua portuguesa; é uma espécie de homenagem ao Dr. Kalley, pois mais de cinquenta hinos ali contidos foram escritos por ele. Sobre Kalley, alguém escreveu: "0 apóstolo da ilha da Madeira exerceu um apostolado de proporções mais vastas e em uma área muito maior do que os limites de uma diocese em uma ilha. As delimitações de sua província de testemunho Cristão e de serviço evangélico não estavam determinadas pela geografia, mas obrigatoriamente coincidiram com aquelas áreas esparsas e longínquas onde o português era o idioma falado. Quão grande é a dívida a um homem pelo povo que partilha de uma língua comum".

A Liberdade é Estabelecida: No começo do Século XX, a liberdade de culto era estabelecida. Tornou-se possível o desenvolvimento desembaraçado das Igrejas. Os primeiros dezesseis anos do Século XIX marcaram um novo tipo de crescimento para as jovens igrejas evangélicas da América Latina. Foram anos de transferências de missionários estrangeiros para o interior do continente, enquanto que, os trabalhos fundados eram passados às lideranças de valorosos obreiros nacionais.

Primórdios Pentecostais: As Igrejas pentecostais de maior expressão da América Latina, tiveram um começo comum: os avivamentos que varreram regiões da América do Norte e da Europa.

A Assembleia de Deus, que forma hoje a maior denominação evangélica da América Latina, atribui as suas origens ao monumental reavivamento da rua Azuza, em 1906, na cidade de Los Angeles, da Califórnia. Gaxiola Lopes, escreve a história pentecostal do México, dizendo que essa Igreja tem suas origens também no reavivamento da rua Azuza.

A Congregação Cristã no Brasil também deve seus primórdios ao avivamento da rua Azuza. Segundo a história dessa Igreja, foi em Chicago que Luis Francescon recebeu a experiência pentecostal do batismo com o Espírito Santo, e então ele e um companheiro partiram para o Brasil em 1909. 0 resultado dessa viagem foi o estabelecimento da Congregação Cristã no Brasil, destinada a tornar-se a segunda maior Igreja evangélica do Brasil. Na Argentina, a Assembleia de Deus começou mais ou menos no mesmo tempo, e embora muito menor que a Assembleia de Deus no Brasil, é hoje uma das maiores denominações pentecostais naquele país.

As notícias do avivamento ocorrido na rua Azuza, em 1906, sem demora atingiram diferentes regiões do mundo, estendendo-se até a Índia. 0 pastor Willis C. Hoover, ministro da Igreja Metodista que trabalhava no Chile, recebeu uma carta de um conhecido seu que trabalhava na India, através da qual explicava os efeitos da experiência pentecostal na vida de muitos conhecidos seus num posto missionário na India. Por essa razão, Hoover assistiu um culto numa Igreja em Chicago, onde teve a experiência do batismo com o Espírito Santo. Através dele as chamas do fogo do Espírito Santo foram lançadas nos campos do Chile.

Outros exemplos revelam começos semelhantes entre Igrejas pentecostais da América Latina, o que resultou numa nova dimensão da expansão da Igreja. Estas igrejas têm se antecipado ao tempo e ao progresso, de sorte que hoje, onde chega o progresso através de estradas, escolas e comunicações, ai há sempre uma Igreja pentecostal saudando-os bem-vindos.

XXXIII - PRIMÓRDIOS DA IGREJA EVANGÉLICA NO BRASIL

Já muito cedo na história do Brasil, temos notícia de pessoas evangélicas aqui. Pelo ano de 1530, por exemplo, vivia em São Vicente, Estado de São Paulo, um escrivão chamado Heliodoro Hessus, filho de Eobano Hessus, amigo de Martinho Lutero. Mais conhecido ainda, tornou-se o nome de Hans Staden, um luterano amigo de Hessen que, pelo ano de 1550, viveu por algum tempo no Brasil. Tais notícias foram confirmadas pelo padre José de Anchieta que relata ter encontrado em São Vicente defensores de ideias luteranas.

Chegada dos Huguenotes no Rio de Janeiro: O vice-almirante francês Nicolau Durand de Villegaignon, ouvindo falar das maravilhas das terras do Brasil, recém-descobertas, com o apoio do almirante Gaspar de Coligny, conseguiu de Henrique II, rei da França, dois navios equipados com víveres, e munido de artilharia, partiu em rumo às terras que tanto ambicionava.  Nessa expedição, Villegaignon não teve o devido cuidado na seleção dos homens que o acompanharam, o que resultou numa grande conspiração dos seus homens contra o vice-almirante. Debelada a conspiração, 16 dos conspiradores foram executados.

Informado do parcial fracasso da expedição chefiada pelo seu protegido, o próprio almirante Coligny, arregimentou e chefiou a segunda expedição formada por 300 homens, e mais três navios. Entre os tripulantes dos três navios, havia 14 Cristãos huguenotes de renome, chefiados por Filipe de Gorguilarai. Havia também dois pastores cujos nomes são: Pierre Richier e Guilhaume Chartier. Outros nomes de Cristãos que integravam a comissão dos catorzes, são os seguintes: Pierre Bourdon, Mathieu Varneuil, Jean du Bordel, André La-Fon, Nicolas Denis, Jean de Gardien, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmau, Jacques Rosseau, e o historiador da expedição, Jean de Leri.

Após quatro meses de viagem, da França ao Brasil, a expedição chegou ao porto do Rio de Janeiro no dia 7 de março de 1557. Villegaignon recebeu festivamente os Cristãos, pois estes mereciam sua confiança e neles estava a esperança de êxito da conquista desta parte da América.

0 Primeiro Culto Realizado no Brasil: O desembarque dos huguenotes deu-se no dia 10 de março de 1557, e no mesmo dia realizou-se o primeiro culto em terras brasileiras. Dirigiu o culto, o pastor Pierre Richier, que pregou baseado no versículo 4 do Salmo 27. Na ocasião foi cantado o Salmo 5. Onze dias depois, ou seja, no dia 21 de março de 1557, domingo, organizou-se a primeira Igreja evangélica do Brasil, oportunidade que foi aproveitada para celebração da Ceia do Senhor. O vice-almirante Villegaigon foi o primeiro a participar da Ceia do Senhor, entretanto, mais tarde traiu e perseguiu os Cristãos. Por sua ordem foram executados Jean de Bourdel, Mathieu Vèrneiuil e Pierre Bourdon. Por esta ação, os historiadores passaram a chamá-lo de "Caim da América". Também no dia 20 de janeiro de 1567, quando eram lançados os fundamentos da cidade do Rio de Janeiro, por ordem de Mem de Sá, com a assistência do Padre José de Anchieta, foi executado Jacques le Balleür, Cristão chegado ao Brasil na expedição chefiada por Villegaigon.

XXXIV - IGREJAS LUTERANA E METODISTA

Igreja Luterana: A primeira Igreja Luterana chegou ao Brasil com os alemães, que emigraram para o Sul do Brasil, por volta de 1800. Representando o tipo de Protestantismo confessional, era um ramo excluído da Igreja oficial da Alemanha.

Nas Igrejas luteranas todos os nascidos na Igreja são batizados na infância. Durante quase sessenta e cinco anos, os cultos das Igrejas luteranas foram celebrados em alemão. Porém, nestes últimos anos, passaram a ser efetuados também em português. Muitas Igrejas estão abandonando completamente o idioma alemão nos seus cultos.

Extensão da Igreja Luterana no Brasil: Os luteranos alemães dividem-se em três sínodos: o sínodo do Rio Grande do Sul, que abrange a parte meridional de Santa Catarina e todo o Estado do Rio Grande do Sul; o de Santa Catarina e Paraná, e o sínodo do Brasil Central, que inclui o Rio de Janeiro, Petrópolis, Nova Friburgo, Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Juiz de Fora, São Paulo, Rio Claro, Santos e Campinas.

Até 1945, a maioria dos pastores provinha da Alemanha, porém, a partir desse ano o elemento brasileiro da Igreja, tomou a iniciativa de ter um ministério nacional. Daí resultou o estabelecimento, em 1946, de um seminário em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para preparar luteranos brasileiros para o pastorado das Igrejas.

Administração e Constituição da Igreja Luterana: Os órgãos administrativos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), estão assim distribuídos:
a) Concilio Eclesiástico;
b) Conselho Diretor;
c) o Presidente da Igreja, eleito pelo Concilio Eclesiástico com mandato de oito anos.

A nova constituição da Igreja Luterana, prevê quatro unidades eclesiásticas:
1) a Paróquia, composta de uma ou mais comunidades;
2) o Distrito Paroquial, composto de determinado número de Paróquias,
3) A Região Eclesiástica, sobre cujo número e delimitação decidirá o Concilio Eclesiástico,
4) a Igreja.

Simultaneamente com a centralização, a constituição da Igreja Luterana prevê uma descentralização. As diferentes regiões onde se encontram as paróquias, são presididas por um pastor superintendente, de tempo integral, que exerce as suas funções de guia espiritual não só em virtude de sua eleição pelo Concilio Regional, mas simultaneamente, em nome do Conselho Diretor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, devendo ser pessoa de confiança do mesmo.

Igreja Metodista: Os Metodistas marcam o início de sua obra no Brasil, em 1835, quando o Rev. Foutain E. Pitts, foi enviado à América do Sul em viagem missionária, e como observador, nas principais cidades do continente.

Primeiros Esforços Missionários Metodistas: Em março de 1836, o Rev. Justin Spaulding foi designado como o primeiro missionário metodista ao Brasil. Seus esforços iniciais na implantação de Igrejas foram encorajadores e de grande êxito. Assim sendo, escreveu à sede de sua missão na América, pedindo reforço missionário. Foi então que em 1837, o Rev. D.P. Kidder, que possuía um pouco de conhecimento da nossa língua, veio ao Brasil, viajando por vários Estados como colportor, visitando São Paulo, Bahia, Pernambuco e Pará. Em 1840, em razão do falecimento de sua esposa, em companhia de um filho menor, Kidder teve de voltar para os Estados Unidos. Justin ficou no Brasil até 1841, quando se esgotaram os fundos missionários.

Extensão da Obra Metodista no Brasil: Os Metodistas do Sul dos Estados Unidos, após sofrerem os anos difíceis da Guerra Civil, conseguiram em 1874, comissionarem J. Newman na qualidade de missionário episcopal metodista do Sul, para o Brasil. Em 1876 foi enviado o Rev. J. J. Ranson, do Concilio de Tenessee, também como missionário metodista ao Brasil. Trabalhou no Rio de Janeiro, São Paulo e Piracicaba, até 1886.

Em 1886, o Bispo Granbery, um dos líderes do Metodismo na América, fez uma famosa visita ao Brasil. Nessa época havia três casais de missionários trabalhando no Brasil. A missão já contava então com sete igrejas organizadas, seis pregadores brasileiros, três missionários (pregadores itinerantes), 219 membros comungantes, 164 alunos da Escola Dominical e três prédios, onde funcionavam as Igrejas.

Em 1930, a Igreja Metodista do Brasil foi organizada com sua própria constituição e estatutos, e com um plano de cooperação entre a Igreja Metodista do Brasil e a Igreja Metodista dos Estados Unidos.

A obra missionária Metodista localizou-se nos maiores centros urbanos do Brasil, por exemplo: Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Juiz de Fora, Piracicaba, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Brasília. Historicamente, a Igreja Metodista tem sido agente de uma grande expansão, onde quer que se tenha organizado, contudo ela tem sofrido limitações, pelo fato de ainda não ter adquirido uma visão nacional da obra, se deixando levar muito pela influência missionária estrangeira do princípio.
XXXV - IGREJAS BATISTA E PRESBITERIANA

Igreja Batista: O primeiro pregador Batista a trabalhar no Brasil, foi um missionário norte-americano que chegou ao Rio de Janeiro em 1859, mas que por problemas de saúde se viu forçado a voltar à sua pátria em 1861.
O segundo esforço Batista em terras brasileiras se deu entre colonos norte-americanos, que viviam em Santa Bárbara, próximo a Campinas, Estado de São Paulo. Dentre esses colonos, um grupo de Batistas fundou a 10 de setembro de 1871 a Igreja Batista de Santa Bárbara. Uma segunda Igreja foi fundada em janeiro de 1879. Os ofícios do culto eram celebrados em inglês, a língua dos colonos, limitando-o, portanto, aos próprios colonos. Não demorou para que essas Igrejas deixassem de existir.

Primeiros Missionários Batistas no Brasil: Embora a primitiva Igreja Batista de Santa Bárbara não fosse uma Igreja missionária, ela manifestou ideal missionário, e provou isto quando em carta escrita à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, apelava no sentido de que fossem enviados missionários ao Brasil. Foi Assim que o primeiro casal de missionários, William Bagby e Ann Luther Bagby, foi enviado a trabalhar no Brasil.

Chegando no Rio de Janeiro, William e Ann seguiram de imediato para Santa Bárbara, onde com a ajuda do ex-padre católico, Antônio Teixeira Albuquerque, agora convertido ao Evangelho, adquiriram as primeiras noções de português, e bastante informação sobre a gente e costumes do Brasil. Menos de um ano depois, chega a Santa Bárbara outro casal missionário Batista, Zachary e Kate Taylor. Bagby e Taylor logo empreenderam uma longa viagem pelo interior do Brasil, a procura de melhor lugar onde fincar as primeiras estacas da obra Batista em nossa pátria.

Fundação da Primeira Igreja Batista Brasileira: Após visitar diferentes regiões do Brasil, e após demorado período de oração, Bagby e Taylor, decidiram-se pela cidade de Salvador, capital da Bahia, onde com cinco membros fundadores, William e Ann Bagby, Zachary e Kate Taylor, e Antônio Teixeira de Albuquerque, em 15 de outubro de 1882 organizaram a Primeira Igreja Batista da Bahia, portanto, a primeira Igreja Batista Brasileira.

Igreja Presbiteriana: Ashbel Green Simonton, enviado pela Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América do Norte, chegou ao Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859. Na chegada, Simonton pregou nos barcos da baía, e fez amigos entre colonos norte-americanos e ingleses do Rio de Janeiro. Oito meses após sua chegada, a 12 de abril de 1860, organizou uma Escola Dominical com a assistência de apenas cinco crianças. Em maio de 1861, Simonton deu início à sua primeira série de sermões, e a 12 de janeiro de 1862 recebeu duas pessoas por profissão de fé, como os primeiros membros da Igreja Presbiteriana em solo brasileiro. Nesta data Simonton deu por fundada a Igreja Presbiteriana no Brasil.

Qualidades de Simonton: O diário do Rev. Simonton, que se encontra na Biblioteca da Comissão de Relações Ecumênicas de Nova Iorque, o apresenta como um homem de qualidade afável, portador de dons incomuns, de coração e espírito inflamado pelo zelo evangélico, e de denodado amor pelos brasileiros. Após mais de dez anos de frutífero ministério no Brasil, Simonton contraiu a febre amarela, vindo a falecer aos trinta e quatro anos de idade.

Alexandre Blackford: Alexandre Blackford, cunhado de Simonton, viera para ajudar na obra, chegando ao Brasil a 25 de abril de 1860. Cooperou com Simonton no Rio de Janeiro, de onde partiu para o Estado de São Paulo para aí fundar igrejas. Deus abençoou o seu trabalho. Blackford viu organizarem-se três Igrejas, antes de voltar para o Rio de Janeiro, a fim de assumir o pastorado da Igreja Presbiteriana, após a morte de Simonton. Outros missionários vieram ajudar, cooperando com o pequeno grupo de fundadores de igrejas. Entre esses se destacaram, Schneider e Chamberlain. Nesse período, fundaram-se igrejas no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, em Pernambuco e em Minas Gerais.

Dificuldades e Divisões: De 1883 a 1903 a Igreja Presbiteriana teve um período de dificuldades e divisão, dificuldades assinaladas pela morte de valorosos missionários que serviam à causa no Brasil. Foram eles: George Thompson, J.W.Dabney, Carrie Cunningham, Pinkerton e James Dick, todos com menos de trinta e cinco anos de idade.

A primeira e principal divisão sofrida pela Igreja Presbiteriana, deveu-se principalmente à campanha feita pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira, para a remoção de missionários estrangeiros dos Presbitérios e do Sínodo da Igreja, após 1888. Em 1889, a questão da Maçonaria veio juntar-se à controvérsia. Iniciou-se o debate quando um leigo, o Dr. Nicolau Soares do Coutro Esher, afirmou que os Cristãos tinham liberdade de manter suas relações com a Maçonaria. O Rev. Eduardo Carlos Pereira assumiu posição oposta. Daí resultou uma controvérsia cada vez mais crescente na nova igreja, que culminou com a divisão no seio da Igreja Presbiteriana, formando-se a Igreja Presbiteriana Independente.

XXXVI - A ASSEMBLEIA DE DEUS

Os historiadores que se ocupam com o estudo do avivamento pentecostal do nosso século (XX), são unânimes em mencionar Azuza Street, em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos, como o centro irradiador de onde o despertamento pentecostal se espalhou por outras cidades e nações.

Dentre as grandes cidades americanas que foram visitadas pela influência do avivamento pentecostal, se destaca a cidade de Chicago. Enquanto o avivamento conquistava terreno e dominava a vida religiosa da cidade, fatos de alta importância estavam acontecendo também nas cidades vizinhas, entre dois jovens, que ficaram intimamente ligados à história da Assembleia de Deus no Brasil. São eles: Gunnar Vingren e Daniel Berg.

Gunnar Vingren: Em Menomiee, Michigan, morava um jovem pastor Batista, que se chamava Gunnar Vingren, nascido em Ostra Husby, Ostergöthand, Suécia, em 8 de agosto de 1879. Atraído pelos acontecimentos do avivamento em Chicago, Vingren foi a essa cidade, a fim de certificar-se da verdade. Ante a demonstração do poder Divino testemunhado, o jovem pastor creu e foi batizado com o Espírito Santo,

O Encontro Com Daniel Berg: Pouco tempo depois, Gunnar Vingren participava de uma convenção de Igrejas Batistas, em Chicago, onde conheceu outro jovem que se chamava Daniel Berg que também fora batizado com o Espírito Santo. Daniel Berg nasceu na aldeia de Vargön, na Suécia, onde viveu até a idade de dezessete anos. Os dois jovens trocaram ideias e chegaram à feliz conclusão que Deus os guiava para a obra missionária; restava saber onde.

Algum tempo depois, Daniel Berg foi visitar Gunnar Vingren. Nessa ocasião, em uma reunião de oração na casa de um irmão de nome Adolpho Ulldin, através de uma mensagem profética, Deus falou ao coração de Gunnar Vingren e Daniel Berg, que partissem a pregar o Evangelho em terras distantes. 0 lugar para onde deviam seguir foi mencionado na profecia, como sendo o Pará. Eles não sabiam onde ficava essa região, mas após consultarem mapas, verificaram que se tratava do Brasil.

Rumo ao Brasil: Gunnar Vingren e Daniel Berg, despediram-se da Igreja e dos irmãos em Chicago, e com uma pequena ajuda financeira e orações de irmãos e amigos, a bordo do navio Clement, partiram a 5 de novembro de 1910, da cidade de Nova Iorque, para Belém do Pará. Quatorze dias depois, isto é, a 19 de novembro do mesmo ano, os dois missionários desembarcaram na cidade de Belém. Não possuíam eles, amigos ou conhecidos nessa cidade. Não traziam endereço de alguém que os encaminhasse a algum lugar. Vinham encomendados unicamente à graça de Deus, e tinham a protegê-los o Deus de Abraão. Sentados num banco da atual Praça da República, em Belém, fizeram a primeira oração em terras brasileiras.

Chegada ao Brasil: Por insistência de alguns passageiros com os quais viajaram, Gunnar Vingren e Daniel Berg hospedaram-se num modesto hotel, cuja diária completa era de oito mil réis. Em uma das mesas do hotel o irmão Vingren encontrou uma revista que tinha o endereço do pastor Metodista Justus Nelson. No outro dia procuraram esse pastor, e graças à sua ajuda Vingren e Berg foram levados à Igreja Batista de Belém, quando foram apresentados ao responsável pelo trabalho, evangelista Raimundo Nobre. Logo os missionários passaram a residir numa das dependências do templo daquela Igreja.

No mês de maio de 1911, mais ou menos seis meses após a chegada de Vingren e Berg ao Brasil, falando um português de nível regular, Vingren teve a sua primeira oportunidade de dirigir um culto a pedido dos diáconos da Igreja Batista. Vingren leu alguns versículos que tratavam da obra do Espírito Santo no crente, enquanto os diáconos abriam suas Bíblias para conferir se o que Vingren lia estava correto. Aparentemente eles ficaram contentes com o que Vingren dizia, de sorte que o convidaram a continuar dirigindo os cultos das noites seguintes, durante uma semana. Pela maneira extraordinária com que Deus operou, ao longo daquela semana, batizando com o Espírito Santo e curando enfermos, Vingren foi advertido. Quanto a isto escreve o próprio Gunnar Vingren: "Todos os demais que tinham vindo da Igreja Batista creram então que isto era uma obra de Deus, todos menos dois, o evangelista (Raimundo Nobre) e a mulher de um diácono... Na terça-feira seguinte ele (Raimundo) convocou os membros da Igreja para um culto extraordinário e não permitiu que o pastor falasse. Ele (o evangelista) somente disse: "Todos os que estão de acordo com a nova seita, levantem-se". Dezoito irmãos se levantaram e foram imediatamente cortados da comunhão da Igreja.

"Estes dezoito irmãos saíram então da igreja Batista para nunca mais voltar. Isto aconteceu no dia 13 de junho de 1911", (Gunnar Vingren, Diário do Pioneiro, pág. 33).

Consumada a Exclusão: Consumada a exclusão, o pequeno grupo de dezoito irmãos, convidou os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg para dar-lhes a necessária orientação espiritual naqueles momentos decisivos da vida. Foi assim que, juntos, no dia 18 de junho de 1911, à Rua Siqueira Mendes, 67, na cidade de Belém, deu-se a fundação da Assembleia de Deus no Brasil.

Repercutiram profundamente, entre as várias denominações evangélicas, os acontecimentos que culminaram com a fundação da Assembleia de Deus. Essas denominações se uniram para combater o Movimento Pentecostal. Quem ler os livros "Gunnar Vingren, 0 Diário do Pioneiro" e "Enviado Por Deus - Memórias de Daniel Berg", há de conscientizar-se que duras e injustas foram as perseguições e injúrias sofridas pela Assembleia de Deus no princípio. Perseguições injustas, mas nem sempre inúteis.

Progresso no Interior do Estado: Não obstante as perseguições e dificuldades sofridas, as boas novas do Evangelho e o ardor pentecostal espalhavam-se pelo interior do Estado do Pará com tanta rapidez, como se fossem conduzidos por asas de anjos velozes. Fortes trabalhos surgiram da noite para o dia aqui e ali, numa demonstração incontestável de que essa obra nascera do rio das intenções de Deus. Enquanto Gunnar Vingren concentrava maior parte de seus esforços com a obra em Belém, Daniel Berg, com infatigável labor, visitava o interior do Estado distribuindo exemplares das Sagradas Escrituras e pregando o Evangelho transformador.

Separados os Primeiros Pastores: Antes do trabalho haver completado dois anos, a falta de obreiros já era sentida em várias localidades onde se estabeleceram igrejas e congregações. Foi assim que, por orientação Divina, o missionário Gunnar Vingren separou no mês de fevereiro de 1913, Absalão Piano, como o primeiro pastor da Assembleia de Deus no Brasil. 0 segundo foi Isidoro Filho, o terceiro foi Crispiniano de Melo, o quarto foi Pedro Trajano, e o quinto foi Adriano Nobre.

O Espírito Missionário da Igreja: Haviam se passado apenas dois anos desde que a Assembleia de Deus iniciara suas atividades, e já iniciava as suas atividades 173 missionária, enviando a 4 de abril de 1913, o pastor José Plácido da Costa como missionário a Portugal. Era essa a primeira demonstração viva e prática do espírito missionário ao estrangeiro, de uma Igreja que contava apenas dois anos de organização.

A Chegada de Reforços: A partir de 1914 outros missionários foram chegando a Belém. Nesse ano chegou o missionário Otto Nelson. Em 1916 chegou Samuel Nystron. No dia 21 de março de 1921, chegou a Belém, vindo da América do Norte, o missionário Nels Nelson. Muitos obreiros nacionais de indescritível valor, surgiram nessa época, os quais fizeram da cidade de Belém o ponto catalizador de esforços para expansão da Assembleia de Deus e do Movimento Pentecostal em todo o Brasil.

Expansão da Assembleia de Deus: Quando Gunnar Vingren deixou Belém, no mês de abril de 1924, de mudança para o Rio de Janeiro, a Assembleia de Deus já era uma realidade presente nas principais cidades do interior do Pará e em algumas capitais de Estados e Territórios brasileiros. As possíveis datas e respectivos fundadores das Assembleias de Deus em algumas capitais brasileiras, constam do livro: "História das Assembleias de Deus no Brasil", compilada por Emílio Conde, e editados pela CPAD – Casa Publicadora das Assembleias de Deus.

Pastor Jorge Albertacci
Volta Redonda – Rio de Janeiro
www.jorgealbertacci.com.br
www.prjorgealbertacci@yahoo.com.br
BIBLIOGRAFIA
CPAD – HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática, uma perspectiva Pentecostal.
CPAD – Dicionário Bíblico Wycliffe.
CANDEIA – Enciclopédia Bíblica e Filosofia R.N.Champlin Ph,D.
CPAD – Lições Bíblicas EBD.
CPAD – Pr. Raimundo de Oliveira - Seitas e Heresias.
EETAD – Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus.
Robert C. Waton – História da Igreja em Quadros.
CPAD – Os Pais da Igreja – Hans Von Campenhausen.
CPAD – John Fox – O Livro dos Mártires.
CPAD – Eusébio de Cesareia – História Eclesiástica.
Vida Nova – Walter A. Elewell – Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã – Vol. III.


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